A MENINA QUE CATAVA FEIJÃO

A mãe juntava lenha, acendia o fogo, punha água a ferver e mandava o menino no armazém comprar meio quilo de feijão. O menino chegava, a mãe despejava o feijão numa mesa tosca e mandava a menina catar o feijão. A menina sentava num banco tosco e se punha a separar, feijão furado pra lá, gravetos e casquinhas pra lá, feijão bom pra cá. E a menina, fazendo serviço de menina, brincava de mal pra lá e bem pra cá. O mundo girou, a vida mudou. A mãe morreu, o menino morreu, a menina envelheceu. Hoje ela compra feijão bom, empacotado e limpinho. A menina não cata mais feijão. Hoje ela cata pessoas: mal pra lá, bem pra cá, mal pra lá, bem pra cá...

(Oneida Resende)

Oneida Resende
Enviado por Oneida Resende em 21/06/2015
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