A MENINA QUE ENCANTAVA COGUMELOS
A menina amava jardins e pela primeira vez, de tanto mudar de casa, finalmente foi morar numa casa que tinha um jardim. Era minúsculo, mas ele passou a ser seu paraíso no tempo que ali morou. Enquanto todos se aplicavam na lida, os irmãos, crianças mais velhas no trabalho, o pai num lugar perfumado onde cortava os cabelos e tirava as barbas dos homens, a mãe com suas crianças pequenas, na sua limpação e lavação, ela , a do meio, ficava solta e ia buscar companhia no imaginário. Tinha a mania de sentar no chão e ficar descobrindo as vidas que havia no jardim. Foi assim que achou os cogumelos. Certo dia ela fixou os olhos e o pensamento num cogumelo com a intenção de hipnotizá-lo. E ele ia virando guarda-chuva, príncipes de histórias de fadas, vidros de perfume, tudo que a menina mandava. Noutro dia, ela quis provar o sabor dos cogumelos e viu que eles não tinham gosto bom. Nesse dia, a menina ficou encantada e o seu jardim se transformou numa grande floresta, as minhocas ficaram gigantes e as joaninhas viraram monstros. Quando voltou a si estava em sua cama, uma vela acesa sobre a mesa e rodeada pelos irmãos que choravam baixinho, o pai, a mãe, um médico e um padre. Parecia ser a primeira vez que ela existia. A menina, emocionada com a cena, então perguntou: - Vocês também comeram cogumelo?
(Oneida Resende)