Relatos do Caminho do Herói #2

O carro deu partida às 15 horas. Levava dentro de si dois homens, uma ambição, uma certeza e uma falsa mentira. Eu não era nenhum dos viajantes, ouvi a história narrada aqui através da voz do homem ambicioso.

Este era um jovem apresentador de um canal de videos, apaixonado pelo tipo humano, dotado de uma desinibição absoluta e capaz de arrebatar o coração de milhões de fãs e dos que vendiam a esses fãs. Tentou alçar voo na televisão por influência dos patrocinadores, mas falhou e tornou-se o símbolo de uma juventude que enriqueceu sem produzir nada duradouro. Seu canal foi parodiado, e do nome " O Espetáculo Sem Cerimônia" fizeram " O Espetáculo do Parasita".

Chamava-se Mestre de Cerimônia na época dos videos, e continuou a usar esse pseudônimo durante a viagem no carro, depois durante o período em que promoveu o Templo em um novo canal de vídeos, e posteriormente quando assumiu a função de mestre de cerimônias desta arena de lutas.

Um adendo, aqui. O método escolhido para divulgar os textos talvez gere uma certa confusão, afinal será postado por etapas em uma rede social, logo, entre duas postagens cabem centenas de outras, talvez até milhares. Quem se sentir confuso com termos e nomenclaturas do texto, deixo o link abaixo para as outras partes. Dessa vez, no caso, para a primeira parte.

Outro adendo, procurei seguir, na escrita, o estilo poetico e grandiloquente do narrador. Perdoem os excessos de adjetivos ou formas adjetivadas.

Retomando a narrativa, agora volto-me para o segundo passageiro do carro. Decidira dirigir o veículo, porque queria ter controle absoluto do caminho. Se recusava a ser levado. Havia uma sinbologia em guiar a máquina e todos que dependiam dela em direção a algum lugar. E ele aprendeu, durante o período em que fora mochileiro, que os símbolos importam. Por isso estava indo pessoalmente encontrar o último membro da futura Mesa Diretora do Templo. O terceiro e último encontro que faria antes de isolar-se numa névoa de nomes famosos e promessas de riqueza que camuflariam a grandiosidade do plano, enquanto este não era real o suficiente para sustentar-se sob os holofotes que certamente incidiriam sobre a estrutura.

O combustível que levava o carro e seus passageiros para o último encontro era uma falsa mentira, contada por Tánato ao Mestre de Cerimônia, sob a forma de uma promessa de recomeço. Meia porque não era nem mentira nem recomeço. De fato, Tánato queria o sucesso astronômico do Cerimônia para temperar o programa com sabores de espetáculo, além de poder contar com um excelente e carismático animador. Claro, tudo isso viria a dar ao Templo um aspecto de entretenimento. Tampouco o Mestre de Cerimônia precisava de um recomeço; nascera na internet, onde tudo começa e termina antes mesmo de ser surgir.

A paisagem ficava cada vez mais introspectiva e sombria a medida que se afastavam das estradas oficiais e adentravam o chão batido, cada vez mais distantes das confusas luzes do progresso. A mansão para onde se dirigiam os dois homens era parte de uma grande propriedade rural, comprada com uma fortuna construida em combates ferozes ao redor do mundo. Pertencia a uma tradicional família de lutadores.

O carro parou diante de um portal de madeira bem entalhado e preservado. Trazia inscrições de nomes, e uma frase acompanhando o arco superior: "Só há certeza após o último suspiro". Tánato sorriu, Cerimônia acompanhou. O carro adentrou a propriedade do Espantalho.