Relatos do Caminho do Herói #1

Gostaria de começar essa narrativa declarando que sinceramente não sei por que fui escolhido para escrever essa história que se desenrola na minha frente. Vejo-a tão claramente quanto vejo meus dedos pressionarem as teclas. Não posso intervir, entretanto; ainda que eu a tenha criado, de certa forma ela se impõe a minha vontade. Não posso mudar os fatos.

No que diz respeito aos fatos, estes datam a atualidade, a era espetacular digital. A afirmação dos valores tecnófilos que caminham na vanguarda, a passos de gigante. Convergência, globalização. Mas no cantinho escuro que habita os becos e vielas da alma, cresce a superstição. Quem ainda sonha em conquistar o mundo? Conquistá-lo é enfrentar o imprevisível monstro do amanhã. Ele está na beira do penhasco que está no horizonte. O mundo está voltando a ser plano e sombrio.

Dispensei as aspas para criar um texto mais coeso, mas preciso ressaltar que boa parte deste ultimo parágrafo foi transcrito das palavras de um sujeito que se denominou Tánato. Ele é alguém que surgiu a partir de uma infinidade de referências vindas das mais diversas formas de artes e dúvidas, que convergiram para uma pergunta bastante comum: qual o limite da razão?

Aqui, uma observação. Não me refiro a razão que se vincula a racionalidade, mas a razão que vem da certeza. Estar certo, ter razão, esse sentido.

Tánato planejou tudo. Absolutamente tudo. Sabia o que deveria ser dito a cada um que recrutava para o grande empreendimento, maquinado durante o período em que fora mochileiro. A mim, disse que eu registraria um fato que o mundo jamais veria acontecer, porque não passava de uma mera permutação de memórias e devaneios, ainda assim teria medo de ver ocorrer. Eu seria a única testemunha de todo o processo de construção e aplicação do plano. Prometeu-me que eu não estaria implicado em nenhum aspecto com nada. Mentira, a primeira que Tánato me contou, certamente não a última, e tal qual todas as vezes que ocorria, cumpríamos uma encenação de confiança mútua.

A ideia era construir uma grande arena de lutas no topo de uma torre construída para abrigar mentes criativas em um ambiente feito para estimulá-las a criar soluções para os problemas do mundo. A arena se chamaria Templo e a torre se chamaria Torre das Miragens.

O insano projeto foi a melhor forma que Tánato encontrou para enfrentar o fato de ter visto quando e porque o mundo acaba.

Encerro por aqui. A narrativa será fragmentada, sinto muito por dificuldades de acompanhar. Dependo exclusivamente da minha memória (por que não visual) para narrar esses fatos. Os cortes serão feitos numa tentativa de encerrar a descrição num ponto neutro, que acabe em si mesmo. Nem sempre conseguirei, entretanto, o que não será de todo ruim, pois será a chance de gerar um pouco mais de curiosidade e ansiedade pelas próximas palavras a descreverem essa história. O erro será a propaganda acidental da narrativa.