ahh!
Tem sempre um caminho que pego quando volto para casa. Num dia, eu resolvi mudar. Fui voltando por uma vila, mas algo meio estranho começou a acontecer. De repente, na medida em que me aproximava; as casas, as cortinas e os armazéns iam se reduzindo. O mais estranho é que eles simplesmente não sumiam ou diminuíam numa célere desenfreada. Eles primeiro ganhavam uma forma geométrica, ficando contorcidos, ganhavam novos detalhes que não se via antes neles a olho nu, só depois sumiam vagarosamente. Essa lógica é estranha, é proporcionalmente estranha. Por que as coisas não somem logo de uma vez? Por que resistem ao fim mostrando ser quem não eram? Por que viver eternamente suspendendo temporariamente uma sentença de morte? Eu me aproximei, mas era inválida a aproximação. Não sabia se ali era vila ou era caminho. Não sabia se já tinha passado pela vila e se o caminho já tivesse acabado. Fiquei parado e logo comecei a evidenciar o embranquecimento do ambiente e o surgimento de um nevoeiro logo na minha frente. Eu chutei uma pedra em direção ao nevoeiro que tornava opaco o restante do caminho, mas a pedra desapareceu no ar sem qualquer explicação razoável. Agora eu estava perdido no meu caminho. De um lado, o embranquecer apagava os passos, e todo o caminho percorrido, do outro, o nevoeiro cobria tudo que poderia ser evitado pelo olho e, se possível, evitaria tornar tudo mais doloroso.
A vida é assim, um completo devaneio sobre amor e morte. Um medo de sua sentença chegar. Um medo de me perder.