Sobre um Deus qualquer
NA HORA DO NASCER do sol em que as cores criam vida, com as nuvens atingidas pelos raios laranja avermelhados, e o céu se ilumina, aquecendo e dando boas vindas a todos que saem de suas casas para o trabalho ou ao caminho de mais um dia de aula, naquela hora é que ele gostava de caminhar, invisível a todos, com passos cadenciados e olhar distraído.
Parecia distraído, mas nada passava cem que notasse. Nesses momentos do dia ele relembrava o começo de sua longa vida e via os erros que cometeu e as vitórias que conquistou.
Fora um deus todo poderoso, tivera muitos filhos e muitos seguidores. Mas agora na era de um só deus e sem mais nenhum seguidor, só lhe restava viver enfraquecido pela eternidade a fora. Mas não reclamava disso, percebia agora que todos têm o seu tempo até mesmo os deuses.
Como sentia falta de seus filhos favoritos, os grandes heróis que tudo faziam para ter um único olhar do pai. Muito do mal que perseguia os homens foi derrotado desta forma. É claro, com uma ajudinha dele, mas de um jeito que não desfavorecesse o heroísmo dos garotos.
Ah... Em sua época de juventude tinha a mulher que quisesse, sendo deusa ou mortal, tinha certa fraqueza pelas mortais. Os tempos que lutou com as forças da natureza para poder governar sobre todos. O instante em que criou o primeiro homem e, mais importante ainda a primeira mulher, nela colocou muitas qualidades. Os momentos em que teve que tomar grandes decisões, já se perdem pelo tempo.
Ainda se perguntava se a vida eterna era um privilégio ou uma maldição, e ria internamente pela ironia de tudo aquilo.
E agora apenas caminhava por ali, naquela rua de paralelepípedos e nada mais!