Kora Ross. Parte 1

- Está na hora! Disse Retny, uma mulher alta e impecavelmente esbelta que exalava beleza e sedução em cada passo que dava. Usava um vestido negro que ia até os pés e em certas partes estava rasgado, dando um toque ainda mais sombrio à mulher. As pontas do vestido negro eram desfiadas e seu corpo era firme. As unhas grandes e afiadas brilhavam como faíscas quando eram pressionadas umas com as outras. Seu rosto era perfeito e sua atração era tanta, que qualquer mortal que lhe observasse ficava hipnotizado e lhe concedia o que ela pedisse, até mesmo sua vida. Claro, isso quando ela queria seduzir alguém para conseguir o que queria.

Retny estava na beira de um penhasco bastante alto, onde a grama era morta e o vento era gelado, e no horizonte havia apenas trevas. A alguns metros antes da beirada do penhasco, havia uma casa grande. Era negra e de andar com várias janelas de vidro. Todas fechadas e tampadas pela metade, com uma cortina velha de cor vermelho-bordô interior. Logo antes da entrada principal, havia dois grandes lobos de porcelana sobre o gramado sem vida, direcionados um para o outro, como quem estivessem guardando a entrada da casa. Da beira do precipício, Retny olhou para os lobos e apontou sua mão em direção à eles e do seu dedo indicador saiu uma fumaça negra, como se a fumaça estivesse se contraindo pra dentro e pra fora. A fumaça, ao chegar até os lobos de porcelana negros, os fez se transformarem em homens e em segundos estavam de pé caminhando até Retny. Eram fortes e altos com roupas de escuridão. Como se a fumaça negra fosse sua própria roupa e ao caminhar ela se mexia fazendo parecer que tinha vida.

Os dois pararam logo atrás dela e aguardaram em silêncio o que ela tinha a dizer.

- Llorc, vá buscar a mensageira em Shimmed. E tendo Retny dito isso, Llorc deu as costas aos dois e se foi, caminhando pela estrada solitária e estreita que permitia a passagem entre as arvores grandes daquele lugar até a casa. Ao outro, Retny lhe deu a ordem de entrar no portal que ela abriria para ele ir à dimensão de outro mundo, e assim ele o fez. Retny, ao abrir o portal e antes que Tralyck entrasse, lhe instruiu com a voz firme:

- Traga ela sã, e mate todos que entrarem em seu caminho. Não deixe que ela escape. Você tem apenas uma chance porque se você falhar da primeira vez, os protetores dela avisarão os outros e então chegar até ela, será bastante trabalhoso. Ele concordou com ela sem dizer nada.

- Vá! Ela ordenou, alisando o queixo de Tralyk com uma de suas unhas, e se afastou. O homem forte de olhos negros pulou para dentro do portal redondo e amarelado que a bruxa invocou, e sumiu em um piscar de olhos.

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Era o entardecer de uma sexta-feira frienta, 02 de fevereiro de 2003. O clima frio de Fresno, Califórnia, obrigava as pessoas à usarem casacos felpudos constantemente, e nunca uma xícara de café era o suficiente para aquecer o corpo. Não era comum os habitantes da cidade conviver com aquele frio intenso que de repente, aparecera invadindo cada rua, esquina e bairro. Robert Ross acionou o pisca-alerta indicando que iria virar à esquerda, e depois que o volante voltou para a sua antiga posição, girou novamente para a direita onde Robert parou em frente da sua garagem. Pressionou um botão pequeno e vermelho no chaveiro que enfeitava a chave do carro, que abrira o portão da garagem da casa nova onde se mudara já fazia algumas semanas. Após estacionar o carro dentro da garagem, puxou o freio de mão que fez um estralo, desligou o motor e retirou a chave da ignição. Sua esposa, Kinsey, retirou o cinto de segurança e desceu do veículo juntamente com Robert e Kora, a filha mais nova do casal que estava no banco de trás. Kora foi até uma porta branca lateral da garagem onde abria caminho para a cozinha. Segurou a maçaneta com os dedos finos e brancos, e a forçou para baixo até ouvir o gancho se deslocar. Ela a deixou aberta, e o cheiro de casa nova foi lentamente penetrando a garagem. Robert pressionou novamente o botão vermelho do chaveiro que estava em suas mãos e o portão da garagem, com um pequeno ruído quase inaudível, fechou-se. Abriu o porta malas e Kinsey pegou algumas sacolas de compras, e Robert pegou outras que ficara para trás. Os dois discutindo sobre o clima frio de Fresno, o que era muito estranho pelo fato da cidade ser calorosa por quase todo o ano, se dirigiram até a porta lateral por onde Kora acabara de passar.

- Mas mudando de assunto: o que sugere que façamos em relação ao aniversário da Kora, amor? Perguntou Kinsey pondo as compras em cima do balcão de mármore cinza-escuro da cozinha, e vasculhando com os olhos o corredor que dava caminho para a sala de estar procurando Kora.

- Um jantar. Afirmou Robert com o resto das compras ainda nos braços.

- Um jantar? E quem a gente convidaria, hum? Disse Kinsey recolhendo do colo do marido as compras. – A gente ainda nem conhece ninguém aqui. Ela foi retirando dos sacos de papel latas de atum, caixas de cereais, embalagens de aveias, chocolate em barra e dois refrigerantes diet.

- Bom... Robert cruzou os braços e se encostou no armário marrom de parede atrás de si que ficava de frente para o balcão. – Tem o Billy Wills e sua esposa. É Gynna o nome dela? Kinsey riu sem hesitar e sem forças para guardar os cereais no armário de cima por conta dos risos, teve de esperar as risadas passar.

- Primeiro que, você falou com ele duas vezes: no lava-jato antes de ontem quando pôs o carro para ser lavado, e hoje no mercado quando estávamos no caixa.

- Hum rum. Concordou Robert lhe olhando ainda de braços cruzados e fazendo bico com os lábios.

- E segundo: Billy Wills nem é o nome dele. É Alex Tweener. Ela terminou a frase olhando pra ele, com as sobrancelhas levantas e as mãos no ar como quem fosse ser abordada pela polícia. Então, guardou os cereais.

- Alex Tweener? Ele forçou os olhos como quem estava querendo avistar um pequeno objeto à longa distância. – E como você sabe de tudo isso? Um sorriso apareceu nos lábios de Kinsey, que acabara de guardar o último refrigerante diet na geladeira e fechando a porta, veio em sua direção. Encostou seu corpo ao dele e apoiou uma de suas mãos em seu peito, e a outra em sua nuca, e lhe beijou.

- Velhos hábitos nunca morrem. Disse ela com uma piscadela e um riso sussurrado.

Olicas
Enviado por Olicas em 06/03/2015
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