A LIÇÃO DAS VERRUGAS

Grandes árvores se enfileiram pela orla da estrada, tão altas que mal pode-se ver as suas copas. A distância entre a casa de Misael e a escola é bem grande, todos os dias ele caminha algumas horas por este trajeto, levando consigo sua mochila com o material escolar e um pequeno lanche preparado com muito carinho pela sua mãe, também às mãos uma vara de arbusto para afastar algum possível animal que lhe trespasse o caminho.

Enquanto caminha, ele olha para trás constantemente, observando se o carroceiro de leite que vai em direção à aldeia onde fica a escola vem chegando, com a intenção de pegar uma carona, e vai conversando com o seu coração, que lhe diz como está feliz por ele fazer o que é certo, indo a escola, e aprendendo coisas maravilhosas a cada dia. Procura pensar em outra coisa quando lembra dos dois Irmãos que moram mais a frente, cuja casa já se aproxima e que fica após a próxima curva, numa pequena colina, que além de não frequentarem a escola, também fazem-no passar por maus momentos, zombando e fazendo troça das verrugas que lhe apareceram pelo corpo e que, até o momento, não houve remédio que o curasse. Chegam ao ponto de esperá-lo todos os dias para acompanhá-lo por alguns metros fazendo zombaria de muito mal gosto, dizendo motejos ofensivos. Misael aperta o passo deixando para trás aqueles dois fanfarrões, seguindo em frente pensando apenas nos bons momentos que viriam quando chegasse a escola, em sua professora e nos bons amigos de sala de aula.

Mais alguns metros a frente passa pela casa de Dona Sofia, uma senhora símples, sábia e muito bondosa, que ouve o escárnio dos dois Irmãos e que sempre o espera para dar-lhe bons conselhos e ensinar-lhe sobre o perdão, porém desta vez, ela lhe fala de um sonho que tivera na noite passada quando um anjo lhe confidencia sobre um dom que nascera com ela e que ela ainda não havia manifestado, e que poderia já de imediato ajudar ao menino Misael.

- Pôxa, Dona Sofia! Que coisa boa, um anjo falou com a senhora em sonho. E como poderá me ajudar? Perguntou o menino.

- Venha comigo, entre aqui que vou lhe mostrar. Sente-se nesta cadeira, cerre os olhos e pense num lugar muito bonito onde você gostaria de estar neste momento.

Assim o fez e em alguns segundos começou a sentir seu corpo um pouco mais quente e a curiosidade abriu-lhe os olhos. A senhora estava também de olhos cerrados e sussurrando algumas palavras, como se orasse, seu espanto foi ainda maior quando olhou para ela e viu que uma tênue luz lilás contornava as suas mãos.

- Pronto, agora vá! Disse Dona Sofia. Não deixe de voltar aqui amanhã para continuarmos.

E assim se passaram os sete dias da semana, todos os dias o menino passava na casa da senhora e recebia seus dons, as orações e a luz lilás de suas mãos, de graça, da mesma forma como havia recebido de Deus. Era, de novo, segunda-feira e Misael chegou correndo e ofegante na casa daquela bondosa senhora.

- Dona Sofia... Dona Sofia... Gritava Misael. Venha ver... venha ver... as minhas verrugas, Dona Sofia, sumiram. Foram as suas orações, não foram? Suas orações durante a semana e aquela luzinha nas suas mãos... eu vi... eu vi! Será que foram elas que me curaram?

- Meu filho, disse a senhora, quem cura é Deus, nós apenas pedimos a ele que nos use como uma ferramenta. Eu creio que as suas verrugas se foram, para sempre! E tenho outra coisa para lhe dizer... é sobre os Irmãos da velha casa da colina.

- O que houve com eles? Perguntou Misael.

- Bem, contaram-me que o mesmo problema que aconteceu com você... as verrugas... apareceram neles também, e numa quantidade muito maior, tanto que eles nem estão saindo de casa com vergonha de suas aparências. Isso, meu filho, é outra coisa que devemos aprender nesta vida, é algo que se chama de Ação e Reação e da atração, são as consequências de nossos atos, e tudo que nos afeta, de algum modo foi provocado por nós, foi atraído por nós. No caso dos dois irmãos, eles acabaram contraindo o mal que provocou aquele seu pequeno problema, de tanto o tocarem na estrada quando o esperavam para zombarem de você. Mas graças a Deus, isso é reversível, mas será uma lição para aqueles dois, eu tenho ido lá na casa deles e ajudado, da mesma forma que o ajudei.

E algum tempo depois, passados mais de um mês, Misael dirigia-se pela estradinha em direção a sua escola como sempre fazia, e após a curva os dois irmãos finalmente deram as caras. Ficou aguardando para ver o que aconteceria, pois já não tinha mais verrugas, mas aqueles dois eram imprevisíveis. Por um momento um silêncio interminável se fez, ficaram-se olhando alguns segundos e então o mais velho dos irmãos se pronunciou:

- Oi Misael, soubemos que você ficou bom, a Dona Sofia também lhe ajudou não foi?

- Sim! Respondeu ele ainda na expectativa do que viria daqueles dois.

- Nós também ficamos muito mal com aquelas verrugas, e se não fosse Dona Sofia nunca mais sairíamos de casa de novo.

- Veja, disse o outro irmão. Nós estamos indo para a escola também, podemos ir com você?

- Claro! Respondeu Misael... sorrindo aliviado...

Paulo Maurício Regent

A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina.

André Luiz

Para cada ação há uma reação igual e oposta. Você recebe do mundo o que você dá ao mundo.

Gary Zukav