O Pintagol de Beatriz

Contaram-me, mas eu não apurei, que um canário quando se enamora de um pintassilgo, jamais aceita outro amante. É amor eterno! Não há canário belga, dos Açores, ou canário-da-terra-brasílis, que consiga obter novamente o seu amor. (Deus me livre de me apaixonar por um pintassilgo!)

Do cruzamento do canário com o pintassilgo nasce uma ave mais bela do que os seus pais: o pintagol. Seu canto é doce, persistente, alegre e vivaz. Quando ele canta parece que mil pássaros invisíveis a ele se juntam.

Beatriz possui um pintagol. Ele vive solto pela casa, saltitando ou se exibindo em pequenos vôos até se empoleirar no ombro dela.

Todos os dias de manhã, ele canta para acordá-la. Enquanto ela não desperta, ele não pára a cantoria.

Ela entra no banheiro, ele fica colado à porta cantando até ela sair de lá. Quando ela retorna, meio apressada, com a toalha cobrindo-lhe o corpo até o colo, o passarinho faz uma pausa e canta mais um pouquinho em tom de agradecimento. Depois, ele fica em silêncio aguardando ansioso o momento em que Beatriz se desvencilha da toalha.

Ele voa até o criado-mudo e fica calado contemplando em detalhes aquela criatura grande que ele tanto ama. (Parece que igual fenônemo acontece ao pintagol. Quando ele se apaixona por um ser humano, esquece os outros pássaros. Pelo menos foi isso o que aconteceu com o pintagol de Beatriz.)

Beatriz tem o corpo delicado e bem feito. Seus cabelos dourados caem-lhe até os seios e seu umbigo parece um pequenino botão de rosa. O pintagol observa-a deslizando a mão cheia de creme pelo corpo. Ele ergue e abaixa a sua pequena cabeça em concentrado movimento.

E quando Beatriz puxa os cabelos para trás e as duas taças de seus seios se revelam, o pintagol reinicia seu canto, como se acabasse de ver o sol.