A Carta
Tic-tac-tic-tac... De repente, um trimmmmmmmmmmmmmmmm rompe o silêncio da manhã. Maria desperta. Tem um longo dia pela frente. Mas, assim que lembra a sua primeira obrigação matinal, sente um enorme desânimo invadi-la.
Maria é responsável pela separação das cartas de todos os moradores de uma cidadezinha do interior de Minas. Porém, após quase dez anos realizando a mesma tarefa, sua paciência já se encontra beirando o nível zero.
Enfim, após tomar um banho e um rápido café, chega ao seu destino: o posto do Correio da cidadezinha. Já na entrada, o sucesso de sua manhã é mortalmente comprometido, pois a chave emperra e ela tem que chamar o caseiro (cuja melhor qualidade, definitivamente, não é o bom humor) para arrombar.
Finalmente, instalada em sua quase confortável cadeira, ela começa a separar as cartas. No meio delas, uma lhe chama a atenção. Estava endereçada a D. Augusta, aquela do 406 que havia “batido as botas” há mais de dois anos.
Nunca havia simpatizado muito com D. Augusta, porque ela havia esticado o rabo do seu gato, Toddy (segundo testemunhas muitíssimo confiáveis).
Já ia rasgar a carta, quando a curiosidade falou mais alto. Afinal, a “velha” já havia morrido mesmo... E começou a ler:
“Querida Augusta,
Relutei muito em escrever-lhe, já que não sabia como receberia esta carta.
Hoje faz 20 anos desde o dia em que parti da sua vida, por não ter tido coragem...
Pergunto-me como estará o nosso filho. Já é um homem hoje. Pergunto-me se formou família, se cuida bem de ti.
Sabe, nunca deixei de pensar em ti, todos esses anos. A lembrança do seu carinho e do seu olhar ao se entregar a mim naquela noite nunca saiu de minha lembrança.
Sim. Você tinha razão. Eu não era digno de você. Então, resolvi escrever-lhe esta carta para dizê-la que comprei uma passagem de volta para aí. Quero olhar em seus olhos e pedir perdão por não ter tido coragem de amá-la e ao nosso filho como mereciam.
Passei 20 anos de minha vida andando sem rumo. Vagando cada dia em um lugar. Não criei raízes, não formei uma família. Não possuo nada. Além de minha alma, enegrecida pela covardia e pelo arrependimento.
Hoje, olho para trás e percebo que o que eu mais queria, era ter ficado aí com você e com nosso filho (cujo nome nem mesmo sei). Teria um emprego no Correio, como meu pai e todos os dias agradeceria a Deus por ter sempre uma casa para qual voltar. Uma esposa com os braços abertos para me acolher. E um filho do qual me orgulhar.
Quando esta carta chegar às suas mãos, estarei muito perto.
Sonho com o dia em que poderei estar à sua frente, olhando nos teus olhos e ter a oportunidade de dizer-lhe o quanto te amo. E que não deixei de amá-la nenhum dia de minha vida.
Um beijo cheio de amor,
Do sempre seu, Vicente.”
Uma lágrima molhou o papel. Era o choro de Maria. Um choro sentido, pois aquele homem nunca mais veria a sua amada. Ela morrera de tristeza, após ver seu filho Vicente ser morto à tiros por traficantes.
E pensou, que vida esta...
E pensou, também, que daquele dia em diante, não acordaria mais de mau humor. Decidiu que ergueria o rosto para que o Sol o viesse beijar. Decidiu que sentiria o abraço do vento matinal no caminho para o trabalho.
E decidiu que nunca mais, deixaria de dizer “Eu te amo”. Porque aquela poderia ser a última vez...
Tic-tac-tic-tac... De repente, um trimmmmmmmmmmmmmmmm rompe o silêncio da manhã. Maria desperta. Tem um longo dia pela frente. Mas, assim que lembra a sua primeira obrigação matinal, sente um enorme desânimo invadi-la.
Maria é responsável pela separação das cartas de todos os moradores de uma cidadezinha do interior de Minas. Porém, após quase dez anos realizando a mesma tarefa, sua paciência já se encontra beirando o nível zero.
Enfim, após tomar um banho e um rápido café, chega ao seu destino: o posto do Correio da cidadezinha. Já na entrada, o sucesso de sua manhã é mortalmente comprometido, pois a chave emperra e ela tem que chamar o caseiro (cuja melhor qualidade, definitivamente, não é o bom humor) para arrombar.
Finalmente, instalada em sua quase confortável cadeira, ela começa a separar as cartas. No meio delas, uma lhe chama a atenção. Estava endereçada a D. Augusta, aquela do 406 que havia “batido as botas” há mais de dois anos.
Nunca havia simpatizado muito com D. Augusta, porque ela havia esticado o rabo do seu gato, Toddy (segundo testemunhas muitíssimo confiáveis).
Já ia rasgar a carta, quando a curiosidade falou mais alto. Afinal, a “velha” já havia morrido mesmo... E começou a ler:
“Querida Augusta,
Relutei muito em escrever-lhe, já que não sabia como receberia esta carta.
Hoje faz 20 anos desde o dia em que parti da sua vida, por não ter tido coragem...
Pergunto-me como estará o nosso filho. Já é um homem hoje. Pergunto-me se formou família, se cuida bem de ti.
Sabe, nunca deixei de pensar em ti, todos esses anos. A lembrança do seu carinho e do seu olhar ao se entregar a mim naquela noite nunca saiu de minha lembrança.
Sim. Você tinha razão. Eu não era digno de você. Então, resolvi escrever-lhe esta carta para dizê-la que comprei uma passagem de volta para aí. Quero olhar em seus olhos e pedir perdão por não ter tido coragem de amá-la e ao nosso filho como mereciam.
Passei 20 anos de minha vida andando sem rumo. Vagando cada dia em um lugar. Não criei raízes, não formei uma família. Não possuo nada. Além de minha alma, enegrecida pela covardia e pelo arrependimento.
Hoje, olho para trás e percebo que o que eu mais queria, era ter ficado aí com você e com nosso filho (cujo nome nem mesmo sei). Teria um emprego no Correio, como meu pai e todos os dias agradeceria a Deus por ter sempre uma casa para qual voltar. Uma esposa com os braços abertos para me acolher. E um filho do qual me orgulhar.
Quando esta carta chegar às suas mãos, estarei muito perto.
Sonho com o dia em que poderei estar à sua frente, olhando nos teus olhos e ter a oportunidade de dizer-lhe o quanto te amo. E que não deixei de amá-la nenhum dia de minha vida.
Um beijo cheio de amor,
Do sempre seu, Vicente.”
Uma lágrima molhou o papel. Era o choro de Maria. Um choro sentido, pois aquele homem nunca mais veria a sua amada. Ela morrera de tristeza, após ver seu filho Vicente ser morto à tiros por traficantes.
E pensou, que vida esta...
E pensou, também, que daquele dia em diante, não acordaria mais de mau humor. Decidiu que ergueria o rosto para que o Sol o viesse beijar. Decidiu que sentiria o abraço do vento matinal no caminho para o trabalho.
E decidiu que nunca mais, deixaria de dizer “Eu te amo”. Porque aquela poderia ser a última vez...