O Parnário “amarelo”

Não muito distante de nossa imaginação estava ele, um lindo e orgulhoso canário belga, todo cheio de fartas penas, era forte e jovem, dourado como o ouro, gostava muito de cantar, e de se admirar diante de um espelho especial, vivia bem, em sua casa não lhe faltava nada, tinha roupa, comida, e todas as suas necessidades supridas.

Ainda que vivia em uma gaiola, esta lhe servia de proteção, e a porta dela sempre estava aberta, de modo que tinha liberdade e a confiança plena dos de sua casa.

Mas, na medida que ia crescendo suas asas, ele começou a pensar em como vivia os pardais, queria viver como eles, ainda que se tratava de uma espécie inferior, popular de ave, que não tem valor, podemos chamá-los de pássaro vira-lata, em comparação com os canários do reino, que tem alimento de boa qualidade, os pardais comem o que vier pela frente, são atrevidos e desrespeitosos, quase imorais, por sua vida desregrada, e sem objetividade, roubam os ninhos dos outros pássaros, invadem residência alheia, e não cantam o cântico do reino, ou seja não sabem cantar como um canário belga.

Na vizinhança todos que o conheciam o achavam educado, respeitoso, e boa gente, e até certo tempo era isso mesmo, porém não demorou muito para ele nobre como era, se aventurar em voos perigosos, acompanhando pardais vira-latas, ladrões e bandidos, além de libertinos.

Tudo começou de modo sutil, em vez de comer seu alpiste de primeira, começou a comer fora da gaiola, no chão, onde se juntavam diversos pardais, alguns não tão machos e outros não tão fêmeas, desta má associação, o canário começou a chaiar, como pardais e já não queria cantar o cântico do reino, ou seja cantar como um legitimo canário belga.

Os de sua casa notaram que ele não queria mais cantar ou já cantava muito baixo, e logo não cantava mais , apenas chaiar, ou piar, feito pardal.

O pior estava por vir, suas novas amizades chamavam ele o tempo todo, diziam: sai da gaiola, por que ficar numa gaiola, ainda que de portas abertas, se você pode voar para as baladas dos pardais badaleiros?

Por que cantar bonito se você não passa de um de nós - um pardal - ainda que amarelo? Com este discurso funesto, e com ofertas de liberdade, o canário belga foi se distanciando dos de sua casa, com voos cada vez mais altos, e comendo sementes de baixa qualidade, e até insetos, foi perdendo os bons costumes.

Os de sua casa não se conformaram de o canário já não cantar, levaram aos melhores veterinários especialistas, e até doutores de cantos do reino, mas nada deu certo, o canário de amarelo ouro, já não estava mais tão lindo, com sua fisionomia decaída, e sua visão enfraquecida.

Nem óculos para canários novos, nem lentes de contato, nada fazia o menino enxergar o buraco em que estava entrando, as más companhias, os pardais, com comportamentos distintos, levaram-no a bancarrota, em estradas imorais.

Nem conselhos, nem o espelho, que tanto ele gostava já não queria mirar, dizendo que não o refletia, espelho era apenas uma mentira, e o reflexo era irreal, por não poder palpá-lo não devíamos considerá-lo digno de atenção.

O sentimento de pardal passou-o a dominar, já não via sua gaiola dourada, limpa e perfumada, como seu doce lar, antes trocou por um gueto onde tudo se pode fazer, a suposta liberdade o colocou a perder, porem não enxergava a distinção real, de que um canário belga é diferente de um pardal.

Tal diferença se nota não apenas pelo soar, muito mais se nota pela plumagem a brilhar, o dourado e fino e nobre, e com o canto a realçar, já o pobre miserável, cinzento e fedorento, que só sabe chaiar.

Por que? Perguntam todos, tamanha tacanhice, desprezar um lar tão quentinho, numa gaiola dourada

para se aventurar num mundo desconhecido, cheio de maldade e mentiras por todo lugar.

São coisa deste sistema, pior podemos esperar, enquanto canários do reino cantam, os pardais irão suspirar, o vento e a chuva estão chegando, a tempestade será pavorosa, os que estiverem guardados com certeza cantando o reino seguramente serão resguardados.

È tempo de flores e de vida, não vamos nos acabrunhar, as escolhas estão aí, cabe cada um pensar, em que rumo levar a vida e que tipo de ceifa ajuntar.

Nem gaiola de ouro, nem espelho especial, nem alpiste fino num lar quente e fraternal, nada disso fez o canário valorizar os de sua casa, todo o contrário, elegeu os penas quebradas, os vira-latas plumosos, que com pios ruidosos desencaminhou o canário que de fino e educado, tornou-se um miserável, mal humorado em desalinho, num vexame descomunal.

O orgulho de cantar como os canários do reino, a vivacidade anterior, nada disso vai ajudar o moribundo Parnário, que não quer mudar, uma aberração inventada na mistura de um canário, com os repugnantes e imorais, que nunca serão belgas dourados mais condenados pardais.

Nota: Não temos absolutamente nada contra os pardais, neste morfo a expressão pardal e/ou pardais são apenas representativos, que o leitor use de discernimento.

By: Dead Dad