Como eu morri - Memórias de Mia

Era 1586, meus pais haviam morrido, na verdade foram terrivelmente assassinados, ninguém sabia o porque e quem teria cometido tamanha atrocidade, sozinha então decidi fugir, a vida ali naquela casa onde habitavam memorias de uma família unida e amada já não fazia mais sentido sem eles, parti da Espanha com uma enorme vontade no peito de me juntar a eles, onde quer que eles estivessem, fugi de meus pensamentos suicidas enquanto caminhava nas ruas frias de Londres, onde eu havia chegado sem planejamento algum, era uma noite fria e densa, não avistava-se se quer um gato na rua, tinha acabado de parar de chover e as ruas estavam ainda molhadas, abraçada em mim mesma atravessei uma pequena ponte arqueada até o outro lado do pequeno rio, quando de repente no meio da escuridão e solidão das ruas eis que surge um homem muito bem trajado com aparência de nobre que caminhava em minha direção, era incrivelmente belo com cabelos escuros até os ombros soltos e aparentemente macios, olhos em um tom de azul quase que transparente e boca perfeitamente desenhada, ele então chegando mais perto e parando em minha frente me disse com a voz mais sedutora possível:

- Venha comigo...

Não havia como resistir aquele pedido, minha razão no fundo temia, mas era como se eu fosse impulsionada a fazer algo contra minha própria vontade, então simplesmente caminhei até um beco escuro e gélido, ele me empurrou contra a parede e continuo a falar com sua voz rouca:

- Oque faz uma menina tão linda sozinha na rua uma hora dessas? Não tem medo?

- Meus pais morreram, eu não tenho mais ninguém, oque deveria temer?

- És uma órfã? Ao me deparar com você sozinha senti que havia algo interessante... – respondeu ele com toda a sua sedução passando sua mão levemente sobre meu rosto gelado – Está fria, quase como se estivesse morta, menina... Este é seu dia de sorte, vou lhe tirar da miséria!

E então ele olhou no fundo de meus olhos e sussurrou:

- Não tenha medo... Não grite, não se apavore e não fuja!

Eu imediatamente assenti mesmo minha razão pedindo para que eu corresse o mais rápido que pudesse, porém não me movi, ele chegou mais perto e no meu pescoço deu pequenos beijos e me pressionou contra a parede colocando uma de suas mãos sobre minha cintura e a outra sobre meu pescoço, com a respiração forte e entre gemidos senti uma enorme mordida em meu pescoço, como se uma faca tivesse sido gravada em mim, queria gritar de dor, queria me afastar, queria correr... Mas não podia, apenas fiquei inerte até que ele se afastou, com seus lábios coberto por meu sangue pude notar que seus caninos eram mais longos e pontudos que o normal, ele então levou seu braço até a boca e mordeu seu próprio pulso, e com uma das mãos sobre meu queixo, deu-me como alimento seu sangue, e serenamente pediu que eu bebesse, de forma irresistível obedeci, seu sangue era tão doce que era impossível parar, sentia minha pele arrepiar e minhas pupilas se dilatarem lentamente, ele afastou seu braço e segurando meu rosto com as duas mãos me beijou, e seu beijo era feroz e insaciável, retornou então ao olhar para mim, com toda aquela sedução, eu não fazia ideia do que ocorria naquele momento, parecia que eu estava enfeitiçada, totalmente envolvida na sua insanidade, ele voltou a beijar meu corpo, meu pescoço, e novamente senti seus dentes adentrarem minha pele, ele sugava meu sangue de forma brutal me pressionando ainda mais contra a parede, comecei a me sentir tonta, tudo começou a girar, sentia como se minha vida estivesse sendo sugada, como se minha alma estivesse abandonando meu corpo, foi então que amoleci de vez, senti meu corpo escorregar, e foi a ultima sensação em vida que tive, daquelas presas em meu pescoço estraçalhando não só meu corpo como também minha alma.