A CIDADE MORTA
Uns dizem que foi o açude que secou e outros que uma peste avassaladora matou todos os habitantes. É mais provável que a segunda alternativa é que esteja correta porque podemos ver as caveiras espalhadas entre as ruínas.
A cidade morreu e o que ficou de pé é deprimente e assustador. A cidade fantasma está lá e resiste ao vento, à chuva, ao tempo.
Senti medo, pavor mesmo a primeira vez que a vi. Vez ou outro esbarrava em ossos de crânio.
Pensei nos seres que lá viveram. Decerto tinham sonhos, anseios, medos. Eram seres cheios de esperança ou uns desesperançados?
Eram peças do grande mecanismo que é o Universo. Mas a morte os tocou de forma cruel. Exterminou-os e a cidade ficou lá, resistindo ao tempo.
Fecho os olhos e não vejo mais as ruínas. O que vejo são meninas correndo nos seus vestidos de chita, vestidos encardidos e rotos. Meninos de calções, meninos barrigudinhos; cabelos mal cortados e queimados pelo sol. Vejo mulheres carregando baldes na cabeça, um filho sob o braço e outro na barriga e homens voltando da lida.
Vejo a chaminé vomitando fumaça, panelas fumegantes de feijão e só. O que vejo é um povo sofrido lutando pela sobrevivência e corpos contorcendo-se de dor. Espasmos e gritos. Vejo a morte chegando à pequena cidade.
Vejo moças correndo para vomitar e moços tropeçando pelos quintais e a morte varrendo tudo.
São fantasmas o que vejo e já não me assustam. Sei que existiram e se foram...