PÉ DE JACA
PÉ DE JACA
TESTEMUNHA DE UM PEDIDO DE UNIÃO EM QUE OS ENAMORADOS COM O FOGO E A PAIXÃO DO INÍCIO DE UM LONGO ROMANCE, O PÉ DE JACA, VIU, OUVIU E SENTIU O CLAMOR OFEGANTE DE SEU DONO COM PÉ NAS SUAS TERRAS, SUBINDO PELAS ENTRANHAS ATÉ CHEGAR NO CORAÇÃO PALPITANTE DE EMOÇÃO PELA LOURA QUE VEIO LÁ DAS TERRAS DAS REGIÕES CENTRAIS DO BRASIL PARA O NORDESTE CALIENTE E COM CHEIRO DE MARESIA.
AH SE MEU PÉ DE JACA FALASSE, ELE DIRIA:
- VI, OUVI, SENTI E CALEI... TUDO SEI E NADA DIGO, SÓ O TEMPO DIRÁ. EU ESTOU AQUI, FORTE, DIVIDIDO EM DOIS, UNIDOS PELO MESMO TRONCO. MEU FRUTO DOCE, SABOROSO, QUE SERVE DE ALIMENTO AOS QUE ALI PASSAM, SEJA GENTE, SEJA GADO, MAS TODOS SAEM SACIADOS, PELO DOCE E SUCULENTO FRUTO QUE VEM DAS PROMESSAS DE AMOR, DA TERRA AMADA, DO SOL, DA CHUVA, DA LUA, DAS ESTRELAS, DOS PLANETAS E DO INFINITO.
TODO DIA E TODA NOITE, PASSAM-SE OS DIAS, PASSAM-SE OS ANOS, GRAÇAS A DEUS, EU CONTINUO AQUI, ATÉ QUANDO, NÃO SEI, MAS ESTOU. MUDO COM OS ANOS, DEVAGAR, QUEM ME VIU, QUEM ME VÊ, SABE DISSO, MAS ME SINTO MAIS FORTE, COM MAIS SABEDORIA, MAIS ALEGRE, MAIS VERDE, MAIS TUDO.
NO MEU PEQUENO MUNDO, EM QUE A MÃE NATUREZA, DA ONDE VIM E PARA ONDE VOU, ME ENCANTA E ME ALIMENTA COM O NASCER DO SOL, COM O VENTO, COM A CHUVA, COM O POR DO SOL, COM A LUA, COM AS ESTRELAS; VOU VIVENDO ALIMENTADA PELO CALOR E A ALEGRIA DAQUELES QUE POSSO DAR O QUE TENHO PARA DAR, SEM EGOÍSMO, ESTOU AQUI. SEJA PARA ABRIGAR, SACIAR, OUVIR SEGREDOS...
SERVIR DE ASSENTO OU DE ESCADA PARA QUEM QUER ENXEGAR LÁ DE CIMA, VER MAIS ALTO, ENXEGAR LÁ EM BAIXO O RIO QUE CORRE, O CARRO QUE PASSA LÁ NA ESTRADA DE CHÃO, O GADO QUE VAI LONGE, O CAVALO QUE CAVALGA TROTANDO SEM PARAR AO CHAMADO DO SEU DONO. VER ALÉM, COMO SE VISSE LÁ DO OUTRO LADO, OUTROS POVOS, OUTROS MUNDOS.
O QUE MAIS GOSTO É DO VENTO. ELE ASSANHA MEUS CABELOS TÃO VERDES E POSSO MUDAR DE PENTEADO. UMA FOLHA QUE CAE, PORQUE JÁ CUMPRIU SUA MISSÃO, DÁ LUGAR A OUTRA QUE ESTA DESPONTANDO. MINHAS SEMENTES TAMBÉM VÃO SE SOLTANDO, NEM TODAS VÃO GERMINAR, MAS SEI QUE ALGUMAS HÃO DE VINGAR, E DEIXAREI PELO CAMINHO DO TEMPO, MEUS HERDEIROS. QUANDO EU ESTIVER VELHINHA, ESTARÃO ALI PARA CONTINUAR A MINHA MISSÃO: VER, OUVIR, SENTIR, CALAR E DAR PRAZER PARA QUALQUER SER VIVENTE.
NÃO POSSO ME ESQUECER DOS PÁSSAROS, DAS ABELHAS, DAS FORMIGAS. FAZEM PARTE DO CENÁRIO. ME ALEGRAM, CANTAM, REPRODUZEM, FAZEM CÓCEGAS. BRINCAM E SAEM CORRENDO E VOLTAM UNS, VOLTAM OUTROS. AH, MEU DEUS! COMO É BOM TER OPORTUNIDADE DE VIVER DE SENTIR E PRESENCIAR O QUE SINTO, MESMO SENDO UM PÉ DE JACA, ÀS VEZES DISCRIMINADO, POR QUEM NÃO ENTENDE, O SABOR SUCULENTO E ADOCICADO DE UM GOMO, SOMENTE UM GOMO DE JACA.
ANA AMÉLIA
Conto publicado no livro BELEZAS DA PARAIBA - Poesias e Contos - Câmara Brasileira de Jovens Escritores - Janeiro, 2011 - 1ª Edição