O AMOR ENTRE ANAEL E AMANDA.

Foi meteórico. Num passe de mágica eles estavam apaixonados. Sabe essas coisas de amores inexplicáveis? Amor à primeira foto? Pois foi assim mesmo! A foto foi a culpada, ou melhor, a foto proporcionou aquele arrebatamento; aquela paixão repentina; aquele desejo de querê-la, de possuí-la e amá-la eternamente. E olha que Anael não era afeito a ter esses desequilíbrios emocionais.

Rapaz certinho, consciente de seus deveres, levava uma vida comum às pessoas normais e, dificilmente, estava propenso a dar liberdades ao coração. Dizia, em rodas de amigos que, se apaixonar ardentemente por uma pessoa que mal conhecia era, no mínimo, falta do que fazer. Isso era inadmissível! Nunca lhe passara pela cabeça sair de sua rotina e ter, por exemplo, sua vida mudada, simplesmente, por nela ter entrado uma estranha que lhe causasse desassossego na alma ou mudasse seu dia-a-dia.

Mas, isso aconteceu. E tudo mudou em sua vida. Foi assim:

-Oi, boa noite! Vi sua foto e você não me sai do pensamento. Melhor: sua foto não me sai do pensamento - dissera Anael para Amanda ao ver, no site, a foto da mulher por quem ele estava, conscientemente, ardendo em desejos. É claro que isso só fora possível porque ele pegara o seu e-mail e o adicionara ao seu Messenger e ficara esperando que ela entrasse na Internet e buscasse algo no dito site de bate papo, para poder travar o primeiro diálogo.

Tinha reservado todo seu estoque de coragem para esse encontro.

Do outro lado, a pessoa que digitou suas primeiras palavras procurou ser educada, mas deixou transparecer emoção com aquele encontro inusitado, e com o que aquele estranho tinha acabado de lhe dizer.

- Olá, boa noite! Eu vi a sua proposta de me adicionar, olhei a sua foto, avaliei seu perfil e por estranho que pareça, consenti - disse-lhe Amanda, como retribuição ao elogio feito na primeira frase de Anael. - Entretanto, algo me chamou a atenção em você. Não sei lhe dizer ainda o que foi ou o que é, mas, por outro lado, tenho a sensação de que já o conheço; que já o vi antes. Estranho isso, não? - completou Amanda.

Esse foi o primeiro diálogo entre os dois: breve, porém cheio de insinuações, em seu final, por parte de Amanda. Marcaram outras entradas. E assim os dias se passaram. Idas e vindas ao Messenger, conversas até altas horas da noite; aprofundamento de idéias; compartilhamento de pontos comuns; insinuações íntimas; colocações explícitas de paixões; confluências de opiniões; desejos aflorados, enfim, a certeza de que eles tinham se encontrado para viver um grande amor.

A cada conversa, o clima era renovado por toques de sensíveis palavras e trocas de frases carinhosas, como se fosse possível acariciar o teclado e nele transmitir o suave encontro das mãos na pele de quem estava do outro lado. E por mais que a razão dissesse não, Anael sentia, de fato, o calor de Amanda por entre seus dedos, tomando conta do seu corpo.

Numa das noites, enquanto estavam conversando, Anael não se agüentando mais de desejos, digita para Amanda que não está mais conseguindo dormir direito, pois seu pensamento sempre está voltado para ela, que ela vive dentro dele. Escreve que é impossível ficar sem conhecê-la, pessoalmente, e que sua vida só tem razão se for fundida a dela.

Do outro lado, Amanda sentiu um calor invadir seu ser e põe-se a digitar, freneticamente, frases explícitas de paixão, de desejo, de amor. Sim, dissera ela: “você vive em mim, já faz parte de mim, do meu dia-a-dia e, por mais que eu não queira, você permanece, aqui dentro, me aquecendo, me dando forças, me protegendo contra os estilhaços, plantando em mim sorrisos de felicidade e fazendo do meu porto seguro, um raio de sol.”

“Lindo! Linda!” - dissera ele ao ler a mensagem vinda dela. Estava concretizada mais uma história de amor, que se fosse há tempos outros, seria impossível de acontecer. Porém, os tempos da globalização permitiam essa mágica e, agora, duas pessoas também se apaixonavam virtualmente, inaugurando uma nova maneira de amar.

Mas, se o coração, através da emoção, permitia a paixão por uma pessoa que só se conhecia através de mensagens – ditas instantâneas –, o senso lógico, racional, dizia que o percurso para a completude do côncavo e do convexo se fazia necessário através do encontro real. Sabia que, ao vivo, em carne e osso, poderia ou não, confirmar toda aquela loucura sentimental.

E assim, como a esperar esse momento, na ansiedade de que virtual e real sejam uníssono, Anael discorre o encontro, tomado de sonhos e fantasias, enquanto seu versejar pobre de rimas declama as parcas letras de uma prosa erótica: “... e você vem ao meu encontro / deixando o contraste da luz a meu favor / vestida com uma rosa apenas / trazendo em cada mão um lenço de seda / e nos lábios um sorriso de sedução”.

 





Obs. Imagem da internet


Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 24/05/2007
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T499639
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