UM HOMEM, SEU DESTINO
Bate um sino.
O homem e seu destino.
Ele caminha a esmo.
Amassa um cigarro.
Dá um pigarro.
Examina a mão escurecida da nicotina.
Olha o padre sem batina.
Resmunga algo.
E segue.
Tropeça num degrauzinho do calçamento.
Outro xingamento.
E continua seguindo.
Sorri um sorriso murcho pra um transeunte que o cumprimenta.
Uma criança se aproxima.
Olha-o.
Ela quer brincar, mas vendo-o tão emburrado nem tenta.
Ele segue.
Pára numa praça. Senta num banco.
E pensa.
Estou acabado.
Sou um calçado abandonado.
Chega uma jovem e ao seu lado se senta.
-- Como está o senhor?
-- Mal.
-- Por que mal?
-- Não vê? Sou um caco...
Ela aponta o céu azul, uma bela árvore, uma ave voando.
Aponta uma flor rosa desabrochando.
E aponta um mendigo que come um naco de pão quase deitado.
-- A vida é bela. O senhor está bem trajado, vê-se que é bem tratado. Reclamar é um pecado.
Sé então ele repara nos seus olhos tremendamente azuis.
Parecem duas estrelas num rosto translúcido.
Ele descansa a mão num braço que inexiste.
Sorri em vez de ficar triste.