O Incrível Mundo de Halgor | Capítulo I – Um anjo na floresta

Eloise e César, um casal jovem e apaixonado. Ela, uma feiticeira de 20 anos e ele, um mago de 21. Dois camponeses que não fazem prática de feitiços ofensivos. O único utilizado por eles é chamado de frutiferi uma espécie de magia que faz com que todas as sementes plantadas germinem com belos frutos e mais rápido do que o normal.

Eles caminham por alguma bela floresta do leste a procura de sementes para suas plantações. Enquanto Eloise vasculha o chão, com uma cesta bege em uma de suas mãos, César sobe em uma árvore com poucos frutos.

- Eloise, veja só! – Com uma das mãos ele ergue a fruta – Parece ser deliciosa.

- Parece mesmo!

Os cabelos ruivos de César brilham sobre a luz do sol, e seus olhos de cor esmeralda parecem estar mais intensos.

- Agora desça já daí e me ajude a encontrar sementes.

- Tudo bem minha rainha. – Ele sorri.

César joga algumas das poucas frutas no chão para depois pegá-las. Então salta da árvore.

- Vamos levar essas conosco. É uma raridade encontrar árvores com frutas em Vaughan, e além do mais, são muito belas. Só espero que você não coma todas antes de chegarmos em casa. – César gargalha.

- Como ousa? – Ela também gargalha – Eu apenas gosto muito de degustar algumas frutas, só isso.

- Se para você degustar é comer cinco delas após o almoço, tudo bem! - Outra gargalhada.

Eloise bate com as palmas das mãos no peito de César e sorri.

- Pare com isso! – Diz ela.

-Tudo bem. Prometo não comentar mais... – Ele é interrompido por Eloise.

- Xiu! – Ela encosta o dedo indicador nos lábios de César – Escutou isso?

- Escutei o quê?

- Um choro – Ela olha para sua direita – Acho que vem dali.

- Pois eu não escuto nada.

- Se você calar a boca escutará.

Por um pequeno momento César também escutou o barulho. Pareceu ser de um bebê. Eloise corre na direção em que estava olhando.

- Venha!

- Aonde você vai? Me espere! – Ele a segue.

Não muito longe dali, no canto de uma árvore sem fruto algum, há uma cesta muito parecida com a que Eloise carrega suas sementes, só que dentro há um bebê.

- Pelos Deuses! Uma criança! – Eloise parece estar espantada.

- Mas como? Quem poderia ter a deixado aqui? – O camponês olha para os lados.

- Não sei César, mas é tão bela.

- Deixe-me ver – Ele abaixa para espiar – É linda mesmo!

Ele o pega no colo fazendo com que o pequenino engolisse o choro. Seus olhos azuis e cabelos tão escuros como a noite encantaram o jovem rapaz.

- Olá! – Ele sorri.

- Não podemos deixá-lo aqui, é perigoso.

- Mas e se alguém estiver atrás dele? Digo... Ele deve ter pais...

- Ele está abandonado e sozinho na floresta – Eloise franze a testa – Se alguém realmente se importar com ele irá procurá-lo.

- Digo isso porque sinto um feitiço de proteção em volta dele, alguém que não se importe com uma criança não iria fazer isso. E feitiços de proteção são feitos somente por grandes magos ou feiticeiras.

- Então espero que a pessoa que aplicou esse feitiço nele use algum outro para encontrá-lo, porque a criança vai conosco. – Com um sorriso, Eloise acaricia a cabeça da criança.

O casal parece estar feliz em encontrá-la, mas César ainda demonstra preocupação sobre o paradeiro de seus pais.

- Não se preocupe César, ele está mais seguro agora conosco.

No braço do bebê há uma pulseira que parece ser de prata, onde há também uma pequena placa, do tamanho da unha de um homem, pendurada. Está escrito Halgor.

- Veja querida – Ele cutuca Eloise – Está escrito Halgor.

- Acredito que seja o nome dele – Ela observa Halgor por alguns segundos – Esse será seu nome.

- Temos que ir agora. Já está ficando tarde. – Alerta o camponês olhando ao redor.

Eloise assentiu.

O casal arruma Halgor na cesta, o enrolando com os panos que ali estão, e então partem.

•••

Caminhando floresta a fora, Eloise e César encontram sua carroça, com a madeira desgastada pelo tempo e com dois cavalos de cor marrom para guiá-la. Eles sobem nela, arrumando a cesta de sementes e frutas no canto e a do bebê sobre o colo de Eloise. Com as rédeas em suas mãos, César guia os cavalos de volta para casa.

Durante o caminho eles trocam algumas palavras, soltam risadas e dão alguns pedaços da fruta que César encontrara para Halgor comer, que parecer estar com muita fome.

Chegando em casa, ao descer da carroça, o estomago de César faz um barulho tão alto que Eloise gargalha.

- Logo mais sirvo o jantar. Enquanto isso, domine os monstros que habitam seu estômago.

- Não consigo, eles são mais fortes do que eu. – Ele coloca as mãos sobre a barriga.

A linda camponesa de traços delicados abre a porta de madeira de sua casa. A maioria dos móveis também são feitos de madeira. No canto esquerdo, perto da lareira, é possível ver alguns vasos feitos de barro, uma casa simples, com pouquíssimas decorações e sem nenhuma pintura, assim como a de qualquer um que more em Avalon, terra do sul.

Eloise coloca a cesta de Halgor sobre sua cama, acende a lareira e logo vai para a cozinha preparar o jantar em seu forno a lenha.

- Farei sopa de legumes hoje, César. Ainda temos alguns na dispensa. – Diz Eloise enquanto meche em suas panelas de ferro.

- Eu amo sua sopa de legumes.

Enquanto ela prepara sua deliciosa sopa, César vai tomar banho.

Halgor está sozinho no quarto dentro da mesma cesta em que foi encontrado. Enquanto movimenta suas pequeninas mãos, raios de luz parecem sair delas e o garoto ri. Em seguida Eloise caminha até o quarto para ver o motivo das risadas e logo vê as belas luzes. São inofensivas e pairam sobre o ar, aparecem e somem como vagalumes. Ela não esboça nenhuma reação, admirada com a beleza das cores que ali estão. Um sorriso escapa de seus lábios e logo todas essas luzes desaparecem. Ficou óbvio que Halgor carrega em seu sangue a linguagem de mago, e provavelmente uma linhagem muito poderosa.

Após esse feito, ela retira o garoto da cesta e o carrega para a cozinha. César já saiu do banho e se senta a mesa.

- Querido você pode segurar Halgor enquanto sirvo o jantar?

- Claro! – César o coloca sentado em seu colo.

Enquanto o camponês brinca com o garoto, Eloise coloca a panela de ferro sobre a mesa. Um delicioso cheiro se espalha por ali e César não vê a hora de poder degustar um de seus pratos favoritos. Ele então fica a lamber os beiços enquanto sua companheira o serve.

Já com a sopa em seu prato, ele coloca um pouco numa pequena colher, assopra levemente até que esteja morna e leva a boca de Halgor, que após degustar dessa maravilha, parece querer mais.

Depois de comerem e estarem satisfeitos, Eloise segura o bebê, que acabou por dormir no colo de César, e o deita sobre sua cama. O jovem camponês, cansado dos feitos do dia, está debruçado sobre a mesa, roncando profundamente.

- César, acorde! – Eloise o balança.

Assustado, ele pula da cadeira.

- Cadê nossas sementes? – Diz ele em um alto tom de voz enquanto Eloise solta uma risada.

- Você estava dormindo, querido. Vá para a cama e descanse.

César não diz mais nenhuma palavra, só se levanta e caminha até a cama, deitando ao lado de Halgor.

Com um pequeno castiçal, Eloise carrega uma vela até o quarto, colocando-a no chão e apagando sua chama. No meio de sua cama está Halgor, de um lado César e do outro sobrou um pequeno espaço onde ela teve que se encolher um pouco para caber. Daí ela percebe que suas noites de sono nunca mais serão as mesma.

Diogo de Lima
Enviado por Diogo de Lima em 29/08/2014
Reeditado em 29/08/2014
Código do texto: T4941800
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