TELEPATIA AO LUAR
TELEPATIA AO LUAR
Naquele dia, a lua estava mais linda que nunca. Emergia de fofos lençóis de nuvens e elevava-se numa mística demonstração de majestade sideral, lançando suavemente fluidos luminosos, prateando a terra.
Atraída pela beleza selênica, Míriam sai a curtir um banho de luar, cantarolando a ingênua música de uma grande estrela brasileira do Rock’n Roll, sucesso no final dos anos dourados: “Tomo um banho de lua/ fico branca como a neve/ o luar é meu amigo/ censurar ninguém se atreve/ é tão bom sonhar contigo/ ó luar tão cândido!”//… E uma cascata de sonhos vem à sua lembrança como um filme, desenrolando momentos marcantes, coloridos, musicados, próprios da fase mais significativa de sua vida, a juventude. Agora, está ali curtindo uma saudade recente, atual, de alguém que lhe deixou sem uma simples palavra de despedida, sem nenhuma explicação. Talvez a pior forma de sentir saudade, pois além desse sentimento doloroso, a dúvida, a incerteza, adicionaram-se-lhe a roubar sua paz.
A poucos passos dali, fica a pracinha onde costuma encontrar-se com amigos para um bate-papo agradável. Esteve em um grupinho, depois em outro, mas não está com disposição, nem condição psicológica para aqueles tipos de conversa, que lhe roubem aquela bela noite de luar. Não é todo dia que podemos desfrutar de um luar translúcido que purifique a alma, num banho de paz e tranquilidade. A atmosfera argêntea, que envolve a noite, transforma-a num espaço selênico abençoado pela energia de calma que transmite. Felizes os que têm o privilégio de recebê-lo como presente. Bendito seja o Criador de tanta maravilha!
Sozinha, em um banco reclinado, de onde pode beber os fluidos benéficos destilados em prata, ocorre-lhe uma divina inspiração; e um poema brota de sua alma como um rio brota das fontes: suave, tranquilo, deixando sussurrar o marulhar das águas… Os versos deslizando sobre a tela do IPAD, são pétalas de rosa escoando-se nas águas do regato. A saudade de um amor relâmpago, transforma-se em sentimento, ternura, desejos de rever, fazer retornar àqueles momentos doces que a fizeram se sentir feliz. E surge com toda a energia de seu coração apaixonado:
Por um Momento *
Mal te encontrei e estava tão feliz!
Até senti vibrar meu coração...
Entre teus braços, meu refúgio fiz.
E mergulhei na paz do teu sorriso
Do teu olhar eu fiz minha canção.
Tua mansa voz soou em meus ouvidos
Qual melodia pura de Chopin. (en)
Quanta beleza terna ela contém!
Me fez voltar a tempos bem vividos...
Mas um “adeus” fechou-me o paraíso!
***
Miriam não vê o tempo passar, mergulhada em seus pensamentos, tentando aliviar a saudade que a maltrata numa ânsia arrasadora, fazendo verter de seus olhos lágrimas cristalinas prateadas pelo luar. A branca lua faz-lhe companhia, convidando constelações estelares a piscar e enviar energia, para alegrar aquele tão sofrido coração, fragilisado pelos reveses do amor.
Atendendo ao avanço do tempo, retorna à casa e ao recolher-se, ouve o toque de um celular. Atende e qual não foi sua surpresa ao ler o conhecido número:
_ Alô!
_ Oi! Você está bem?
_ Sim. E por que não estaria? _ Responde, demonstrando indiferença…
_ Não sentiu minha falta?
_ Saiu, sem explicação… Como acha que estou me sentindo?
_ Fiz um poema pra você entender o motivo de minha partida. Gostaria de ouvir? Começa assim: “Eu tive que …”
_ Prefiro ler. Envie por e-mail. Boa noite!
***
* POR UM MOMENTO
(Maria de Jesus A. Carvalho)
(Poema publicado no Recanto das Letras)
(Participação na Antologia "Poesias Encantadas - VI) de
Luciano Becalette. )