Ocorrência em um banheiro famíliar
Gustavo chegou em casa no horário habitual, vindo do escritório.De passagem, deu um "alo" para a mulher, e foi rápido para o banheiro.Jogou no chão de ladrilhos a roupa suada, abriu a torneira de água quente e sentou-se na borda da banheira, e ficou olhando, distraído, a água caindo, após um dia duro de trabalho, ele considerava aquele , o melhor momento, e o banheiro comum, transformava-se em um oásis. O barulho da rua chegava muito suavizado ali, no quinto andar, e assim, era fácil alhear-se de tudo.Quando a água ficou batendo na metade da banheira ele entrou nela,e, arrumou-se da melhor maneira no côncavo esmaltado, e ficou aguardando que ela acabasse de encher.
O vapor da água embaçava o espelho no outro lado da parede, e o morninho do líquido escorrendo pelo seu corpo , fazia cócegas.Deixou-se ficar ali, largado, olhando em volta para passar o tempo.A brancura do azulejo a pia engastada no mármore , os metais brilhantes, o fez pensar que, um banheiro, podia ter semelhança com a frieza de um necrotério, mas, ele logo riu da sua imaginação boba.Ficou sacudindo com os pés para sentir o suave embalo da água.A água começou a escorrer pelo ladrão da banheira, mantendo assim, o nível certo para não transbordar.Seria muito fácil fechar a torneira, mas o langor que sentia não o animava a tanto.Na transparência da água, podia observar o seu corpo.Não gostava da sua barriga meio balofa, e seria certo começar o regime, sempre adiado.
Alguém bateu na porta, avisando que o jantar estavas para ser servido, e ele respondeu com um grunido.Não gostava de ser pertubado durante o banho, onde sempre sentia um misto de relaxamento mental, e uma quase excitação, difícil de explicar, mas, bom de sentir.Pela janela dava para ver uma boa nesga do céu, onde brilhava uma estrela.Era um momento especial, dentro da trivialidade de um prosaico e honesto, banheiro famíliar.Tentando não quebrar o equilíbrio alcançado começou a passar o sabonete no braço.A princípio ela não pode distinguir o barulhinho que foi se repetindo, por algumas vezes.Só depois de escutar algo, parecido com um espirro, pertinho do seu ombro. que ele tomou sentido do que podia ser aquilo.Virou-se rápido , a tempo de dar de cara , com uma criaturinha pequenina...não é possível, devo estar sonhando!
A coisinhas tentou nadar se afastando, mas ele, agindo rápido segurou aquele corpinho, e o levantou , atônito, até a altura dos seus olhos.Era uma mulherzinha, perfeita, linda.com os cabelos longos, de um verde muito forte, que repetia-se nos olhos aflitos.Gustavo tentando refazer-se do susto, perguntou, como ela havia chegado dentro da sua banheira?Inocentemente, ela respondeu que vivia ali, há muito tempo.Desde que o banheiro ficou pronto.E ele não devia ficar pertubado com isso e seria melhor que soltasse ela.Não havia mais nada a fazer, já que ele havia descoberto ela.Gustavo colocou a mulherzinha sobre o seu peito, e ela muito a vontade, sentou-se na posição de "lotus".
Mais tranquilo, Gustavo pediu esclarecimentos sobre aquele caso inusitado, e ela esclareceu que, desde o momento que o prédio ficou pronto, ela foi morar ali, pois gostava muito de apreciar a estrela no céu, aquela que aparecia pela janela.O homem encantado não parava de olhar a beleza dela, que explicava que, do lugar onde viera, não era necessário catar estrelas no céu, elas estavam sempre por toda parte.A mulherzinha não parava de falar, e, ele encantado escutava.Ela disse que já tinha estado ali, com ele, muitas vezes, mas ele a ignorava, se não fosse o espirro, seria assim.Ele jamais havia visto uma mulher tão linda e sensual como aquela, pena que eras tão pequenina.Soube que o nome dela era,Gotinha de água.Ela confessou tambem que vivia na frescura do encanamento, e só saia delá, quando a banheira estava cheia.Ele quis saber se havia algo para controlar a diferença de tamanho, e ela respondeu que não.
Novamente, bateram na porta, pedindo pressa, mas Gustavo nem respondeu.Ela começou a cantar, e ondinhas foram se formando na água que esfriava.Em dado momento ela levantou-se e riu para ele, de uma maneira que o deixou quase louco.Com um salto ela mergulhou na água e começou a nadar em círculos, e ele ia ficando maluco de ver aquilo.Por um momento ele olhou para a estrela lá em cima, e voltou a procurar na água Gotinha, e, assim ainda teve tempo de ver os cabelos verde, sumindo no ladrão da banheira.Gustavo ficou desesperado.
Depois de muito custo, conseguiram arrombar a porta do banheiro, e encontraram o homem, de bruços, olhos esbugalhados, com as mãos contraidas na torneira.O médico legista escreveu no atestado de óbito,"Apoplexia".Quando levaram o corpo, a viúva, molhada em lágrimas ,fez questão de soltar a água do derradeiro banho, com as próprias mãos, foi então que ela encontrou e guardou, com muito carinho, um fio de cabelo que ficou no fundo das banheira.Ela não entendeu o por que ele ser verde, mas, talvez fosse a química do corpo do falecido que tivesse agido e transformado a cor do fio, mas, ela não entendia mesmo dessas coisas...