Enigmático passeio pelo País da Fantasia
Todas as características de um sonho se agrupam no relato que passo a fazer. Estive em uma viagem astral, quando fui transportado para um jardim, algo como que um paraíso. Havia luz e cores em profusão, aromas e sabores mágicos, que entorpeciam meus sentidos. Criaturas míticas me receberam com animadas saudações e eu, quase fui absorvido pelo cenário. Não consigo descrever precisamente quantas ou como eram essas criaturas, mas saibam, queridos, que eram muitas e das mais variadas formas.
De algumas lembro com mais detalhes que de outras. Por exemplo, havia um doce e plumajoso cisne que ao perder sua companhia, entrou em uma estranha simbiose. Eu o vi integrando-se a uma negra e pegajosa serpente, que atenta a tudo, dava ao cisne um ar cruel durante seu entrelaçamento. E nesse jardim, no qual me encontrava, borboletas e gnomos davam a tudo um toque de graça e efemeridade. Lembro-me de passeios dados, onde cruzava com fadas e faunos sempre dispostos a rápidos e audaciosos encontros.
As plantas eram dignas das observações darwinianas. Havia tantas e em tal profusão que eu dedicarei cenas inteiras, no futuro, a elas. Um lírio, em especial, me encantou. Ele espalhava suas flores em várias direções e quando alguém se aproximava para sentir-lhe o perfume ou colher-lhe uma das trombetas, se retraía e fechava os botões. Um perfumoso jasmim, encantado com a noite, espalhava suas flores ao vento e só depois percebia-se preso ao chão que o nutria. Era como uma prisão, frondosa e sem muros. Um cacto bola (esse demandava cuidado!) produzia lindas e ornamentadas flores, mas quando tocado ou apreciado de uma distância não segura, vertia uma substância como um ácido amargo e corrosivo (que brotava de si) e magoava a terra ao seu redor. Ou ainda as plantas carnívoras e venenosas, que havia em grandes quantidades, que atraentes pelas cores e formatos, poderiam destruir um incauto por apenas um toque na língua. Quase caí por umas duas ou mais vezes nessas perigosas armadilhas.
Havia pajés, bruxas e feiticeiros, em sua maioria aprendizes e uma procissão infindável de almas vagantes que não sabiam ao certo donde se encontravam e turbilhonavam, encantadas, com as maravilhas desse onírico ambiente. Conheci o feiticeiro que guarda o Momento Oportuno, ele possuía características ímpares que eram ao mesmo tempo magnéticas e repelentes. Dentre todos, até mesmo além da bruxa da que tentava se disfarçar de fada, ele me era o mais intrigante. Só sosseguei quando obtive as respostas que procurava e soube que o Momento Oportuno está em você mascarar habilmente todo o seu Marrom, para seduzir com cores artificiais aqueles que busquem pelo fantástico. Havia uma guilda onde esses sacerdotes se reuniam e para onde atraíam ou arrastavam, através de encantamentos ou beberagens, as criaturas, plantas, entes e humanos, com o intuito de sugarem-lhes a energia vital e/ou arrebanharem neófitos aos seus cultos obscuros. Esses sabats eram conduzidos pelo Mago das Miríades e sua consorte, criaturas voltadas exclusivamente para o desenvolvimento e execução de técnicas de sedução e aprisionamento. Fui alertado para o perigo que havia ao me aproximar demais e mesmo assim, fui. Era impressionante! Suas cantatas, seus sumos e vapores eram de tal forma inebriantes, que como mariposas presas ao brilho assassino da luz da chama de uma vela, todos dedicavam suas horas e suas energias naquele altar blasfemo. Por poucos metros não ofereci meu pescoço à lâmina.
Encontrei um castelo, habitado por um eremita e um alquimista, distante de tudo, mesmo estando nos limites do jardim. Ali a suave brisa corria e havia leite e mel para nutrir o visitante, poder-se-ia passar dias inteiros ouvindo o trinar das aves e nada prendia o caminhante. Até por receio de que essa bela paragem fosse mais uma primorosa farsa, deixei o castelo após uma breve e divertida tertúlia, com gnomos e fadas.
Havia ninfas que traziam¬-me saborosas oferendas, dos pomares desse jardim. Outras me embalavam com elegias e odes, para que meus sonhos fossem tranquilos. Uma dríade estendeu seus ramos para me proteger, mesmo que a aspereza de sua casca às vezes me maculasse a pele. Havia brotos, que eu procurei regar e proteger das intempéries, brotos que se haveriam de se tornar frondosas e copadas árvores.
Era um jardim de delícias, mas também uma perigosa e entorpecente armadilha. Como a rã colorida e dócil que quando tocada, espirrava seus venenos no incauto. Eu, por fim, ainda curioso de tantas histórias, de tantas novidades, me ocultei no laboratório de um alquimista, disfarçado de aprendiz. Conheci um outro viajante, do mundo de onde vim, que sabia o caminho para voltar. Em um breve encontro, me foi dado o conhecimento que buscava e me vi pronto para partir. Ainda encontrei um xamã, que para curar as mazelas, ensurdecia aqueles que o procuravam com historias das mais variadas e em seguida, triunfante, restaurava a integridade dos seus queixosos. Com folhas e frutos, raízes e sementes, cascas e seivas de todas as plantas que encontrei, com penas, plumas, pelos e escamas dos animais e seres que se apresentaram a mim, com as pedras, poeira e líquidos dos terremos por onde caminhei eu fiz um filtro. Mas ainda me restavam a ansiedade e o medo de que esse filtro falhasse e eu acabasse preso ali naquele paraíso tormentoso e lindo. Usei uma pequena dose e consegui me transportar de volta, não totalmente, por causa da dose. Sabia que o tempo era meu inimigo ( porque um despertar sonolento, pode ser também o último) e justo quando usei a dose adequada do filtro e me transportei de volta à realidade, uma das criaturas quase me agarrou, tentando usar um maligno encante. Minha dríade me protegeu, sempre amarei minha dríade!