Pássaros presos, este era o fascínio de um menino...
Prendê-los e esquecê-los; pouco importava o destino!
Queria colecioná-los e assim os tinha de várias cores.
Gaiolas esturricadas deles; pouco importavam as dores!
Se estavam longe, usava o estilingue com precisão...
Num dia inteiro eram dezenas; de cortar o coração!
Vivia maquinando como preparar o melhor alçapão
Quando presos, às vezes os alimentava, outras não...
O tempo foi passando e o menino perverso cresceu...
Rosto e corpo de homem; o coração não enterneceu!
Já não utilizava mais o estilingue e sim uma carabina...
Trinta ou cem num dia; pouco importava a triste sina!
Morava numa cidadezinha do interior; num ninho da dor...
Espírito impregnado de ódio; prazer na morte do amor!
Os olhos escolhiam no céu algo que pudesse derrubar
Passou a vendê-los; um tostão para poder se sustentar!
Todo dia era dia de caça; perto ou longe ele ia buscar...
Certa vez foi bem distante; algo novo queria encontrar!
Descobriu um pássaro que nunca havia visto na vida...
Ficou entusiasmado; queria alcançá-lo e fez a corrida!
Caiu bruscamente; despencou numa complicação...
Um poço artesiano; um galho foi a única salvação!
Ficou por horas gritando; alguém haveria de ouvir...
Fome e frio; tinha que segurar e não podia dormir!
As mãos estavam doloridas; ele lutava pela vida...
A toda hora o medo do galho ruir; não queria esvair!
Começou a lembrar dos pássaros que havia prendido...
Das vezes que ria quando matava todo aquele colorido!
A noite chegou; o desespero aumentou e ele chorou...
O remorso sacudia a mente; não sabia rezar, mas rezou!
De manhã ouviu o canto dos pássaros saudando o dia...
Na circunstância o preso era ele; até parecia uma ironia!
No quarto dia uma luz raiou; alguém jogou uma corda...
Ele agarrou com muita força e foi puxado para a borda!
Olhou em volta e não havia ninguém; quem o salvou?
E o poço fundo havia desaparecido! Será que sonhou?
Milhares de pássaros ainda cantavam; voavam e festejam...
O estardalhaço era ensurdecedor; para ele um punhal de dor!
Avistou um abismo, queria fugir do canto que um dia matou...
Foi até ele, abriu os braços; viu o fim de si mesmo, e voou!
Janete Sales Dany
Todos direitos reservados
Obra protegida
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