Uma Homenagem a Ariano e Cícero
Que me permitam Ariano e Cícero Belmar, porque farei uma mistura de duas obras de ambos, O Auto da Compadecida e Umbilina e Sua Grande Rival, para inventar um curto diálogo:
O diálogo da Morte quando veio buscar Umbilina (personagem de Cícero):
- Vamos Umbilina, chegou a sua hora - diz a Morte.
- Você tem filhos, sua sem compaixão? - diz Umbilina.
- Claro que não, eu sou a Morte, trabalho muito e não tenho tempo para isso!
- Ah! Então é por isso que você é assim, uma mulher frustrada, amarga e cruel. Você não é e nunca será mãe! por isso é assim - diz Umbilina.
- Vamos embora Umbilina. Deixa de querer ser astuciosa! Todas as vezes que ando pelo sertão do nordeste do Brasil, na hora de levar algum sertanejo, eles vem com essa enrolação. Não entendo porque querem continuar vivendo neste solo duro, onde nada de bom nasce, a não ser a miséria - diz a Morte.
- Tu continuas sendo besta, desgraçada. Deverias saber depois de tanto tempo que a astúcia é a coragem do pobre e que o solo seco só endurece a alma e a vontade de viver. E a miséria, esta limpa os nossos pecados e faz-nos ter esperança, que vem de tempos em tempos com a chuva que faz tudo renascer. Vai-te daqui tinhosa e quando fores mãe, retornas.
- Eu vou, porque Ariano pediu a Compadecida para interceder por você e ela atendeu. Mas me aguarde. O meu abraço é inexorável - Diz a Morte.
- Ariano ainda pode pedir por mim a Manoel, sua trepeça! Não só por mim, mas por todo esse povo queimado pelo sol, que apesar das dificuldades em conseguir atender a mais básica das necessidades, a fome, mantém a fé e a sua humanidade. Vai e demora bem muito, visse, filha de um cabrunco!
Acredito que seria mais ou menos assim um diálogo entre a Morte e um sertanejo. A morte está presente na obra de Ariano. Creio que ele entendia a inexorabilidade da "tinhosa". Cícero a transformou em uma mulher.
Quanta pretensão de minha parte querer analisar as obras destes dois grandes escritores.
Na verdade, Ariano Suassuna para mim é mais que um ídolo, é um herói que resistiu e continuará resistindo através das suas obras e por pessoas como eu e tantos, em manter a cultura brasileira, principalmente a do nordeste, viva, pura, autêntica, como o que vem do povo.
Cícero Belmar escreveu o romance Umbilina e Sua Grande Rival, e na minha humilde opinião, na mesma linha de Ariano, retratando o imaginário do nordeste e do sertão.