CARNAVAL E CINZAS - FINAL

Eles iriam começar de novo, teriam uma nova chance de serem felizes, seriam abençoados.

Imediatamente as famílias começaram a se mobilizar, fazer tudo o que achavam que deveria ser feito. E o casal feliz observando tudo.

Ela quieta, esperando o seu sonhado filho estava preocupada com o que pudesse vir a acontecer com ele pois ainda se sentia muito doente.

A fim de preservar a integridade física e mental do bebê, toda a medicação, que de algum modo pudesse afetá-lo foi suspensa.

Alertada por seu instinto materno, ela aceitou e foi para o sacrifício.

Para cada problema, uma nova solução surge. .

Os meses se passaram, ela com o bebe dentro de si evoluindo, muito debilitada, com a doença agravada, de nada reclamava, apenas se limitava a aceitar o que sua família sugeria para o seu bem.

Ele continuava em suas atividades profissionais, dispensando á sua esposa o pouco tempo que lhe restava entre uma viagem e outra.

A empresa começou a crescer, havia conseguido obras em vários estados. O tempo para a família que já era pouco, começou a rarear mais. Os seus problemas com a família dela voltaram potencializados.

Ele pressionado pelos dois lados, família e empresa, sentiu que teria que, urgentemente, solucionar esse gravíssimo problema.

Após muito pensar, decidiu que teria que haver mais alguém para revezá-lo na execução dos contratos, assim haveria mais tempo para uma assistência mais efetiva a sua esposa e, satisfazer sua ansiosa família.

Ofereceu sociedade a alguns amigos de profissão, que ainda trabalhavam na empresa que ele havia trabalhado. Dois aceitaram.

A família dela quando soube da sociedade ficou aliviada, ela também, mas esse problema de ausência ainda persistiria por um bom tempo. Foram meses de treinamento dos novos sócios. Inúmeras viagens custosas para a apresentação aos clientes, períodos de adaptação às várias obras, equipamentos, etc. Enfim, ele acabou virando babá de seus parceiros. Ao tentar resolver um grave problema, sem perceber, acabou criando mais um. Após algum tempo seus sócios acabaríam criando-lhe mais problemas do que soluções. Eles ainda estavam inseguros quanto à execução dos trabalhos, ficavam no escritório séde alegando isso e aquilo para não substituí-lo. Esgotado, ele continuava viajando, indo para as obras, cumprindo os contratos.

A situação se agravou de tal maneira que ele não sabia mais o que fazer; irritado passou a discutir com todos, com os seus sócios incompetentes e com a família dela, por qualquer motivo que ele julgasse ofensiva as suas posições. Tinha problemas demais e poucas soluções. Pensava na esposa doente e na possibilidade de acontecer o pior com seu bebê e, nos fracassos que passou a acumular com seus caríssimos sócios ao gerenciarem os complexos contratos da empresa.

Antes, seu trabalho era sua única terapia, a válvula de escape para todos os seus problemas, ali ele tinha o controle da situação. Agora ele já não tinha mais sossego em lugar algum, ficou descontrolado, perdido, evasivo e desinteressado.

Ele, agora muito sozinho, passou a não mais dormir direito, tinha pesadelos todas as noites, sempre com situações ruins.

Pronto! Um milagre aconteceu, seu primeiro filho nasceu lindo, forte e sadio. Todos estavam muito felizes e orgulhosos com o fato.

Sua querida esposa estava demais debilitada, mas muito feliz.

Ele se encontrava esgotado com tudo o que já havia passado, mas também se sentia muito feliz e aliviado. Graças a Deus, um sério problema a menos em suas vidas complicadas.

Assim, a vida deles continuou como sempre foi; cheia de altos e baixos. Seus problemas, persistentes, continuaram minando tudo aquilo que construíram com muito sacrifício; todos os seus sonhos de juventude, até não haver mais nada entre eles, chegar ao fim.

Sem mais nenhuma razão para continuar a busca de seus sonhos, ele se desfez de tudo e partiu sem rumo. Errante e descrente de tudo, assim ele vive até hoje, tentando descansar, tirar o peso de sua consciência, mas não consegue, não tem mais sossego. Fica pensado em tudo que lhes aconteceu e no seu filho, agora ausente.

Protegido mesmo, ficou tão somente o milagre de D'us, o filho deles, que ficou sob a guarda da mãe, até que, muito doente, partiu para um outro mundo menos cruel.

Ela não merecia passar por tudo isso, ela era uma santa, deveria ser feliz. Mas quem sabe sobre os desígnios de Deus.

Eles só queriam ser felizes, nada mais!

Quem sabe, aquela intensa felicidade que sentiram juntos, naqueles dias de carnaval, tenham valido mais que toda uma vida juntos.

FIM

ZIBER
Enviado por ZIBER em 15/05/2007
Reeditado em 08/07/2012
Código do texto: T487775
Classificação de conteúdo: seguro
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