MOSAICO DE VIDA
O doutor letrado e tresloucado, mas não por ser letrado e sim por ser mal educado, em delírios pensava estar se afogando em suas amarguras e vinganças, olhando por um binóculo deformado pelo lixo que carregava na própria alma enxergava o pobre homem e confundindo-o com uma boia salvadora, talvez por sua robustez corpórea.
Num golpe rápido agarra-se fortemente ao corpo em forma de geleia, quase num abraço amoroso, antagônico ao fluido da própria alma e pergunta: és da polícia política? então o homem que nem boia era, nem tão pouco polícia política, muito menos geleia, arrasta-o para fora do rio de lamas que é a sua vida.
Salvo do sonho-pesadelo, o doutor sonha uma vez, duas, três, quatro e de quatro vai até seis vezes e em todos os sonhos-pesadelos ele perde a razão, que não tinha, mas acreditava que sim.
Agora o doutor senta num banco de praça que existe somente em seus sonhos-pesadelos e acomoda seus seguidores todos sentados no chão para que atentos assistam o discurso sobre a polícia política: Meus seguidores, polícia política é um corpo de polícia que serve a interesses de poder político, seja de um governo, de um partido político, de uma guerrilha ou um grupo paramilitar ou terrorista, ou qualquer outra instituição que busque manter uma situação de dominação ou alcançá-la. Levanta e sai rasgando papeizinhos e murmurando o descontentamento por não conseguir convencer seus seguidores. Logo, logo estará catando objetos pelo chão e assim pensando que reconstruirá sua vida num mosaico frankensteriano.