O dragão que não podia ser morto
Era uma vez... não faz muito tempo, nasceu um menino que se chamava Jorge. Sua família era pobre, como todas as famílias naquela pequena cidade perdida nas montanhas de um reino distante.
Próximo à cidade havia uma grande caverna de onde os habitantes antigamente tiravam ouro, até o dia em que os mineradores cavaram demais e encontraram um dragão terrível, os mineradores e nunca mais voltaram para a caverna.
Quando Jorge completou 14 anos seus pais morreram. Órfão, o jovem resolveu viajar pelo mundo em busca de um lugar para viver. E foi assim que conheceu muitas terras, e milhares de pessoas diferentes.
Depois de muito viajar, chegou a um reino no outro lado do mundo, onde o povo estava reconstruindo sua cidade, que havia sido destroçada por terremotos, vendavais, enchentes e, depois de tudo, ladrões e salteadores, que passaram a praticar crimes sem fim. As pessoas estavam tão tristes e trabalhavam tão devagar que Jorge se compadeceu e resolveu ajudar na reconstrução.
Os anos foram se passando e o povo foi reagindo e se animando, até voltar a viver normalmente. Durante todo este tempo Jorge trabalhou sem ganhar nada, a não ser comida, roupas e pousada. Em compensação aprendeu as técnicas de construção e o manejo das armas, tornando-se um operário admirado e um guerreiro valente nas horas de combate.
Uma das obras que Jorge ajudou a reconstruir foi o castelo do rei Poderoso, que havia morrido durante o terremoto, deixando sete princesas herdeiras. Uma das princesas, chamada Alegria, enamorou-se de Jorge e casaram-se. Um ano depois nasceu um menino forte e saudável que se chamava Jovem. A família era feliz, apesar das dificuldades daquela época e da necessidade de trabalhar muito.
Aconteceu porém que, sete anos depois, a cidade foi atacada por um bando de salteadores e a princesa Alegria foi ferida de morte, durante os acontecimentos. Desgostoso, Jorge resolveu voltar para o lugar onde havia nascido, levando consigo o filho Jovem.
Ao chegar à sua terra natal, Jorge encontrou tudo como era antes: uma cidade pobre, onde as pessoas viviam falando que tinha muito ouro na caverna, mas no dragão que não permitia a ninguém entrar na caverna para extrair ouro. Resolveu, então, matar o dragão, usando a experiência que havia adquirido no outro lado do mundo.
Quando contou seus planos e pediu ajuda, as pessoas disseram a ele que o dragão não podia ser morto nem ferido. Contaram que certa vez um valente guerreiro tentou matar o dragão, mas assim que espetou sua espada no bicho ele começou a exalar gases tão fétidos que o herói morreu sufocado e a população da cidade teve que mudar-se para o outro lado das montanhas, retornando e voltando ao normal mais de um ano depois.
Jorge ficou preocupado com a história, e durante treze dias pensou em um jeito de resolver o problema. Lembrou-se, então de um mago que conhecera durante suas viagens. Esse mago chamava-se Pan Aceu e poderia ensinar-lhe alguns truques para acabar com o dragão, mas morava longe. Jorge foi até lá, aprendeu o que precisava e retornou.
Agora era apenas preparar-se e entrar em ação. Tudo arranjado, assim que amanheceu o dia Jorge armou-se com uma lanterna, sete jogos de pilhas, sete máscaras anti-gases, sete seringas descartáveis com tranquilizante, sete travesseiros de ervas aromáticas, um estilingue e sete pedrinhas. Colocou tudo na mochila e dirigiu-se à caverna do dragão. Lá chegando, preparou uma das pedrinhas no estilingue, ligou a lanterna e foi entrando, cautelosamente. Quando encontrou o dragão, este dormia preguiçosamente. Jorge esticou o estilingue e atirou uma pedrinha do barrigão do monstro, que acordou assustado. Antes que o bicho atinasse com o que estava acontecendo, Jorge pulou sobre ele e espetou-lhe a agulha da seringa com tranquilizante. O dragão ficou sonolento e caiu, mas começou a soltar um fedor enorme pelo buraquinho da seringa. Então, o guerreiro pôs uma máscara anti-gases, colocou um dos travesseiros com ervas aromáticas sobre o buraquinho fedorento, e voltou para casa.
Assim fez sete vezes, em sete dias seguidos, e quebrou o encanto do dragão, que virou um enorme e simpático animal, com escamas e pequenas asas de morcego nas costas.
Vendo que a batalha estava vencida e que o dragão não mais representava perigo, nem soltava gases fedorentos, Jorge amarrou uma corda em seu pescoço e o levou até a cidade. A princípio as pessoas ficaram com medo, mas logo perceberam que o dragão havia ficado dócil e fizeram uma grande festa.
O prefeito da cidade ficou tão contente com a vitória de Jorge que mandou construir um zoológico bem grande para o dragão. E, para que o zoológico se tornasse uma atração turística internacional, contratou um famoso escritório de urbanismo de Curitiba, para criar um projeto com estilo futurista. O projeto custou uma fortuna, mas somente os vereadores da oposição se importaram com isto, porque sem o dragão fedorento tornou-se possível extrair ouro da caverna novamente, e, se o turismo não dava muito dinheiro, ao menos o povo estava orgulhoso de viver na cidade que tinha o único dragão domesticado do mundo.
E foi assim que Jorge se tornou um herói, respeitado e conhecido nos cinco continentes. Ele gostava de enfeitar sua casa com flores, e ia todos os dias na floricultura. Foi daí que começou a namorar a florista, casou-se com ela e todos foram felizes para sempre.