Memórias de um Aprendiz - Parte 2 - 12
Capítulo 12 – O festival
O vento começa a soprar de forma diferente, anunciando a chegada do casal mais esperado. Raios e trovões param todos. Parecia que uma tempestade levava toda a distração para longe, e focava a atenção neles. A entrada dos dois até o corredor a parte principal cala uma cidade inteira.
– Ora, estamos em um festival, não em um desfile. Deixem as estrelas para os astrólogos e os heróis para os historiadores, vamos nos divertir! Vamos, bebam e divirtam-se! Diz Alexis, finalmente quebrando o silêncio e o clima de expectativa. Após isso tudo retorna aos poucos ao estado que estava antes da chegada dos dois.
– Uh, agradeço. Lembra-se de nós? Indagam os dois (no caminho resolveram usar máscaras. E mesmo assim causaram um enorme alvoroço. As máscaras eram ovais e brancas, assim como algumas usadas em apresentações orientais de teatro. Cobrem completamente seus rostos. A de Raitun lembrava uma raposa, enquanto a de Lilith reme-tia a uma face triste.). Após uma breve conversa com a sacerdotisa eles se misturam à multidão e começam a olhar e participar do festival, apreciando as barracas e brincadeiras. Param em algumas barracas para comer, em outras para ver os outros brincando.
A todo o momento Raitun diz estar sendo alertado por cheiros estranhos (e raposas confiam muito nos cheiros) E Lilith confirma estar sentindo algo diferente no ar. Disse também que via por vezes pessoas de capuz preto que pareciam estar seguindo–os (e elfos confiam muito nos olhos). Porém os dois acabam se entretendo com o festival e na alegria da conversa. Nos sorrisos mútuos. No clima festivo. E tudo fazia com que eles esquecessem rapidamente tudo e todos, menos um ao outro.
Havia um palco na praça principal, onde aconteciam encenações, peças de teatro, apresentações que contaram histórias de dragões, heróis e inúmeras outras coisas.
O que chamou a atenção dos dois e fez muitas pessoas rir aconteceu durante uma apresentação de uma dupla de comédia. Esta era comporta por um elfo vestido de bobo chamado Jefensael e um humano chamado Alek, que parecia uma criança de cinco anos crescida de mais [e sensata de menos, segundo o aprendiz.]. Apesar de ser uma dupla de comédia, a única graça vista foi observar e apreciar como eles eram ridiculamente ruins em contar piadas. Isso se tornou uma comédia na sua pura essência. Em uma das piadas eles quase foram pra o outro mundo [sem transporte de volta, lógico]. “Quantos gnomos são necessários pra acender uma lamparina? Não vou nem contar, se os anões não conseguem imagina os gnomos!”. Lógico que certas pessoinhas não gostaram nada das piadinhas. Porém o que uniu todos em um riso foi quando o humano contou uma piada terrível e a completou dedicando-a a sua “mana sacerdotisa”. A “mana” era Alexis. Está, aliás, respondeu gritando (já em meio a risadas) “Não dedique essas piadas idiotas a nin-guém! E nunca mais me chame assim!”
Yumi teve compaixão, mas acabou sendo contagiada pelo riso. Algumas pessoas (muitas, melhor dizendo) já haviam saído dali por causa da “falta de carisma” da dupla. Apenas se perguntaram o porquê daqueles risos, ou devem ter pensado que contaram a piada do paladino, que beberam de mais e coisas do tipo. Enfim, muitas pessoas não liga-ram. Muitas outras criaturas fantásticas apareceram. Celtamorfos, alguns poucos elfos noturnos, criaturas não-identificáveis, youkais diversos, muitos visitantes com máscaras lúdicas compradas ali mesmo. Hana começara a ensinar sobre música, e depois fez uma apresentação no palco. Ela sai após isso, dando lugar a Hitch. Esta faz algo do tipo, porém usa magia em vez de música. O ancião fez mais uma edição da “caça à esquina dos ventos”, mas parece que os ventos a sopraram para longe, ninguém nunca a encontra nesses eventos. Enquanto isso Raitun acompanha Lilith pra cima e pra baixo pelo festival. Esta para em frente à mansão da Arquiduquesa e faz um sinal (logo após entrar) para que Raitun entre.
– Podemos realmente? Fomos convidados?
– Não, mas temos permissão. – Diz ela, adentrando e puxando o aprendiz pela mão. A mansão parecia diferente da última vez, parecia que os corredores haviam mudado de lugar, que algumas portas haviam mudado de estilo. O que nunca mudava era o fluxo de aiodromes pelo lugar. Após passar por estranhos corredores, finalmente os dois chegam a algum lugar. Um pequeno apostando em estilo japonês. Lembra um aposento do templo. Estava apenas com uma mesa no meio, e as paredes tinham inúmeras pinturas decorativas de raios, árvores, animais e youkais. A sacerdotisa se deita, como que completamente exausta, e demonstra todo o cansaço.
– Raitun...
– Sacerdotisa?
– Traga sake!
– Que?! Você já bebeu duas garrafas, fora o resto das guloseimas...
– Se não souber o caminho da cozinha, deixe ele te guiar- aponta o aiodrome.
– Sim senhora, Grande Lady Lilith. “É melhor levar algo para acompanhar o sake” pensa ele, andando pelos incontáveis corredores, que estranhamente lhe parecem maiores em número e extensão. Corredores, corredores, corredores, corredores tortos, retos, curvos, inclinados, como que querendo explodir a paciência do aprendiz.
– Lady Lilith está enviando uma mensagem: “QUERO BEBEEEEEEEEEER!” diz o aiodrome após certo tempo.
–Precisava reproduzir a mensagens com os detalhes de timbre e altura? Retruca, com a mão no ouvido e um olhar de apreensão dirigido ao pontinho de luz. Continua assim, alienado da noção de espaço por um breve momento que lhe custa uma queda por um buraco circular. Uma espécie de poço profundo. Ele não descobre se o poço tem fun-do, saca uma katana e a finca em uma parede. Começa a subir, até que algum espírito passante o faz perder a concentração e cair novamente, até bater com as costas no “fim do poço”: uma sala sem nada. Melhor dizendo, sem mobília, afinal havia algo lá. Cabeças voadoras de caveiras flamejantes atravessavam constantemente a parede da sala fechada e vazia. O garoto atravessa a sala, com menos paciência a cada passo. Com um som estranho sendo feito a cada passo, som que por sinal era irritante em sua concepção de sons. Sons mais rápidos, passos rápidos e a paciência se esvaindo como areia de relógio. E tudo chega ao fim, o espaço da sala, a paciência de Raitun, e a parede explodida por uma de suas magias. Finalmente a dispensa, finalmente a cozinha! Infelizmente ainda um longo e tortuoso caminho de volta. Ele não sabe o que aconteceu com a mansão da Arquiduquesa, mas definitivamente não é o lugar para se andar sem um mapa. Para sua sorte o aiodrome lhe indica os caminhos e ele não se aliena novamente. Após duas longas caminhadas lotadas de coisas estranhas e curvas impensáveis, o aprendiz entra novamente no aposento “seguro”, com sake e aperitivos, com suas habilidades de entreter. Começa a usar cada uma que fora aprendida anteriormente com a grande Sayumi. Cantar, dançar, servir, conversar, encantar, cuidar.
– Você realmente evoluiu...
–Graças a você, sim.
– Bem... Nosso tempo está acabando, correto?
– Sim... Ainda temos coisas a dizer... Correto?
– Não sei por quanto tempo estaremos assim. Se você teremos a oportunidade de fazer isso de novo. Fico feliz por ter feito você evoluir.
–Também estou feliz por isso, triste por aquilo. Temos mesmo de fazer essas despedidas formais e problemáticas e melancólicas e...
– Tenho pelo menos o direito de pedir isso?– suspira a sacerdotisa.
– Tem...
– Vamos resolver logo essa despedida.
– Como resolveremos isso?
– Com você dizendo o que diabos você quer dizer de uma vez por todas.
– Eu quero que você me ensine uma última coisa.
–E o que seria?
–Quero que você me ensine... A amar... A sentir aquela sensação novamente... Ficar nos seus braços em cada instante que tivermos...
A sacerdotisa abraça o aprendiz, olhando-o nos olhos, mantendo os dois rostos próximos a ponto dos dois sentirem a respiração do outro, e em diz em tom meigo como sempre.
– Achei que nunca iria pedir... Desde que começamos nossa história esperava por isso.
– E depois que acabar a história? –suspira– Terei de voltar ao meu mundo algum dia...
– Mal confessa ter esperanças no amor e já pensa no dia da separação... Tinha mesmo que ser a perfeição em forma de aprendiz.
– Não fuja do foco.
Manterei o foco... Assim como meu arco o faz. Não sei o quanto irei durar com essa marca, diz ela, pondo a mão no lugar. Não faço ideia de quando você terá de voltar. O fato é que um dia isso irá sumir... Sou uma elfa que viveu muito, mas o dom da clarividência não me foi confiado. Porém tenho força, destreza e intuição, e ela me diz isso. Então, quero que façamos uma promessa. Não importa em que circunstância, não nos esqueceremos de tudo que aconteceu e vai acontecer entre nós, de tudo que passamos aqui.
– Farei o que puder para mantê-la. Essa será a nossa promessa, diz o aprendiz. Após acordar do “transe”, aproxima o rosto da elfa, e encosta os lábios na boca dela, falando na mente dela um tentador “como fazemos para selar essa promessa?”.
Um longo e profundo beijo começa. Suas respirações conversam. Suas línguas sem entrelaçam em um misto de desejo, carinho, volúpia. Como se não fossem suficiente os olhares conversando tão eloqüentes e precisos quando um debate intelectual, a palavra falada vem à tona.
– Já que nossos segredos não serão esquecidos, que tal lembrarmos-nos do início da conversa e começarmos a “aula”
– Ah... Aula - Diz a sacerdotisa. A elfa sempre elogiada por sua força fora do comum agora estava indefesa e entregue ao forasteiro que começara a mordiscar levemente seu pescoço. –... Isso é avidez em aprender... Raposas gostam mesmo de morder no fim de tudo... Diz palavras desconexas a cada toque, cada toque e carícia se intensificam, O que acontece após isso: Informação confidencial (ou seja, todos sabem ou acabam por descobrir alguma hora.). E por fim os dois dormem devidamente cobertos, juntos e felizes em ter completado mais uma etapa. O que eles não lembraram foi que o show estava prestes a começar