O VENTO DE AGOSTO
O VENTO DE AGOSTO
Ela não tinha receio do vento de agosto. A menos bela. Tinha os pés no chão. Era compenetrada, competente, virtuosa, cumpria as regras, educação ímpar, postada, centrada. Firme. A outra, dizia, infelizmente, e revirava os olhos, sua boa entortava em som sibilante, cabeça do tal vento de agosto, inconsequente, muito aérea, temerária mesmo, mesmo e sua mão batia no compasso de sua raiva, deu no que deu, se recostava na cadeira retesada, suas costas, intransigentes, marciais.
E a outra, a mais bela, de quem se dizia tudo isso não se importava, não sabia ser vítima desse ódio trabalhador, imenso, ganancioso, que circulava pelos cantos da casa quando a mais bela a visitava e, sentava-se num banquinho aos pés da menos bela que coçava as mãos em garra até que sangrassem, por vezes, segredava em seu ouvido, em sua alma, (note como ela é metida, sempre foi assim , você tem que destruí-la, destruí-la, entendeu,entendeu) e eis que a mais bela era, por assim dizer, suspensa no ar, esvoaçando, alma lavada em afeto, feliz. Amada. Amava.
Faltou disciplina, continuava a menos bela, e a inveja e um arremedo de sorriso lhe repuxava o lábio inferior. Tomou café e despediu-se. O vento de agosto, a boca escancarada e fria, a esperava na porta: - Por queee?? Por que quer me levar? Eu, eu, mais honesta, mais cumpridora de deveres, MAIS TUDO, TUDO!! Mas o vento lhe cobriu com seu hálito gelado e levou-a pelos ares: - Faltou pensar no outro, no outro, no outro, entendeu? E ela sumiu pelos ares, como um balão surpreso. Ela não tinha receio do vento de agosto. A menos bela.