A INSONIA E O GATO
A insônia e o gato
Ela havia tentado de tudo. De tudo. Chás de melissa, maracujá, erva-cidreira, erva-adormecida, erva bons- sonhos, erva durma-bem, erva sonhe- com-os-anjos, erva não -sonhe mas- pelo-menos-durma, tentou sonoterapia, hidroterapia, massagens dos mais variados tipos, videntes, pai-de-santo, que lhe informou ser um “encosto” de um fidalgo do século 12 que nunca dormia pois era sentinela,e nada. Quando a noite chegava, sua aflição aumentava. Tomava banho quente, banho morno, ouvia música para descansar, colocava as pernas para cima, para baixo, para os lados, fechava uma narina pois foi-lhe explicado por um guru que esse gesto induzia ao sono, nada. Nada. Tornou-se infeliz, nervosa, muito irritada, capaz de centrifugar a humanidade inteira. Como era naturalista, ecologista, e natureba, recusava-se a tomar pílulas que induzissem ao sono. Queria dormir “al natural”, ser feliz “al natural”, não dormir “al natural”. Nesse meio de tempo, e o tempo passa mesmo até para os que não dormem, ouvia um miado constante de gato perto de sua janela. Nas três primeiras dias ao ouvir o som não se importou muito; já na quarta noite, levantou-se com séria intenção de estrangular o bichinho (bicho cretino, eu tentando dormir e ele, gritando desse jeito) e, ao abrir a janela o gato é visto no seu parapeito limpando as patas com extrema concentração Ele a olha com vagar e indiferença como é costume os gatos fazerem, alguns por caráter, outros porque percebem que os humanos são meio tontos e retruca: - Nervosa hein! Experimente miar como eu; vai sarar num instante e foi-se embora pela noite assanhada, rebolando-se pelos telhados. Ela estranhou o palpite mas obedeceu, miou primeiro esganiçadamente, depois um pouco desafinado, alguém a chamou de louca no prédio em frente, ela riu,riu, riu e ....dormiu.