Feitiço trocado
Numa rua de certa paz e tranquilidade, jovens casais que ali moravam, certo dia, viram suas vidas atrapalhadas.
E não é que por ordem dos deuses da rotina, ou ao acaso da ignorância fortuita de um mago desengonçado, as linhas nas rocas do destino se emperraram.
Dizem que um jovem afoito a esses mistérios, não frequentava as aulas direito. Às aulas da magnoterapiamagística, e assim mesmo ele foi aprova-do pelo regime de progressão. Só que dessa arte, pouco ele sabia.
Mas mesmo assim ele lançava vaticínios, vendia patuás e fazia simpa-tias. Algumas se tornavam em Antipatias. E assim, ele tocava em frente. Um dia ele acertaria e realizaria seu mais intenso desejo. Ser o criador de um encantado e encantador reino. Melhor, ainda, ser um morador distinto do pedaço mais alegre da vila.
Durante o curso todo, ele matutou noites e dias e descobriu que só o amor transforma tudo e a todos. Resolveu, então, investir tudo numa po-ção mágica.
Só, que seu mestre deu-lhe um livro de fórmulas em latim. E como
ele achava ser bom em tudo. Não percebeu um pequeno detalhe, que o impedia de usar a fórmula em outubro. Época de folga de todo o estafe esotérico. Esses não poderiam trabalhar nesses dias. Só gozá-los.
E o pior é que Nemédio, esse era o nome do jovem mágico, se enroscou na conjugação oblativa verbal. Entendendo que aquela era a data perfeita para tal façanha. Assim sendo, à noite, espargiu seu podero-síssimo pó, sobre as casas.
O que resultou desse caldo todo, ou verdadeira fuligem, foi um legítimo angu de caroço.
Pela manhã, uns confundiam o outro. Não reconheciam seus pares, ou crescia-lhes os olhos para outros. A memória estava toda mexida, como omelete mal preparado.
E foi assim que Mariana, jovem bela e vivaz, casada com Antenor, prima de Ruth, que estava de núpcias com o Zéquinha, filho da Ditinha, recém viúva de Francisco e já casada, de novo, com o Virgílio, que pouco antes arrastava asas pela Filó, mulata inteligente e faceira, comprometida com Isaias, irmão de Lurdinha, que estava sozinha... Ufa.
Cruzes, nesse angu todo, eram muitos os vizinhos. Todos, ou amigos, ou primos e primas, tio, madrasta , netos e muito mais além. Foi aí que Nemédio, o mago recém formado, resolveu fazer dali o pedaço mais alegre da vila.
Tal foi a confusão, que ninguém mais sabia, quem era a cunhada, ma-drasta, mãe, tia, ou afilhada.
Os casados pensavam ser solteiros e os solteiros já queriam, mesmo, é ser casados com pares trocados.
Até que o insano mago disparou num jato de fumaça, com medo das represálias do grupo máster da escola de magia.
Dizem que sem saber ao certo como consertar tudo. Ele abriu o portal da Terra do Nunca, de onde espera até hoje, de nós a ajuda certa, para des-fazer tudo que fez de errado.
Assim peço, quem tiver a fórmula mágica certa. É só enviar, ou revelar, para que a paz reine de novo, naquele tão simpático reino local.