A ermida
Era um caminho poe onde eu nunca havia passado, lugar estranho, assim como um sonho, deserto, com a estradinha de terra sem marcas, comose, os que por ali cruzaram , não deixaram pegadas.Margeando o caminho a relva verde parecia intocada, e parecia ser macia, assim como velhos reposteiros de veludo.Flores azuis como os miosótis, de terras distantes , salpícavam o verde da relva, pensei que, talvez, fossem olhos azuis das fadas protetoras da natureza.
Andei por um longo tempo e não encontrei viva alma.No céu, não vi nenhuma ave voando, nem nuvens, nem sol, mas o tempo estava claro, e uma brisa suave balançava os meus cabelos e as flores.Sentindo-me cançada, pensei em voltar, mas, avistei, não muito distante, uma pequena ermida.Animada, apressei os meus passos, sentia como um chamamento na capelinha branca, barroca em suas linhas.Reparei que, na torre não havia sinos, porem, pendia do alto, uma grossa corda.Escutei soar distante, como perdido no tempo, um sino invisível. A brisa suave se tornou em um vento frio, e eu senti um arrepio.A porta ,com a tinta desbotada estava só encostada.Empurrei com força a pesada porta, que gemeu nos gonzos enferrujados.Ao passa por ela me veio a mente a alegoria da porta estreita ou larga da vida, a que nos levas aos caminhos escolhidos.
Quando entrei achei muito estranho de ser tão vasta, quando do lado de fora, era uma capelinha.Não havia bancos, nem altares.O piso de pedras brancas estava limpo e úmido,como se mulheres piedosas ou mesmo anjos, houvessem acabado de lavar.Quanta paz!Achei que devia ser um lugar especial.As paredes eram abauladas tão suavemente, assim como fosse possível fazer poesia com pedra e cal.Senti vontade de rezar, não as preces ensinadas , mas com palavras minhas, vindo do fundo da minha alma.Ajoelhei e inclinei a minha cabeça em recolhimento.Não sei quanto tempo fiquei ali.As pedras frias não magoavam os meus joelhos, pareciam coxins de seda.Do recolhimento que estava, passei a orar alto, como querendo da vida ao silêncio que ali reinava, e o som da minha voz foi rolando pelas paredes e aumentando o seu diapasão.Escutei o eco das minhas palavras que soavam soturnamente.Acabada a minha prece, sentei-me no chão para melhor apreciar aquele mistério.O alto teto ,sem forro, mostrava as telhas coloniais que guardavam ainda, vestigios de ninhos vazios.
Naquelas paredes, erguidas,por mãos há muito tempo já mortas, pareciam guardar revelações da vida e da morte.Bem no alto, haviam vitrais e por eles passava o clarão do dia, trans formando o ar em um calidoscópio onde, as cores do arco-íris iam se repetindo em um turbilhão de matizes.Achei estranho que os vitrais não continham detalhes de histórias sacras, e sim, profanas.Sem mesmo saber o porque, fui sentindo uma tristeza no meu coração, como se as dores de outras pessoas , estivessem sobre os meus ombros.As cores foram desbotando, e começou a escurecer, como se não fosse ainda, dia lá fora.Não parecia haver temp marcado ali dentro, e, as curvas suaves da capela foram perdendo as formas.Um frio mais forte, gelou os meus ossos, e as pedras do chão, ficaram ásperas.Levantei-me quase com um pulo, queria espantar o torpor que começava a me dominar.O instinto
do perigo me fez ficar alerta e senti,de momento, um grande medo.O pó que pairava no teto, em nuvem dourada, foi baixando, tornou-se em uma névoa escura, e os vitrais coloridos sumiram na bruma.
O ruido de dobradiças enferrujadas , o mesmo que ouvi ao entrar, me fez olhar para a porta, e vi que ela, começava a se fechar...o momento era chegado!Reunindo as minhas forças corri paras a saí
da, e passei, quase que no último momento.Nas minhas costa o vento gelado e o som seco da porta batendo , pareceu-me uma despedida.Retornei o meu caminho.A relva e as flores haviam pedido o seu frescor.Distante, voltei o meu olhar para a ermida, mas, a noite que ali reinava,já havia coberto, com a sua sombra o que lá houvesse.O momento supremo, já havia passado...