O cume e o abismo.
A sala mais parecia o lado interno de uma árvore de dimensões gigantescas. Só que fria e cinzenta. Robusta, firme e aterrorizantemente sombria. Pareciam bailar cinicamente, em verdade, aquelas sombras profundas. No centro de uma floresta, que apesar de viva, jazia esquecida em dias de intermináveis tempestades.
Lá dentro, dois colossais titãs digladiavam entre os urros dos trovões e os protestos dos ursos furiosos em meio à pesada neve que caía.
- Só há uma forma de conhecer o seu limite. Vivendo o limite!
- Não!
Um pai, sábio, cuja sensibilidade era afetada pelas amarguras acumuladas através dos invernos, e um jovem, demasiado, para entender e aceitar seu futuro. O velho continuava a falar:
- Você só pode alcançar o seu limite, ousando. Se não esquecer as responsabilidades.
- Pois, não dou a mínima.
- Você pode até largar tudo. Mas jamais encontrará o limite se deixar tudo pra trás. Só encontramos o limite, quando nossas forças parecem não dar conta e, ainda sim, continuamos com tudo aquilo do que depende de nós. E se melhor, guardando teu melhor sorriso pras pessoas ao teu lado. Porque vai precisar delas.
Do alto do penhasco, os dois sabiam concordar nos pontos fundamentais da discussão. A ideia de limite que o jovem trazia em si, antes tão emocionante, parecia tomar contornos de fadiga e fatídico. Mas só aquilo o engrandeceria. Qualquer outra aventura, em que deixasse tudo para trás, seria uma ilusão passageira.
E é para isso que aqueles seres haviam sido criados. Para tornarem-se grandes. Para emanar, conduzir e transmitir sua luz.