CALED, o Rei Imortal e KARIM, a Rainha Generosa
Num reino muito distante, nasceu uma criança muito especial. Seus pais ficaram impressionados com sua beleza, pois nenhuma criança trazia nos olhos tanto brilho e tanta beleza.
Essa criança foi crescendo e tornou-se um belo guerreiro, todos se curvavam diante de sua bravura, mas o que mais chamava a atenção era a bondade que tinha no seu coração.
Ele ficou conhecido por todos os lugares que passava. Todos destacavam sua agilidade e competência nas batalhas.
Ele lutava bravamente, não tinha medo das armas dos seus inimigos, pois tinha a certeza de sua capacidade e da nobreza de seu coracão.
Um dia, no meio de uma batalha, olhou para uma montanha que existia ali e viu por uma fresta um raio de luz.
Ele terminou sua batalha, e como sempre venceu, mas nunca deixou que as pessoas humilhassem os derrotados, queria que todos fossem tratados com respeito. Como fazia em todas as lutas atribuia a vitoria à todos seus companheiros, e por ter essa humildade é que era respeitado e admirado por todos os outros soldados.
Ele subiu a montanha e adentrou a fresta, caiu num lago, nadou até a margem e saiu do outro lado. Viu um castelo cheio de flores e luzes, ficou admirado com tanta beleza, mas foi surpreendido por quatro soldados que o conduzira até a presença do soberano daquele castelo. Era um homem de muitos anos, mas que trazia nos olhos a singeleza da ternura.
O soberano, lhe fez algumas perguntas, mas todas com um tom de curiosidade, principalmente para saber de que lugar tinha vindo o jovem guerreiro.
O rapaz se curvou diante do soberano e respondeu com firmeza na voz e com a certeza de que estava diante de alguém muito importante.
- venho de uma terra que nem sei mais para que lado fica, pois cai pela fresta de luz que havia na montanha, e, agora estou aqui diante de vossa realeza. Podes acaso dizer-me que lugar estou, vossa majestade?
O soberano riu de uma forma discreta, e disse ao jovem guerreiro: Percebo que trazes uma espada em sua bainha, podes me mostrar e deixar que toque nela?
O jovem, tirou a espada da bainha e disse ao soberano:
- Vossa majestade tome cuidado, pois o fio de seu corte é afiado e me desculpe se estiver manchada de sangue, pois eu estava em uma batalha.
O soberano empunhou a espada e disse:
- Vejo que esta espada é de um material nobre, muito conhecido e cobiçado por todos. Sua espada tem sangue de gente que morreu defendendo seus ideais.
Podes dar-me essa espada de presente?
O jovem abaixou a cabeça num gesto de tristeza e disse ao soberano:
- Vossa majestade, essa espada foi me dada de presente, pelo meu pai no dia do meu nascimento. Meu pai me disse que a pessoa que lhe deu essa espada, era um velho ferreiro de uma terra distante e que ele havia forjado apenas 3 dessas, por causa da dificuldade e da raridade do material. Mas, que no tempo certo o ferreiro iria pedir de volta a sua espada. Desde então sou o guardião dessa espada.
Nisso o soberano lhe disse que conhecia a história sobre as 3 espadas e que era uma lenda muito antiga em seu Reino. O jovem como um aprendiz ficou atento para os fatos da história.
O soberano lhe disse:
- Realmente foram forjadas apenas 3 dessas espadas. Uma em amarelo, para lembrar a luz forte do astro que brilha durante o dia e aquece as manhãs; outra que foi feita em tons azuis, para lembrar as noites escuras de tempestades e desesperos e a última feita com riscos foscos para lembrar a terra que sustenta os nossos pés, e, nos dá no tempo certo os frutos das plantas.
Uma foi entregue a um mercador que vagava pelo deserto com seus camelos, mas ele não compreendeu seu valor e a vendeu. A espada se perdeu e nunca mais foi vista sobre a terra.
A outra foi entregue a uma rainha que não soube governar com o coração e escravizou todo seu povo. Esta espada também desapareceu ao cair no fosso de seu castelo.
E a terceira foi entregue, a um recém-nascido, que se tornaria um brilhante guerreiro. Tenho dúvidas de onde está essa espada.
Esse guerreiro sempre sairia vencedor, se ele fosse fiel em suas batalhas.
A espada que não fosse bem usada voltaria para a oficina do ferreiro, e, com o passar do tempo, as espadas se juntariam e se tornariam uma só.
Numa manhã de grandes conflitos e guerras o velho ferreiro se apresentou diante de mim e pediu que invocasse o poder das espadas, fiz isso e lancei o chamado aos quarto cantos do universo para que as espadas tornassem a defender os ideais da liberdade, da justiça e da vida em prosperidade.
Depois de ter ouvido essa história, será que podes me dar sua espada de presente?
O jovem guerreiro, abaixou a cabeça e disse ao Soberano:
Meu senhor, até hoje não fui derrotado em nenhuma de minhas batalhas, pois quando estou empunhando essa espada, sinto como se sua lamina fizesse parte do meu coração. Mas se para vossa majestade é importante essa espada, pode ficar de presente, pois será uma honra na vida deste soldado.
O soberano lhe deu a seguinte ordem, hoje ficarás em meu castelo e descansara, amanhã a noite, na hora do toque da sétima corneta, a luz da lua brilhará mais forte, então me darás a espada. Mas hoje ainda fiques com ela, para poderes lembrar de todos que tombaram diante do seu fio.
A noite foi longa e o jovem guerreiro não dormiu nem um segundo, pensando nas batalhas, nas recomendações de seu velho pai e em todos os demais soldados de sua infantaria, sem contar que seus olhos brilhavam cada vez que lembrava de sua amada.
Sua amada era uma moça simples, filha de um cocheiro, mas que ajudava os mais necessitados. Sua amada tinha lindos cabelos pretos caidos sobre os ombros , olhos como o negrume do mar e mãos delicadas como a de uma fada. Sua amada tinha o nome de Karim (cujo nome quer dizer: mulher muito generosa).
A imaginação do jovem guerreiro não se desligava, pois ele havia pensado um dia em abandonar a espada e viver somente para sua jovem amada.
O dia foi clareando, sua angústia aumentando e seus olhos choravam, lágrimas infinitas.
No outro dia bem cedo, ele se vestiu com sua armadura, pois sempre estava pronto para mais uma batalha. Ao chegar a sala do trono o grande soberano lhe saudou com um acenar solene da cabeça, e sorriu discretamente.
Pediu que o jovem guerreiro se sentasse ao seu lado. O guerreiro sentou-se e lhe serviram os mais finos manjares.
Ele queria fazer perguntas ao soberano, mas estava sem jeito, pois não se achava digno em dirigir a palavra à alguém tão importante.
O dia passou como uma flecha lançada ao seu alvo, chegou a noite, o salão nobre do soberano estava repleto de outros soldados e demais convidados.
O soberano adentrou no salão ladeado de seus guardas de honra, todos se ajoelharam e ele dirigiu-se ao seu trono real.
Em tom solene disse:
Passados tantos anos vejo que a profecia das espadas estava certa, um jovem guerreiro se faria presente para ocupar o lugar que seria seu por direito.
Nestas eras todos esperamos alguém que fosse nobre de alma e espírito, que tivesse a bondade estampada em seu olhar e que a delicadeza de sua voz, confortasse o nosso coração.
Todos os Reinos esperaram e surportaram com bravura, os tempos de trevas e mortes. Todos lutaram para manter vivo o espírito da liberdade e da dignidade de cada ser vivo.
Hoje diante de nossos impuros olhos vemos vislumbrar a pureza de um rei que nos conduzirá a prosperidade de um mundo livre e justo.
Quando olhei para sua simplicidade, para a ternura nos seus olhos e para o brilho inconfundível de sua espada, não tive dúvidas, o verdadeiro Rei despertou.
Por isso humildemente peço a você, Caled (cujo nome signfica: imortal), jovem guerreiro das terras além das montanhas gramadas, que suba até aqui e reclame publicamente o seu trono e sua nobreza.
O jovem guerreiro não entendeu nada. Olhou assustado para todos os que estavam no salão e disse com ternura:
- senhores deve estar acontecendo alguma coisa errada, sou apenas um soldado, filho de lavradores da terra. A única coisa que sei é lutar, sou muito pouco para ser o que vocês buscam.
O soberano, pediu à ele que empunhasse a sua espada e que a levantasse no sétimo toque da trombeta, diante da luz da lua e dos olhos de todos os que estavam naquele nobre salão.
Assim o fez.
Sua espada brilhou de forma incandescente, ao ponto de sair de sua lamina raios brilhantes de fogo.
A espada saiu de sua mão e no mesmo instante, as outras duas espadas se juntaram a ela, formando uma só espada.
Todos ficaram admirados, o jovem guerreiro colocou-se de joelhos e o soberano lhe tocou o ombro e lhe disse:
- Levante-te meu senhor, ocupes o lugar que é teu por direito e governes teus súditos sempre para a vitória da vida sobre a morte.
O jovem guerreiro subiu ao trono e imediatamente sua armadura se transformou em vestes reais.
Ele levantou os olhos, estendeu a mão e a espada veio até ele, como se se fundisse ao seu corpo.
O jovem guerreiro, olhou para todos os que estavam no salão e disse com humildade e firmeza de um rei.
Ontem sai da minha humilde choupana, da casa de meus pais, me despedi dos amigos, montei meu cavalo “flecha do caminho”, lutei ao lado de bravos e destemidos soldados, alguns até tombaram diante da espada do inimigo. Chorei ao final da batalha pelos meus amigos e bravos soldados.
Subi a uma montanha, pois um brilho diferente chamou-me a atenção e agora estou aqui diante de vocês para ser seu rei.
O novo rei, levantou a espada do sol, da noite e da terra, com seu brilho encantador e fez o seguinte juramento.
“Juro que jamais, nestas terras das Águas Cristalinas, ou em qualquer outra parte do Reino, alguém passará necessidade, ou morrerá por falta de pão.
Juro que empunharei minha espada para defender todos os povos, não olharei para a cor de sua pele, nem para as moedas que trará em suas sacolas, também não olharei para seus pés, para ver se estão descalços ou com sandálias de tiras.
Juro por fim que neste Reino, a justiça, a paz, a fraternidade e o amor incondicional serão a marca de todos os povos.”
Eu sou vosso Rei, sou vosso Servo, sou o vosso soldado, por isso me ajudem.
Terminada suas palavras, o jovem rei sentou-se no trono e todos se ajoelharam diante dele. Ele pronunciou as seguintes palavras:
- De hoje até o fim de seus dias, ninguém mais se curvará, diante do poder de ninguém neste Reino, mas todos nos curvaremos diante do Criador do Céu, da Noite e da Terra.
E assim até hoje depois de muitos e muitos anos o povo daquele Reino ainda vive sobre a caridade e a gentileza daquele Rei, que ensinou a todos que o verdadeiro governo é aquele que nasce da alegria e da confiança.
O jovem rei buscou sua doce amada e vivem felizes junto com todo o povo do Reino das Águas Cristalinas. Sua Rainha é venerada por todos como a bondosa e ele como o Rei da espada do Sol, da Noite e da Terra.
O Reino ainda espera um descendente tão bom e justo quanto o jovem guerreiro.
Mas isso fica para uma outra história.