A ira de Eros

Patrícia estendeu as longas madeixas negras sobre os seios nus e continuou a beber entre as mãos espalmadas, a água da fonte dos deuses. Do alto do castelo, seu irmão Otávio e seu primo Angelus a observavam em silêncio, admirados de sua beleza.

-É bela, não? – Foi Otávio que quebrou o silêncio e arrancou Angelus do transe.

-Nem Afrodite, no alto da sua sensualidade, pode se comparar a ela, sua irmã. – Angelus olhou novamente a jovem e a viu sorrir para um pássaro que veio beijar a ponta dos seus dedos e compartilhar da água que bebia. – Levará muitos a perdição.

-Com certeza, caro primo. Um desses sereis vós. – Otávio sorriu e viu Angelus enrubescer. –Não te envergonhes. Acaso achas que não é visível em seus olhos o amor que dedicas a ela?

-Não sou digno de profanar tal beleza com as minhas mãos rudes e nem de macular tal inocência com meu falar desregrado.

-Antes tu, do que outro. – Otávio tocou o ombro do primo.- Sejas corajoso e vá até ela, meu primo. De certo só existirão duas respostas: Sim ou não.

- Me doerá muito se for o não.

-Ao menos não morrerás com a dúvida.

-Consentes?

-Vai e dize o que sentes. Se ela o recusar, ao menos saberá que deves seguir em frente.

Angelus acenou ao primo e desceu da torre onde se encontrava. Quando chegou ao jardim, tocou o chão com delicadeza, para assim poder chegar perto dela sem assustá-la. Quando estava prestes de achegar-se, ela o viu.

-O que tens Angelus?

-Pois me viu?

-Não és o mais sutil dos homens. – Patrícia lhe sorriu.- Diga o que quer.

-Um beijo...

-Ora, mas o que lhe faz pensar que eu lhe daria tal coisa?

-Não me amas?

-Amo sim, mas não como desejas. Sou prometida a outro e meu coração a ele pertence. Bem sabe meu irmão, mas ainda assim, ele insiste em por tu contra aquele a quem amo. De certo tem ele ciúme e planeja uma tragédia.

-Estou disposto a lutar por vós.

-Será uma luta perdida, pois não o amarei como amo a Julios.

-Então é esse o nome dele...

-Sim...

-Diz-me onde mora e eu o chamarei a um duelo.

-Não... Vai daqui, primo meu. Não vês que me deixa nervosa. Não intentaras nada contra o meu amado. E se o fizer, matar-me-ei, para que não possas desfrutar dos despojos.

-Não terias essa coragem...

-Há de por a prova a minha coragem, primo meu? – Patrícia o olhou desafiadora, sem, no entanto, mudar de posição, permanecendo curvada sobre a fonte de água límpida.

-Não, mas se tu não me podes pertencer, também outro não gozará de vós. – Irado, Angelus atirou seu peso sobre o da jovem, afogando-a na água. Tamanha foi à violência do ato, que em poucos segundos, nenhum fôlego havia na jovem. Tirando-a da água depois do feito, Angelus abraçou a moça contra seu peito e chorou. – Tinhas tu, prima minha, que por a prova a minha ira e o meu amor? Veja o que aconteceu... Pelas minhas mãos foste morta e nada restou para me redimir. – Do alto do castelo, Otávio observava triunfante. Não tivera ele coragem de matar a própria irmã, mas incentivou o seu primo a fazê-lo, sem, no entanto, dizer-lhe suas intenções. Agora Patrícia estava morta e tudo daquele reino lhe pertencia, incluindo o culto a beleza que rendiam a linda moça. Transfigurando-se de fingida tristeza, ele desceu ao jardim e, empunhando sua espada, cortou a cabeça do seu primo, para que esse não servisse de testemunha de seus atos hediondos .

Continua...

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 22/04/2014
Código do texto: T4777997
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