"Passeios entre linhas"
Entre parágrafos, vírgulas e reticências a menina caminhou
incessantemente temendo encontrar um ponto de interrogação
sedento por devorar uma exclamação. Entre curvas sinuosas de
saudades e solidão esbarrou-se por um acaso em um trema esquecido.
Sujeitos ocultos, elipses, anáforas e onomatopéias espreitavam
curiosos, talvez temendo que fossem esquecidas. Diálogos que
insistiam interromper a trajetória inquieta da menina atravessavam
repentinamente os caminhos percorridos com avidez, e isto a deixava
apreensiva.
De repente, encontrou-se com uma antítese, a tal figura estava
confusa e extremamente cansada, tentou entender as razões mais
preferiu deixá-la em suas divagações. Os paradoxos e as sinestesias
se mesclavam tornando as idéias mais amenas e harmoniosas.
Enfim, deparou-se com um promissor sargento barroco: um tal
Conceptismo, pessoa de difícil compreensão, mas extremamente
audacioso.
Ignorou suas ordens, continuou a caminhar até deparar-se com
uma imagem pueril: um pequeno Anjo a paisana a encantar uma Ninfa.
O cenário bucólico não permitia nenhum emaranhado de aço e
concreto, era tudo muito ameno.
Observou encantada a paisagem pastoril. Porém era necessário
avançar.
Logo adiante, um libertário condor a observar fixamente o
horizonte, até parecia querer alçar vôo. Tentou; a indefesa menina,
ignorar, mas apreciou a coragem da ave diante do desconhecido.
Mais a frente, em um parágrafo dissimulado deparou-se com um
velho casmurro, parecia amargurado e definhando, falava sozinho o
tempo todo, de vez em quando indagava algo, ela riu e pensou: “eu
ficarei assim”.
Outras imagens foram surgindo: vasos gregos, antífonas e até
mesmo uma batalha em pleno sertão nordestino. Mas a que mais lhe
chamou a atenção foi a que se encontrava na última linha.
Percebeu algo intrigante na palavra, como se configurassem
montanhas de nuvens, que a levava para as mais densas alturas,
garimpando idéias e nuances antes escondidos. Ações, armadilhas e
conhecimento: tudo isso na palavra Imaginação.