O menino e a loba má
Estava aqui tentando me lembrar de uma história, acho que não foi há muito tempo
ou parece que foi ontem, em um lugar qualquer,
nem me lembro os nomes deles, mas tinham nomes, todos temos...
Vamos ver se consigo pelo menos contar a história...
Ah... sim, tinha um menino que vivia em um país muito grande,
lá era tudo fechado por muros altos por todos os lados, parecia um prisioneiro, até a roupa dele
era fechada na frente, dos lados; também tinha um chapéu esquisito,
meio assim comprido e largo, você sabe, mulher sabe disso.
Um dia ele estava sentado na calçada e passou um mensageiro, tinha nas mãos uma carta,
só que o menino não sabia se era pra ele, na dúvida, pegou assim mesmo; dentro tinha
uma foto, era de uma mulher linda, mas com dentes grandes, dava medo, mãos bonitas,
mas unhas tão grandes que poderiam, quando abraçá-lo, cravar na carne das suas costas.
Mas ele nem ligou, mandou uma carta pra ela, qual não foi a surpresa e ela respondeu,
meio assim, assim, como as mulheres fazem, então ele mandou outras cartas e ela veio,
devagar, devagar e foi chegando até que ele... clau! Marcou um encontro, não é que se encontraram?
Mas este menino estava com medo porque outras vezes as mulheres más não lhe
fizeram bem, esta parecia perigosa demais, mas bonita demais, ele ficou maluco e sem
saber o que fazer, o que ele poderia fazer? Não sei... não sei mesmo...
Então ele foi entrando de mansinho na vida dela, com aquele jeito menino foi chegando, chegando,
até que a loba tomou o coração dele, parece que na hora não sentiu nadica de nada,
mas... foi embora com um buraco no peito.
Ficou preocupado com aquilo, era um buraco enorme, o estranho é que não estava doendo,
só que o vento incomodava um pouco, soprava dentro um frio, acho que por isto ele estava com mais
medo ainda, mas à noite ele sonhava com a tal loba, a sua boca, com os lábios, mas não mordia,
ela sugava alguma coisa dele, algo invisivel e também deixava outra, teve horas que ele achou que ia
morrer, e ela ali por perto, ficava à espreita em cima do muro, todos os dias ele abria a
janelinha como esta aqui da minha casa, só pra ver a loba.
Ela ficava no escuro escondida com o coração dele na boca, mostrava-se um pouco
e corria, escondia-se numa caverna muito escura, só que este menino queria chegar
mais perto. A loba, ela não tinha nada de má, acho que só enxergava mal porque estava
vivendo em um lugar muito escuro. Então ele pensou, pensou e teve uma idéia, resolveu ajudá-la:
pegou um fio bem grande, grandão mesmo e ligou um pontinho de luz na ponta e levou
até lá perto da caverna, quase na entrada, deixou lá e saiu correndo.
Então ele pensou assim, se ela não fugir acendo mais um pontinho e mais um, até que ela vá se
acostumando com a claridade. Não é que deu certo? Ele foi ligando mais luzes e mais.
Até que um dia ela criou coragem e chegou um tantinho mais perto, não subiu mais no muro,
até sorriu, assim mesmo, meio desconfiada, como todo mundo que quando não conhece fica.
Então o menino foi devagar mostrando o dia, o sol, mostrou que a noite tem lua e naquele
buraco que ela fez no peito dele tinha uma coisa que ela deixou quando levou seu coração:
era um pouco de amor. Ela parece que nem sabia disso, depois trouxe mais amor cada vez que
sorria colocava um pouco mais de amor em seu peito, até que preencheu tudo de novo, mas....
Tchan tchan tchan...
Achando que o menino poderia lhe fazer mal ela queria fugir, desligou todas as luzes
e voltou para sua escura caverna, entrou e bateu a porta.
É, não é fácil, ele parou e até ficou triste e não foi pouco, aquele buraco no peito parecia
que ia se abrir novamente e o que ele poderia agora fazer?
Sentou novamente na beira da calçada e esperou o carteiro passar, mandou outra carta pra
ela, começava assim: Minha querida Loba má... Ele já a chamava de querida, e ela nem tchum,
mas ele escreveu, escreveu, escreveu, escreveu... chega, né?
Então esperou outro dia a resposta... e assim muitos mais. Será que ela vem, vai responder?
Ela nem vai ler, ficava pensando tantas coisas, estas coisas de menino, você sabe, né?
Até que uma tarde quando ele já se levantava para ir embora, novamente ia se esconder atrás
daqueles muros altos... ah e lá nem batia sol, viu? Não é que ela apareceu?
Na boca trazia um beijo, nas mãos a carta e tinha algo estranho, ela trazia de volta um
coração, ué, um coração? Será que ela ia devolver seu coração?
Só então ele entendeu, ela o trouxe só para mostrá-lo que estava cuidando bem do
coração dele, foi assim, os dois se entenderam e começaram a se sentir felizes,
quando de repente ouviram estrondos, parecia que o mundo caiu, mas não, era um
novo que surgia naquela hora e não é que todas as luzes se acenderam? Não se sabe por que todos
os muros caíram, pareciam estar livres das prisões e dos escuros daquela solidão.
Ele pensou, acho que ela é bruxa e não loba.
Todos os muros da cidade foram ao chão e ali pertinho ela perguntou se ele ainda tinha medo,
ele não, já não tinha medo dela, os dois estavam diferentes, ela disse que queria ficar
e ajudá-lo a ser feliz, neste instante seus dentes grandes sumiram, até uma verruga que tinha no
nariz desapareceu, assim... proft!!!
O nariz dela não era grande, não mesmo, ela ficou mais linda e ele mais bobo sem coração e feliz.
Só depois a loba falou pra ele, trocamos o coração, quando toquei seu peito levei embora
seu coração e deixei o meu, só vi isto quando você colocou aquele pontinho de luz na
minha caverna, troquei os corações e os que estão agora conosco estão nos fazendo bem.
Então eles combinaram que para sempre iam ficar com os corações trocados
e assim foi, sem muros, sem escuridão e a loba má; na verdade, era uma mulher que só
precisava de um pouco de luz para enxergar a felicidade que estava ali muito perto.
Bom... o para sempre, fica para depois...
Fim
Resumo:
Ela escondia o nariz, pensava que era feio, mas que nada, ela que vivia em
um lugar escuro e nem espelho tinha, não tinha nada e nem se tivesse não
estava enxergando nem seu próprio coração, tanto que pegou o do menino
e levou embora, foi assim... juro, foi mesmo.
(Às vezes, escrevemos errado a história, mas não é que queremos escrever errado,
é que começamos no meio, como aquela mulher, tinha mesmo que voltar
e recomeçar, ela o fez, fico feliz por ela, porque é ela quem amo.)