O mercador do deserto
Certa vez um mercador achou um homem caído em meio as areias do deserto. Ele parou com sua caravana e carregou o homem até a carroça, deitando-o em almofadas e tirando o cantil da cintura e dando água em sua boca.
O homem mal acreditava naquilo que acontecera. Ele bebeu a água com tanta rapidez que tremia ao tentar segurar o cantil. O mercador fez com que ele bebesse mais outros cantis e em seguida lhe deu um pedaço de pão e uma pequena cesta de tâmaras, o homem mal mastigava, de tanta fome engolia aquilo numa ferocidade sem fim... Depois de tudo esboçou um sorriso e desabou ali de tanta fraqueza o homem adormeceu... E adormeceu por dois dias seguidos.
Quando acordou estava meio perdido no tempo, estava em uma tenda e cambaleando muito fraco saiu de lá... Viu o mercador se aquecendo em volta de uma fogueira. O mercador ao vê-lo correu e o ajudou a assentar lhe dando um manto para lhe proteger da noite do deserto... Ali o mercador lhe contou histórias e lhe mostrou as estrelas falando como elas o guiavam. Também lhe deu de comer... O homem muito fraco mal conseguia falar.
Quando chegaram a uma cidade o mercador dirigiu-se ao centro comercial e ao regressar não viu mais o homem. Ele simplesmente havia desaparecido.
Anos mais tarde o mercador estava na capital e uma multidão gritava que a comitiva do príncipe estava passando. O mercador empolgado se juntou ao povo que assistia a passagem da comitiva.
O príncipe montado em um cavalo branco enfeitado com penas coloridas acenava para o povo. Quando o mercador o viu logo o reconheceu, era o homem que estava no meio do deserto. O príncipe parou por uns instantes olhando nos olhos do mercador que sorria feliz ao vê-lo. Mas o príncipe nada fez... Ou pior, virou o rosto e continuou a acenar para o povo com a cara fechada.
O mercador saiu do meio da multidão e se dirigiu a sua caravana com lágrimas nos olhos e uma imensa tristeza no coração e se assentou em uma duna perto de enormes palmeiras e ficou a observar o deserto... Ele lamentava a Deus tamanha ingratidão quando o vento sussurrou em seu ouvido :
" A pessoa ingrata é como esse deserto. Absorve com uma avidez furiosa a água que é lhe dada do céu mas não lhe nasce coisa alguma... Será sempre seco e nada produzirá..."