O DIA ATRAPALHADO

Amanheceu um céu de breu. Tamanha escuridão, parecendo uma enorme boca aberta em escuridão, tendo ao fundo uma gota espichando

novidades, pendurada à um túnel.

- Devia ser a úvula. Que de tão tagarela inchou de tamanho e ficou entalada na garganta.

Nossa! Nesse dia até o balançar do caqui, na árvore, ou o assobio insolente do vento "dava nos nervos" da gente. "Arrupiava" tinos!

Assim foi com Belinha, jovem mimosa. Infantil nos seus oito anos ainda sonhadores, olhar de Capitu e curiosidade de boneca Emília.

Mas, nessa manhã ela parecia sonâmbulenta, meio "virada nos trinta",

ou nos oito? Sei lá. Só sei que foi assim, assim:

Ela amanheceu em novidades de fabulação. Parecia até assombração com medo de assombração gente; ou alguém com dor de gente.

Por isso ela não estranhou , quando os ponteiros do relógio principiaram a andar para trás. Até aquele personagem Benjamin Button, deixou seu filme O estranho caso e veio como velho, jovem e criança, ao mesmo tempo, dando-lhe "Bom Dia" em três dimensões.

- Ela teria entrado numa dimensão de Déjà Vu, do Matrix?

Quando tudo parecia normal, lá vinha a dona Gibóia vagarosa numa

pressa danada, explicando:

- Antes eu era Jibóia, com J, mas engordei e virei Gibóia, com G. Agora só o Spa dá geito em mim.

- Você quer dizer, Jeito, né?...

Nossa, qual não foi o susto de Belinha quando viu as estrelas tomando banho de sol em Copacabana. Elas diziam que o céu à noite, congelava e não tinha o glamour de estrelas.

Tudo tinha um quê de estranho doce. Os semáforos eram pirulitos gigantes, que ao serem devorados por Joãozinho e Maria instalavam o

caos nas avenidas superlotadas de motoristas desesperados, e ao mesmo tempo gulosos.

Disseram que tudo tinha sido orquestrado pelos Black Blocs, ou coisa parecida.

E as coisas se emaranhavam, cada vez mais, numa verdadeiríssima realidade sonhadora. Até que um transatlântico... devia ser o Titanic... encalhou em sua cama, deixando-a de ponta cabeça.

Ela podia jurar que sentiu suas veias serem dilatadas pelo fluxo sanguíneo, espichando-a como a Alice numa portinha apertada. O que a fez acordar de SUPETÃO.

Assim, Belinha voltou a sorrir seu sorriso banguela, de escuridão.

- Cruzes! E não era que com toda essa confusão sonhadora. Ela engolira dois dentes de leite, de uma só vez?

Ainda bem. O Real era novo de novo. E agora parecia ser um irreal conto do DIA ATRAPALHADO de uma menina banguela e FELIZ DE NOVO.

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 02/04/2014
Reeditado em 10/12/2015
Código do texto: T4753364
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