Uma terra do nunca... Nunca mais
Pra variar ele estava encolhido em um canto frio. Os olhos vermelhos de cansaço e não poder dormir. Aquele pequeno ogrinho, verde, feio, gordinho estava lá, não sabia se tremia de frio ou medo.
E ele encolhido entre uma cochilada e outra acordava assustado, não podia mais dormir. Não sabia o que fazer pois se dormisse poderia ser machucado, devorado, morto... Ele tinha que sobreviver! Pra se manter acordado naquele canto escuro e úmido ele foi lembrar dos tempos em que não era um pequeno ogro em forma de criança. E ele nem ousou a sorrir com as lembranças apenas suspirou e começou a recordar.
Antes ele era um garboso príncipe, exalava beleza e em seu alazão ia e voltava de onde queria. Conquistava princesas, donzelas e até mesmo prostitutas... Se apegava uma vez ou outra a alguma mas não por muito tempo. Não as fazia mal... Porque no amor sempre um dos dois sofre. Não pensem que ele não sofreu, como qualquer mortal ele sofreu sim. As vezes princesas são mimadas e cruéis. Mas ele continuava a viver... Até que ela apareceu... A madrasta.
E aos poucos o garboso foi definhando, encolhendo, diminuindo e se afastando do reino. Sorria por fora mas estava podre por dentro, foi perdendo tudo... E se tornando um ogro.Não um ogro assustador e gigantesco. Mas uma coisinha pequena, gordinha, quase insignificante, mas parecia uma criancinha de 4 ou 5 anos verde e roliça. Mas a madrasta era implacável foi lhe tirando tudo sugando sua força, sua juventude, sua beleza e o trancafiou naquela Terra do Nunca. Nunca sairia, nunca viveria apenas sobreviveria... Nunca luz, nunca sons, nunca sorrisos, nunca amores, nunca paz, nunca sossego... Apenas uma solidão implacável, uma fome horrenda e um cansaço eterno.
O ogrinho perdeu as contas de momentos de fúrias que ele ficava. Ele tentava sair derrubando aquelas árvores enormes e espumava de ódio mas a cada árvore derrubada nasciam duas ou três. E a fúria era em vão. Com o tempo ele percebeu que nada mais podia ser feito. E se conformou com a magia da madrasta.
Ele só não entendia o porquê desse castigo. Ele não havia feito nada com essa mulher. Ele até a tratava muito bem, mas a madrasta era uma feiticeira implacável e não havia motivos pra ela ser má ou boa. Ela apenas fazia o que queria. E novamente o ogrinho teve que se conformar que nunca teria uma resposta... E nem outras respostas e as duras penas teve que aceitar que certas coisas não tem respostas.
O ogrinho continuava ali no seu canto escuro comendo restos e castas numa fome sem fim... Num sono sem fim... E lembrava que muitas vezes pessoas passavam por ele e diziam coisas que o surpreendiam: " Que fofo". " Que gracinha". " Que criatura adorável". Ele simplesmente não entendia como elas podiam dizer isso... Ele sabia que as pessoas o viam como um bichinho de estimação, um gatinho, um cãozinho mas ninguém o adotava... Ninguém o queria, apenas ganhava aquelas palavrinhas doces. E pensava ás vezes que não era tão repugnante assim. Mas o feitiço da madrasta o fazia pensar que era pior do que ele era. O ogrinho sempre se sentia o mais feio e o mais nojento do mundo... Os outros não o viam com tanto terror quanto ele mesmo o via. Tinha pavor de espelhos e reflexos... Começou a ter pavor da luz. E por isso se escondia nas sombras sempre faminto e cansado.
Depois de muito tempo o ogrinho começou a observar o céu e descobriu uma estrela verde. A cada noite no mesmo horário o ogrinho ficava a observá-la. A medida que o tempo passava a estrela parecia se aproximar. Ela também parecia gostar ou ter pena do ogrinho.
Uma noite muito fria a estrela chegou perto dele e eles conversaram... E a partir de então todas as noites o ogrinho ficava esperando a visita da amiga. Ela vinha devagarinho ás vezes em forma de fada outras vezes em forma de anjo e até mesmo de gladiador esmeralda... Sempre verde.
O ogrinho sorria agora com a estrela e ela lhe curava as feridas. Não todas porque apesar de próxima ela estava a milhares de quilômetros. Mas ela fizera o ogrinho mudar. Ele agora,em sua presença sorria, ás vezes chorava desabafando suas dores. E ele não se importava se ela gostava ou tinha pena ou se como as outras pessoas o via como um bichinho fofo e frágil... Ele apenas ficava feliz com as visitas da amiga.
A medida que o tempo passou com essa amizade o coração do ogrinho também começou a ficar verde da cor da estrela. Ela havia colocado nele a esperança. Ela contava histórias de finais felizes, falava de soluções, inspirava o ogrinho...
Ele ainda continua no seu canto escuro mas todas as noites espera sua estrela.Agora ele sonha... Ele imagina... E agora ele acredita que um dia voltará a ser feliz porque a estrela foi a única no mundo que viu que ele gritava desesperadamente por socorro sem abrir a boca. Ela sentiu todo seu desespero sem uma palavra dita por ele. E ele foi a luz no fim do túnel.
A noite daquela floresta escura agora não é tão terrível assim... Conseguimos ver em meio ás árvores a luz verde que emana dos dois amigos. E eles sabem que essa terra do nunca, terra das privações não é pra sempre... Porque a estrela ensinou ao ogrinho que coisas boas acontecem e que esperança move montanhas. Agora ele tem certeza que voltará a ser um príncipe e irá conquistar uma estrela por mas que a madrasta sopre em seus ouvidos nãos... Ele sabe que será mais feliz do que imagina.