Conto fantástico

Tremam as almas dos que tombaram no campo de batalha porque finda a vida do homem, finda também a esperança, regozijem-se os que com honra encontraram a última morada pois os uivos da desgraça não os podem afligir, suas memórias são como as do samurai que pereceu em combate de morte honrosa e digna, viverão para sempre.

Aos outros, covardes, mentirosos, bêbados, gatunos e prostitutos o seu fim será no lago de fogo que arde para sempre, ninguém se lembrará deles e seus bem despojados de toda a sua nobreza, serão dados aos loucos e aos cães, seu filhos e filhas renegarão o seus sobrenomes e sua linhagem estará perdida para sempre.

Ergam as taças e brindem alegremente aos heróis de Esparta, aos guerreiros que tombaram acreditando em um ideal, não os pranteiem, mas regozijem-se em suas batalhas, o forte jamais perece não morre o verdadeiro guerreiro, ele é eterno nas mentes e nos corações daqueles que o amam, vergonha não há em seus atos, e nem sequer a menor parte de seu ser está contaminada com o opio da preguiça ou o câncer da desonra.

Olhei para o horizonte e vi a fumaça do tropel de cem mil cavaleiros, eles são muitos e nós bem poucos, mas nosso rei nos prometeu a vitória e mesmo que meus inimigos fossem cem vezes mais do que estes e nós apenas dois, meu rei e eu, ainda assim tenho a certeza de minha vitória, que venham os meus inimigos, que se levantem irados e com sangue nos dentes, pois, tombarão ao fio da minha espada, um a um eu os derribarei aos meus pés e suas cabeças rolarão diante do meu rei.

Agora eu já os posso ver com mais nitidez o fogo que sai de suas bocas, suas armaduras vermelhas do sangue de muitos, os cascos de seus cavalos cantarolam a musica da morte, mas não hoje, não aqui, meu rei está aqui e a vitória é nossa, ergam as espadas homens, eles cavalgam como mensageiros da morte, mas hoje eles é que vão perecer, não escapará um só sequer, o rei nos tem os dado em nossas mãos, não recuem sejam fortes não há espaço nestas fileiras para covardes aqui estão os mais valorosos e bravos guerreiros, sintam o chão tremer o tropel aumenta o galope é veloz, gritos de ódio e palavras de blasfêmia são proferidas, firmes agora homens.

Ao primeiro brandir de espadas a peleja começa, em questão de minutos gritos e o barulho de ossos quebrados e crânios partidos, braços e pernas decepadas gritos de pavor tomam o lugar dos gritos de ódio, a barreira não se rompe e os corpos se amontoam o sangue jorra em grandes quantidades, tão grande é a matança que os soldados têm dificuldade em se manter de pé chafurdando em meio a vísceras e sangue.

Quando a batalha se finda uns poucos cavaleiros ainda estão de pé e a imensidão de guerreiros de outrora agora se resume a umas poucas dezenas de soldados desesperados e acovardados, do outro lado os soldados do rei estão exaustos mas vivos, nenhum deles foi gravemente ferido, nenhum pereceu, o campo está tomado de corpos agora, os urubus e hienas já se achegam para cumprir o seu papel, do outro lado o então grandioso exercito se reagrupa, o mestre da escuridão veio ver pessoalmente aquilo que julgava como sendo vitória certa e ao se deparar com a grotesca cena onde milhares de guerreiros fortemente armados tombaram diante de umas poucas centenas de homens a pé armados com pouco mais que espadas e escudos; ele dá um brado de ódio que gela até os corações de seus homens, ele reagrupa suas tropas e parte para uma ultima investida.

Homens, brada o rei, eis que nosso verdadeiro inimigo se aproxima, e vem a nosso encontro com ruria descomunal, ergam seus escudos limpem o sangue de suas espadas a derradeira batalha começa agora, em formação de batalha, um dos generais grita a um grupo que estava mais afastado da formação para que não saíssem de perto do grupo, contudo é tarde demais a onda de cavaleiros do mestre da escuridão está muito próxima deles e os atinge com tudo o que tem, eles não poupam ninguém, em segundos os escudos são partidos e as espadas quebradas, corpos são dilacerados e vísceras expostas eles não tiveram a menor chance ao abandonar a formação, algumas dezenas de bons homens morreram na fúria do ataque, mas a tropa não se intimida, firmes, gritam uns com os outros, avançar, ordena o rei, a tropa avança e o próprio rei com eles a fúria das espadas só é sufocada pelos gritos de dor e de morte, agora homens dos dois lados começam a tombar, curiosamente os que tombam no exercito do rei são mortos não pelos soldados do mestre da escuridão, mas sim pelo próprio que com um único golpe de seu machado despedaçou um homem com escudo e tudo, sua estatura e foça física amedronta os soldados do rei, e o medo os faz perder a fé e isso os leva a morte, os generais tentam manter o moral da tropa elevado mas agora até os soldados do inimigo começam a se elevar diante dos bravos guerreiros do rei, quando no meio da batalha os dois senhores se encontram suas armas e armaduras são sangue e vísceras, o que os difere é o olhar enquanto que o rei, sereno mesmo em meio ao caos reinante sequer está ofegante, o senhor da escuridão está bufando e babando em êxtase pela carnificina que está acontecendo a sua volta, os soldados se afastam ao perceberem que os dois senhores irão batalhar, a cada golpe de suas armas uma onda de choque cria como que um circulo em volta deles que não pode ser penetrado por nenhum homem golpe após golpe o barulho vai se tornando cada vez mais ensurdecedor até que em um rápido movimento o mestre da escuridão consegue ferir o rei, e ao ver o sangue que sai de seu peito e as costelas a mostra ele vibra, o rei ao perceber a gravidade o ferimento olha para sua tropa e vê medo nos olhos de seus homens que começam a perecer, o mestre da escuridão avança para desferir o que seria o golpe de misericórdia no rei que se encontra de joelhos e gravemente ferido, ele esquiva do golpe e em um rápido movimento de sua espada decapita o mestre da escuridão, sua cabeça gira solta no ar e pousa diante de suas tropas que ao verem que o seu mestre estava morto entram e desespero e pavor, por outro lado os poucos remanescentes do rei ao verem a sena recebem uma recarga em seu animo e partem novamente para a batalha cercando e mutilando o restante dos soldados do mestre da escuridão.

No final da batalha não se escutam gritos de comemoração, pais pranteiam filhos, irmãos pranteiam irmãos, e filhos pranteiam pais, amigos pranteiam amigos, a guerra acabou mas a dor prossegue centenas de milhares morreram naquele dia os animais do campo fartos dos cadáveres vão se retirando e nem mesmo os urubus se achegam aos corpos dos soldados mortos, os vivos não são em número suficiente para enterrar os mortos e logo abandonam o campo de batalha, o rei ferido de morte, caminha com dificuldade e é amparado pelo único de seus generais que sobreviveram à batalha e que vos narra os fatos ocorridos, levado de volta a seu castelo, ele continua sua luta, mas desta vez ele luta para viver, as semanas passam e se tornam meses e o homem a beira da morte delirava febril, até que uma manhã de outono ele desperta de sua febre, e ao abrir os olhos ele se vê em sua cama sua ferida ainda doí mas ao menos ele está vivo, um banquete é realizado em homenagem a recuperação do rei mas a paz não vai durar para sempre pois noticias do norte dão conta de que um novo mal se levanta e um exercito poderoso se aproxima, o rei tem menos de um ano para reerguer seu exercito e se preparar para uma nova batalha.