Primavera dos Povos: Parte 1- O Som ao Redor

Kubrick está sentado aos pés do que restou do Everest, trajado de um sobretudo, imaginando um futuro não tão pior qual esse presente.

Ele se levanta, cansado pelos inúmeros treinos, pronto para mais um. Ele empunha sua Katana e a posiciona a sua frente.

-Konton to shita!

Kubrick começa a girar a Katana pelo ar, com efeito nulo da gravidade sobre ela. Ele para e respira, ofegantemente. A Katana treme, junto com sua mão. O ar fica mais denso e caloroso.

-Kanton!

Kubrick coloca a Katana a frente de seu corpo, numa tentativa falha de expandir agressivamente o ar. Seu corpo cai, mas ele se levanta para tentar novamente.

-Kubrick-san! Kubrick-san!

Saru corre desajeitadamente pelo monte. Kubrick não dá atenção e continua o treinamento. Saru tropeça e começa a rolar pelo Everest. Ele para de rolar no momento que chega aos pés de Kubrick, que continua a treinar.

-Kubrick-san! Kubrick-san!

-Eu ouço com os ouvidos, Saru-kun, fale logo.

-Ryuu-sama está convocando-o.

-Para quê?

-Missão nível 10.

-Os Kaiming não podem resolvê-la?

- A missão tem a ver com a grande chama de Jerusalém.

Kubrick para de movimentar a Katana em direção ao Everest.

- Por que vocês não param simplesmente de encher o saco?

Kubrick guarda a Katana na parte posterior da roupa. Ele começa a andar em direção ao leste, com os pés descalços e a cabeça abaixada. Talvez quisesse que o amarelo fossem apenas raios solares.

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-Haru-chan!Haru-chan!

Haru está deitada na cama, olhando para a abobada estrelada no seu teto sujo de poeira e comendo arroz com seus hachis quebrados, mas enrolados por uma fita adesiva.

Ela não liga para o seu cabelo rosa desajeitado, seu corpo sujo de areia e sua roupa nova tirada do lixo, mas a voz de Mao é realmente irritante.

-Estou treinando!

-Com os nuchakus encostados na parede?

Haru cai bruscamente com a cara no chão, assustada com o fato de que Mao está, magicamente, ao lado da sua cama.

- SUA KISAMAAAAAAAA!!! NÃO ME ASSUSTE, SUA LAZARENTA DO DIABO!!!

- Me desculpe, não era a intenção lhe assustar.

- Eu estava no meio de um treinamento importante.

- Deitada na cama?

- É parte do treinamento.

- Okay.

- Por que me chamou?

- Porque a União chamou você.

- Que união?

- Das nações asiáticas.

Haru tenta segurar, mas não consegue.

- *Altas gargalhadas*

Mao tira do bolso um papiro com a assinatura de Ryuu-sama e a imagem dos impérios que sobreviveram ao “Grande Cogumelo”.

Haru começa a parar de gargalhar à medida que vê o papiro. Ela para completamente quando vê a assinatura.

- Não é falso?

- O próprio mensageiro real entregou.

- Chikusho!

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Nas calmas montanhas do Tibet reina o terror e a podridão. Vários corpos, aos montes, jogados no lixo e aqueles que ainda estão vivos, sofrem com fome e doenças. Pálidos e esqueléticos, esperando pela foice da Dona Morte que não vem.

No topo do Tibet, reservado para os calmos monges, agora está o sistema penitenciário Han, com o melhor sistema de tortura da união.

Lee, o mensageiro real, caminha por montanhas rochosas, tropeçando em algumas pedras, para chegar à prisão. Seus pés estão doendo, mas ele esquece a dor, lembrando que tem uma missão.

Dois Kãiming guardam o portão principal. Manchúria, o mais alto e de origem parda, fica em frente ao sistema de código da prisão, enquanto Ghanzhou, mais baixo e de origem africana, fica em frente ao portão. Lee chega ao local e se apresenta.

- Hang Lee, mensageiro real, vim falar com Leonardo “Ramón” Grey. Ele está pronto?

-Sim! Manchúria, abra o portão, eu acompanharei Lee-senpai até a cela especial.

Manchúria coloca a senha no sistema e o portão se abre, dando pra notar as ferrugens. Lee e Ghanzhou entram, mas apenas Lee se espanta. Várias celas e vários corpos vivos sendo decompostos pelos vermes, tanto intestinais, quanto na própria pele.

- Por que eles estão assim? Por que não foram “iluminados”?

- Aqueles que não são especiais, são deixados pra morrer. Para ser um Kãiming, você não precisa apenas querer, tem quer ser um.

Ghanzhou e Lee chegam à cela. Ghan abre ela e lá dentro se vê um homem jovem com cara de velho, com uma grande barba e a roupa cinza de detento.

-Ghanzhou?!

-Não, Muhammad Ali.

-é bem parecido, apesar dele saber o próprio nome.

-Leonardo...

-Você veio falar sobre a minha mudança para Xangai? Se em um futuro hipotético eu for iluminado, não quero ser chamado de Tibet.

-Senhor...

-Não me chame de senhor, isso me torna mais velho.

-Leonardo, eu quero avisar que...

-Ghan, que dia é hoje?

Lee fica um pouco irritado.

-Eu não sei.

-Você sabe que eu sei, idiota.

Ghan fica com uma vontade de afundar o crânio de Leo, mas ele se segura.

-Leonardo!!!

-Oi?

-Você foi convocado pela União.

-Um homicida traidor americano foi convocado pela União?

-Você é bom e isso já é o bastante para Ryuu-sama.

-Eu vou poder sair daqui.

-Sim.

-Quando começo?

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Masumi, em seu esplendoroso kimono, chega a estação da ordem primária asiática, chamando atenção por onde passa, com os seus seios fartos e sua juventude incrivelmente saudável.

-Konnichiwa Masumi.

-Konnichiwa neka.

Masumi solta um sorriso de lado. Masuyo a acompanha até a sala primaria, local fechado e iluminado por um teto de vidro que forma a face do grande herói das nações: Yoru Raiden.

-Kãimings, urai!

Ryuu, em um tom de voz agressivo e explosivo, põem ordem na sala, acabando com os cochichos inevitáveis. Ele assume o papel de líder através da força e do medo, com uma voz que poderia assustar milhares de leões.

-Ryuu-sama, guardemos nossa língua original para situações mais especificas.

Ryota, com sua voz calma e estimulante, pode acalmar milhares de leões.

-Pois bem, Akane, como está a situação dos feudos?

-Alguns solos estão produzindo bem e os senhores feudais estão controlando bem a população.

-Mikio-san!

-A população está calma e apreensiva, com receio de efeitos da radiação, já que a barreira consome muita energia. Creio que a solução é criar uma propaganda e algumas diversões.

-Bota um rock pra tocar e eles vão pirar- Responde Masuyo.

Todos riem menos Ryuu. Ele odeia a despreocupação de Mikio, além de sua preguiça em algumas tarefas, mas o aceita na sala prmária devido o seu parentesco com Yoru Raiden.

-Masumi-chan!

-A nossa relação com outras uniões está esfriando. A união americana está preparada pra uma guerra, mas ainda tem receios de outra bomba da União Soviética, que cortou qualquer laço com nossa união. Já a união europeia está em uma zona neutra perante nós, já que as nações de lá brigam pelo centro de poder europeu. A união africana e da Oceania não representam perigo algum a nós.

Masumi era com certeza centro de atenções. Uma inteligência inesgotável e um corpo bem tentador. Ela mantinha relações com Masuyo, que tinha desejos sexuais selvagens na cama, chegando a níveis masoquistas, diferente do seu irmão, Akane, que era mais solitário e antissocial, com um dia-a-dia mais secreto e amedrontador.

-Masuyo-san?

-Nossa economia está andando á passos curtos, mas pode piorar caso ocorra outro conflito.

-Ok. Agora irei falar do assunto principal, motivo pelo qual chamei vocês. Como já devem saber, convoquei três pessoas para uma missão em Jerusalém.

-Nossos Kãiming não podem resolver essa missão?

-Podem, mas não quero derramar sangue útil.

Todos na sala ficam interessados no que Ryuu está dizendo, no ápice do suspense.

-Como assim, Ryuu-sama?

-A nossa barreira de vento está se desgastando, a magia do Baria está acabando e se acabar, os efeitos do “cogumelo” irão nos afetar. Se fizermos três sacrifícios para a grande chama, utilizando a lança do destino, podemos manter a barreira por mais mil anos.

-Como sabe disso, Ryuu-sama?

-Um informante meu afirmou.

-E ele é confiável?

-Muito.

-Mas tais jovens não são de grande valia?

-Quem vai querer um antissocial solitário e que nem sequer luta nossas guerras, uma jovem inexperiente e do nível mais baixo possível e um traidor americano?

-Mas e se eles não aceitarem e voltarem por vingança?

-Eles não irão, são fracos demais. Eu declaro esta reunião terminada.

-Ittekimasu, Ryuu-sama.

-Itterasshai, Masuyo-san.