Capítulo 2 - O sobrevivente.

Como de costume pela manhã, Léros e Páco cavalgavam pelos campos ao redor das muralhas de Askelon. Seus súditos preparavam os cavalos trajando-lhes com suas armaduras reais, deixando-os a espera de seus senhores, prontos para a partida, amarrados em frente ao celeiro, onde os animais aproveitavam para comer mais um pouco da palha deixada ao alcance de suas bocas.

- Bom dia Filhos da Grande Realeza! - Disse Prome, o chefe da cavalaria, reverenciando-os.

- Bom dia Prome! Como estão nossos cavalos? - perguntou Léros sorrindo.

Páco manteve-se calado e apenas ergueu uma das mãos, acenando para Prome, retornando-lhe o cumprimento.

- Ora Páco, ainda está tão cansado a ponto de não conseguir abrir a boca para cumprimentar este velho companheiro?

-Perdoe-me Prome, não me leve a mal, apenas não sou de falar muito. O senhor sabe.

- Haaaahhh. - Gargalhou Prome.

- Claro que sei Páco. Esquece-se de que há anos te acompanho por essas cavalgadas matutinas?

- Diga-me Prome, teve notícias dos campos? - Perguntou Léros interrompendo-os.

- Sim meu Senhor, o último relatório que recebemos de Tod, trouxe notícias preocupantes, diz que um grupo rebelde, próximo à floresta Cinza, passou a atacar as pessoas que...

- Não seja tolo, Prome. Sabes bem a que me refiro. Coisas “importantes”. – Disse Léros interrompendo-o.

Prome olhou-o com um olhar de surpresa e espanto.

- Se estas notícias não são importantes, então, a que se refere meu Senhor? - perguntou- lhe preocupado.

- Em que mundo você vive Prome? Estou falando de MULHERESSS. Isso sim é importante. - Respondeu-lhe sorrindo e olhando para o nada, como se deslumbrasse uma mulher nua na sua frente.

- Meu Senhor, eu. Eu... - Engasgou Prome ao tentar refletir.

- Esqueça Prome. Vamos cavalgar, sinto que essa manha será “especial”, se é que me entende.

Todos subiram em seus cavalos e dirigiram-se para o portão principal da cidade Askelon. Lá, encontraram mais uma soma de cavalheiros que os acompanhavam em suas cavalgadas. Juntos ganharam velocidade e iniciavam sua volta pelas muralhas.

Askelon era uma fortaleza antiga, construída há tantos anos que ninguém saberia dizer com exatidão sua verdadeira idade ou quantas gerações de reis já haviam passado. As tumbas Reais tinham acesso restrito e ficavam no subsolo do castelo do rei Sólom. Tornando impossível para um cidadão comum descobrir tal informação. – E pra dizer a verdade pouco me importava tal informação.

Os arredores de Askelon eram belos, com campos abertos e ao longe a floresta Cinza, localizada a norte do castelo. Poucos se atreviam a ir lá, diziam que a morte habitava nas copas de suas arvores. Ao Sul do Castelo ficava o rio verde, cujas águas abasteciam a fortaleza por meio de valas e dutos, criados sabe se lá quando. Ao leste e oeste ficavam os vales, que eram cortados pelas estradas que traziam os comerciantes, viajantes e todos os curiosos.

A cavalgada seguia seu rumo costumeiro.

Léros sempre se exibia quando passava pelas jovens que encontrava por acaso no caminho. – Ele só pensava nelas, e fazia tudo para conquista-las e possuí-las escondido, até mesmo da realeza, durante a noite.

Diferente de seu irmão, Páco era um observador nato. Para ele as cavalgadas matutinas serviam apenas para alimentar a sua ciência. Sentia necessidade de conhecer e tomar notas de todos os pontos fortes e fracos de sua fortaleza, saber até onde tinha vista das estradas e se havia algo estranho naqueles belos lugares. Olhando atentamente, percebeu que havia alguma coisa diferente naquela manhã.

- O que é aquilo perto da floresta Cinza? Disse ele apontando.

- Não consigo definir se é um homem ou um animal ferido. – disse Prome.

- Poderia ser uma virgem, perdida, em busca de refugio. - Brincou Léros sorrindo, para logo em seguida, ouvir os risos de parte dos soldados que os acompanhavam.

- Deixe de brincadeira Léros. – Repreendeu-o Páco, com um semblante sério.

- Se for uma pessoa, devemos ajudá-la. Foi isso que o nosso pai nos ensinou, lembra-se?

- Claro que me lembro. – Recobrou-se envergonhado.

- Vamos então. Falou Léros batendo com suas esporas em seu cavalo para ganhar velocidade.

Enquanto se aproximavam, perceberam que aquilo era na verdade um homem. Suas roupas estavam rasgadas, havia sangue por todo o seu corpo, e mal conseguia ficar em pé. Quando finalmente chegaram ao local indicado por Páco, fecharam um cerco ao redor do homem, que já estava estirado ao chão, desmaiado, quase morto.

Rapidamente, Páco e Prome saltaram de seus cavalos e foram acudir aquele homem desconhecido. Vendo a gravidade de seus ferimentos, Páco ordenou a um de seus soldados que o colocasse em seu cavalo e que voltassem imediatamente para o castelo. E assim, eles fizeram, conforme o ordenado.

Aquele homem desconhecido ficou alojado, em um quarto próximo ao castelo, por quase duas semanas até que se recuperou a ponto de conseguir falar.

Ao saber que o homem começara a falar, Páco foi imediatamente para o alojamento. Queria interrogá-lo, pois suas roupas eram distintas e possuíam emblemas desconhecidos por todos.

- Já se passaram duas semanas desde que te encontramos quase morto, próximo à floresta Cinza. Diga-nos, qual o seu nome? Perguntou-lhe.

- Meu nome é Oslaf, grande Senhor. Obrigado por me salvar.

- Oslaf. Hunm. Com certeza não é da região, de onde vem e o que fazes?

- Sou mensageiro do Rei Teuto, moro em um reino muito distante e estava rumando ao sul quando de repente fui emboscado por um bando de salteadores. Tentei negociar com eles, mas me espancaram assim que puderam. – Respondeu-lhe Oslaf.

- E como sobreviveu a tamanho ataque?

- Pura sorte, senhor. Desmaiei e como acordei cheio de sangue, acredito que tenham pensado que eu havia morrido e me abandonaram, levando todo o que possuía.

- Que rei seria tão descuidado a ponto de enviar a terras estrangeiras um mensageiro sem uma escolta?

-Não, meu senhor. Eu tinha um escolta, mas acredito que todos tenham morrido na emboscada, ou tenham sido levados em cativeiro.

- Para onde iria e qual era a sua mensagem?

- Receio não poder lhe contar meu senhor. Jurei minha vida ao rei que eu transmitiria a mensagem apenas para a pessoa indicada antes de minha partida.

- Pois bem, assim seja. Descanse mais um pouco. Você ainda está ferido e precisa de repouso. Em breve terá uma audiência com o rei, meu Pai. – Disse Páco virando lhe às costas, caminhando em direção à porta.

Paulo Gularte
Enviado por Paulo Gularte em 19/02/2014
Código do texto: T4697296
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