O LADRÃO E A MULHER DO ALÉM

 O pano de fundo deste conto que vou narrar - do meu jeito e estilo, para ser coerente com o gênero literário- corre em forma de piadinhas de modos diferentes entre os evangélicos históricos pelo menos, há muitos anos.



Havia um ladrão que ficava todas as noites em frente ao portão do cemitério em plena escuridão. Usava roupa preta e uma meia também preta, de mulher, enfiada na cabeça cobrindo o rosto. Isto lhe dava a impressão de ser uma criatura sem face. A meia não deixava nenhum traço definido.

O cemitério era muito antigo, túmulos velhos enegrecidos pelo tempo e abandono. Havia um bairro pobre na periferia da cidade, com pouca infraestrutura. Sendo um aglomerado distante, ficava atrás do referido cemitério, que a prefeitura também não zelava. Por isso tinha seus muros derrubados e um atalho fundo na terra e na grama, por causa de tanta gente passar para cortar caminho até suas casas. Caso contrário, tinham que dar um volta muito grande, desviando do cemitério.O que o povo fazia - uns com muito medo, outros nem ligavam – era mesmo cortar caminho pelo atalho.

O tal ladrão não era nenhum exemplo de coragem, roubava as pessoas por profissão, mas com o revólver em uma das mãos e o coração na outra; de medo. Mas assim levava seus dias, ou melhor suas noites.

Quando era noite de lua cheia, ele ficava na varandinha do necrotério em frente. Muitas pessoas, principalmente mulheres, chegaram a desmaiar de medo, com bíblia na mão e tudo! Ah! Estava me esquecendo. Existia uma igreja evangélica no início da Avenida da Saudade, lá embaixo, que subindo-a vinha dar no cemitério “Lírio do Campo”. E, o bairro era majoritariamente habitado por evangélicos.

O próprio ladrão que ninguém sabia onde morava, evitava pegar o tal atalho por puro medo de alguma "alma benfazeja o agarrar por castigo", fazendo-o pagar por suas maldades... Só uma vez, que não deu tempo de fugir antes da polícia chegar, teve que atravessar correndo o atalho. Assim mesmo, achou que foi agarrado pelas pernas da calça por algum fantasma. Alguém durante o dia seguinte ao levar umas flores, encontrou um pedaço de pano de roupa pendurado numa cruz de ferro lindeira ao atalho.

Uma noite, porém o ladrão estava no seu posto, lua crescente, quando ouve os passos de alguém que terminava de sair do final da avenida de paralepípedos e iria ingressar rumo ao atalho do cemitério. O fascínora divisa uma figura esquálida, muito magra e alta, toda de preto. Pensou com ele, esse vulto seja o que for nunca foi meu “cliente”, nunca assaltei ninguém parecido com isso...!

O vulto vem se aproximando, usa um véu branco, rendado e longo na cabeça. Ventava muito. O véu esvoaçava em contraponto com a saia larga e longa. Ele vai observando melhor aquela estranha aparição, e os pelos de seus braços vão arrepiando... O vulto vem chegando. Ele vê mal e mal, um rosto muito branco. Pensa: - Essa criatura não tem sangue, ou é só osso, nunca vi ninguém tão magro...

O medo amplia as sensações que tomam posse do inconsciente das pessoas.

O ladrão diz para ele mesmo: - Pronto, tinha que acontecer um dia, achei o que não queria! Olha melhor. Vê nela uma saia preta cobrindo-lhe até rente ao chão. Não vê os pés. O ladrão já acha que a criatura estava levitando... Cadê os pés dessa criatura !!...
Os cabelos pretos como carvão, iam até bem abaixo da cintura.
Ele pensa: - Os cabelos dos mortos continuam a crescer... – ele tinha visto uma vez a exumação de um companheiro de roubos, e viu que o tal, estava cabeludo e barbudo e tinha sido enterrado com cabelos curtos, sem barba ...
- Sou um homem ou um rato! Seja lá o que seja e o que quiser! Vou dar ordem de assalto: - Mãos para o alto... cri-criatura seja d-donde for!!

A criatura, que não era nenhuma alma penada e sim uma evangélica fervorosa, recém-mudada para o bairro, responde com voz gutural:
- ¹“Quando eu era deste mundo”, nunca me havia acontecido tal coisa, agora que ²"não sou mais deste mundo”, me acontesse isso... sou assaltada e...

Não precisou dizer mais nada. O ladrão escafedeu-se da frente dela com tal velocidade, que chegou a derrubar o “seu instrumento de trabalho” no chão, não voltou para pegá-lo, e deve estar correndo por este mundo até hoje...


1. Quando não era convertida
2. Agora que sou convertida
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 28/01/2014
Reeditado em 03/03/2015
Código do texto: T4668441
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