Larilhos de ilusão
Seis horas da manhã, família acordada,o sol ainda morno clareando suavemente minha linda João Pessoa.
O mar à nossa espera, encantamento prestes a se repetir na visão imaginária de uma criança..
Caminhando à pé, como exercício matinal, saindo do bairro Miramar pela avenida Epitacio Pessoa, com destino à praia de Tambaú, meu coração batia mais forte, palpitando de tanta emoção. descendo, um quarteirão após a ponte do rio Jaguaribe estaria a visão que me levava ao mundo da ilusão.
Meu ladrilho de" pedra preciosas" que me faziam viajar pelo mundo da disney, e eu era uma participante desse conto de fadas.
De quem seria aquele tesouro, de uma linda princesa?
Meus ladrilhos coloridos espalhados pelo chão eram quantidades de cacos de vidros espalhados na beira do canteiro da avenida e eu nunca soube o motivo de não serem recolhidos,( para minha alegria infantil).
Eram colocados diariamente?
Sinceramente, não sei!
Cada vez mais assemelhava-se a uma bela estória encantada.
Eram cacos azuis real, verdes oliva, marrons, formando figuras como a de um caleidoscópio, um mosaico de sonhos coloridos, cintilando beleza e refletindo sonho na manina sonhadora de cachos dourados.
Quem os colocaram ali? Quem teria coragem de abandonar coisas tão belas e preciosas ao relento, será que só meus olhos enxergavam tamanha beleza?
As pessoas transitavam indiferentes nos seus pensamentos de adulto e ignoravam a suntuosidade que se esparramava no chão.
Alguém queria dar um arroubo de encantamento ao coração de uma criança loirinha com seus quatro aninhos, muitos cachinhos na cabeça e sonhos no coração e que descia a Epitacio Pessoa puxada delicadamente pelas mãos carinhosas de sua mãe, acompanhada do pai e dos irmãos?
Eles pareciam nada enxergar, nem caso faziam quando eu apontava!
Seria uma fada?
Ou mesmo a Cinderela ou a tagarela Sininho, que me mostravam aquele belo,rico e cintilante tesouro?
Momento mágico!
Já podia avistar o faiscar daquela cena de ilusões que me faziam tanto bem!
Cintilando sob a luz do sol, agora mais robusto, se levantando altaneiro no atlântico horizonte, fazia faiscar a enorme quantidade de caquinhos ali alongados pelos meus olhos que doíam de tanta luz, deitados no chão sob imenso clarão eram mesmo pedras preciosas, topázios, esmeraldas....
Um tesouro encantado, escondendo seus mistérios. Havia algo de inexplicável em se deixar para trás imensurável beleza. O sol, as primeiras visões do mar e aquela cena pareciam quererem disputar a atenção daquele pequenino ser que era eu, e me deixavam inebriada de profunda emoção. Será tesouro de piratas a proximidade do mar me levava a essa possibilidade, ah, os seriados das manhãs de domingo no cine Rex, como me ensinaram coisas!
O sol,os ladrilhos e as águas do mar cintilavam ao mesmo tempo no horizonte de Tambaú trocando luzes incandescentes e eu ficava tonta de tanta emoção, envolvida pela brisa morna e ventilada que só o atlântico podia oferecer.
Cheia de contentamento ria minha alegria, sozinha, Aquele mundo só cabia em mim, feito para mim.
Como chegaram ali, como não recolhiam? Eram mesmo tesouro, quem seria seu guardião?
Nunca obtive a resposta, mas não esquecerei jamais dos ladrilhos de ilusão da avenida Epitacio Pessoa.