Os olhos de Sailor Moon
OS OLHOS DE SAILOR MOON
Miguel Carqueija
(Estamos no início da primeira fase do seriado. A segunda guerreira já apareceu, mas não a terceira.)
—Você sabia – disse Naru (1) – que há um novo parque de diversões no bairro?
— Não, não sabia – respondeu Serena (2). – Onde fica?
— Logo depois do Boulevard das Flores, acho que eu vou até lá depois da aula!
— Eu também quero ir, Naru. Bem... eu gosto de parques, sabe? Mas espero que o Mamoru (3) não vá e que o Motoki (4) vá!
— Você é muito exigente, Serena. Que importa quem vá? Todos têm o direito de ir!
— É, eu sei, infelizmente...
Ami (5) tocou no braço de Serena e olhou em volta. Estavam no recreio, e Naru se afastara.
— Que há? – perguntou Serena.
— Você sabe... ando com medo de tudo o que é novo...
— Oh, pelo amor de Deus, Ami! Você não vai ficar paranóica, vai?
— Sei lá... já vi tanta coisa... você vai lá?
— Eu vou – Serena cruzou os dedos das mãos e seus olhos imensos e lindos assumiram uma expressão sonhadora. –Quem sabe encontro o meu par no Túnel do Amor...
— Não sei não, Serena... nessa vida que a gente está levando, o amor é um pouco difícil... como é que a gente vai conciliar...
— Ora, não seja estraga-prazeres! E cale a boca: vem gente aí!
— Aquele quatro-olhos...
Umino (6) se aproximou das garotas:
— Alô, garotas! Já estão sabendo desse novo parque de diversões?
— Não, é claro que não – respondeu Serena, sarcástica. – Eu acho que só contaram a você.
Ela não gostava daquele tom esganiçado de Umino e com frequência dava-lhe aquelas bandeiras.
Umino, porém, não tomara a sua dose diária de Simancol e insistiu no assunto:
— Pois é, Serena. Eu acho que eu vou lá depois da aula. Quer ir comigo? Quer? Quer? Quer?
(close para Serena cerrando o punho direito e trincando os dentes de raiva. Uma gota lhe escorre da testa.) (7)
— Então está combinado, Serena. Você também vai, não vai, Amy? Não vai? Não vai? Não vai?
-Bem, eu... eu acho...
-Que ótimo! Vejo vocês lá!
Umino se afastou e Amy espalmou as mãos naquele conhecido gesto de “Que se há de fazer?”
Serena, porém, já colocara o indicador diante da boca e sorrindo, os olhos muito abertos, procurava ver o lado bom:
-Lá deve ser muito interessante. Eu preciso fazer alguma coisa diferente! Minha vida anda tão monótona...
-Monótona? Até parece... – suspirou Amy.
..............................................................................................................................
Os olhos de Serena, enormes e expressivos, fitaram o cartaz luminoso do parque. Amy, ao seu lado, olhava tudo atentamente, como a se certificar que não havia, não podia haver nada estranho ali só porque era uma coisa nova e ela estava pensando naquilo.
-Vamos! – disse Serena.
Havia muita gente por lá, inclusive muitos adultos. Serena notou de saída as barraquinhas com algodão-de-açúcar , confeitos de amendoim e outras gulodices de provocar cárie nos dentes. Amy observava com mais atenção as barracas de sanduíches. Aí Serena, não encontrando sorvetes, comprou um algodão doce e dispôs-se a comê-lo, dividindo um pouco com Amy.
-Hum... está pra lá de gostoso, não é, Amy?
-AAAH!!! VOCÊS ESTÃO AÍ!
-AAAAAI!!!
O algodão-de-açúcar escapou das mãos de Serena, com o pulo assustado que ela deu. Umino acabara de surgir com estardalhaço por detrás das duas meninas, ocasionando o desastre. Mais atrás vinha Naru.
-Oh, perdão, Serena, não queria te assustar...
Serena cerrou o punho direito e fuzilou com o olhar para Umino:
-Oh, seu... seu... você me paga!
Umino gritou de medo e fugiu correndo, perdendo-se entre as pessoas que circulavam no parque. Um tanto espantada com a reação do garoto, Serena observou:
-Porque será que o Umino tem tanto medo de mim?
-Talvez ele não tivesse tanto medo – opinou Naru – se você não batesse tanto nele...
Amy pegou Serena pelo braço:
-Venha, vamos no trem-fantasma...
-Eu vou buscar o Umino – disse Naru.- É melhor nos separarmos.
Serena sacudiu o braço:
-Não quero ir no trem-fantasma. Quero ir no túnel do amor! É tão romântico!
-E a quem você irá abraçar e beijar lá dentro? Você nem sequer tem namorado!
Serena fechou os punhos de entusiasmo, com os braços dobrados para cima, e seus olhos pareciam duas estrelas:
-Quem sabe o Tuxedo Kamen aparece lá dentro! (8)
-Serena, você é incorrigível!
.....................................................................
-Que coisa chata... – murmurou Amy. – Viajar no túnel do amor, sentada bem ao lado da Serena...
-Imagine que nós estamos com os nossos namorados – respondeu Serena, sussurrando.
Amy cruzou os braços, amuada. Uma menina morena e bonita, de aspecto muito sério, que contrastava com a loura e esfuziante Serena.
-Olha só aquele cupido... sussurrou Serena.
Amy olhou, desinteressada. Serena já viajava. O cupido lembrava-lhe do amor, dos apaixonados e isso mexia com o seu coração de 14 anos. Nessa hora os seus olhos adquiriam um ar romântico, sonhador, tipo estou-nas-nuvens.
“Que estranho”, pensou Amy. “Poderia jurar que o cupido piscou para nós.”
-Serena...
Amy tocou o braço da amiga e, não obtendo reação, sacudiu-o.
-Hein? O que foi?
-O que há com você?
-Nada, eu acho... porque estamos falando tão baixo?
-Porque sim.
-Porque sim não é uma boa resposta, Amy.
-Espere aí. E não olhe nos olhos dos cupidos.
Serena fitou Amy, espantada. A moreninha Amy colocou seus óculos especiais e pegou seu computador de bolso.
-Não pode haver nada errado aqui...
-É claro que pode – respondeu Amy. – Há uma energia maligna em ação nesse parque.
-A propósito... quando é que esse túnel termina?
-E as outras pessoas... os casais... ficaram tão silenciosos!
-É claro! – Serena sobressaltou-se. – Estão todos em transe!
-Vamos ter que fazer alguma coisa!
-E Umino e Naru? Devem estar no trem-fantasma!
-Deixa eu ver se acho quem manipula isso... de qualquer forma esse túnel já ultrapassou a nossa dimensão.
Os olhos de Serena se arregalaram:
-Meu Deus, o que está acontecendo? Como podemos estar em outra dimensão?
-É por isso que esse túnel pode prolongar-se indefinidamente, muito além do espaço físico do parque.
-Mas, Amy, se as pessoas que estão aqui desaparecem no nada... isso seria notado!
-É claro... as pessoas devem voltar... mas manipuladas...
-Então chega! Vamos nos transformar!
Amy e Serena invocaram os poderes aos quais estavam vinculadas. Um turbilhão de luz sobrenatural as envolveu, escondeu de olhos profanos a sua subita nudez e a transformação fabulosa se deu, revelando as marinheiras-guerreiras Mercúrio e Lua, com seus diademas do poder. Saltaram do vagão e correram por um túnel escuro que parecia já não ter fim.
-Veja, Sailor Moon! – disse Mercúrio. –Estamos numa dobra dimensional, ou seja em parte alguma, e a fonte disso tudo está à esquerda...
-Mas está tudo tão escuro! Aliás, isso não parece um lugar real... parece que estamos ao ar livre, mas não há sol e nem estradas... parece um lugar virtual...
-E talvez seja... espere! Quem vem lá?
Era uma figura encapuçada, parecendo até a Morte. Movia-se sinistra e silenciosamente em direção às sailor-scouts, em meio às cintilações e filigranas que agora povoavam aquele espaço misterioso.
-Pare! – gritou Sailor Moon. –Quem é você, afinal?
-Eu venho de um tempo esquecido - disse uma voz cavernosa – e me alimento dos medos e dos sonhos das pessoas. Passei por várias épocas com o meu parque e assim permaneci vivo enquanto os outros morriam. É uma pena que vocês tenham descoberto a minha armadilha, pois agora terão de morrer.
-Não tem nada a ver com as Malignas... –sussurrou Amy.
-Não me importa! – Sailor Moon estava indignada. – Não é justo que você se aproveite assim das pessoas, como um vampiro, sugando as suas fantasias e os seus sentimentos. Você vem de algum tempo em que havia magia na Terra, mas usou mal os seus dons... só para se aproveitar dos outros! E isso eu não aceito! Não admito!
-E quem é você, eu posso saber?
-Eu sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça! Sou Sailor Moon! E punirei você... em nome da Lua!
-Não conheço o tipo de magia que vocês usam... mas não poderão com alguém que acumulou energia durante séculos!
-É isso... – a moreninha Mercury, preocupada, examinava a sua telinha. –Há muito eletromagnetismo no século XX, e a energia que esse camarada acumulou não tem mais por onde segurar... vai haver uma reversão catastrófica, essa energia tem que ser liberada...
A figura encapuçada fez aparecer um sabre flamejante e apontou-o para Sailor Mercúrio:
-O que está dizendo, sua pateta? Não vão conseguir me enrolar... vocês agora vão morrer!
Sailor Moon retirou o diadema da cabeça:
-Tiara lunar... ação!
O diadema tornou-se luminoso e procurou o mago. Este interpôs o sabre. Produziu-se uma explosão que jogou as “sailor-scouts” ao chão, entre gritos juvenis. Amy ajudou Serena a se erguer... a tempo de perceberem o turbilhão que envolveu o mago e que começou a sugar tudo em volta, como um redemoinho fantástico.
-Não podem fazer isso... se eu voltar no tempo, perderei toda a energia acumulada durante milênios...
-De onde será que ele veio? – indagou Serena.
-De algum lugar do passado mítico... Lemúria, Hiperbórea, Atlântida, quem sabe? Vamos embora daqui!
-Para onde?
-Siga-me, Sailor Moon! Vou seguir as indicações aqui da tela! Temos de voltar para o mundo real!
Correram, correram e correram... até pisar de novo um chão que podia ser visto.
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
O parque parecia normal à luz do dia. O túnel do amor funcionava normalmente, bem como o trem-fantasma. Os funcionários pareciam normais. Serena e Amy já haviam, naturalmente, revertido às suas identidades comuns.
-Lá vêm Naru e Umino – disse Serena. –Será que aconteceu alguma coisa com eles?
-Não creio. O intruso que estava manipulando o parque não teve tempo de conectar o trem-fantasma em sua armadilha. Foi isso que o esquema da tela me mostrou.
O olhar de Serena revelou alívio:
-Então, graças a Deus, acabou... já bastam os demônios do Negaverso (9) para ocupar a gente!
1) Naru: na dublagem brasileira é conhecida por Molly. Trata-se da ruivinha da escola, apresentada no primeiro capítulo como a melhor amiga de Serena. Esse detalhe fica ultrapassado com o paulatino aparecimento das guerreiras, que vão formando um grupo inseparável, deixando Naru em segundo plano na amizade de Serena.
2) Serena: é a Sailor Moon, a grande heroína criada por Naoko Takeushi no mangá lançado em 1992, logo seguido pela série de tv. No original Serena é Usagi, Tsukino Usagi (a Coelha da Lua) mas é evidente que seu nome ocidental é mais apropriado.
3) Mamoru: conhecido nos Estados Unidos e no Brasil como Darien, vem a ser o namorado de Serena, ainda que no início da série eles troquem farpas, já que ele não sabe que ela é Sailor Moon e ela não sabe que ele é o Tuxedo Kamen, e que eles já se amavam no antigo Milênio de Prata da Lua.
4) Motoki: é o boa-pinta Andrew, primeiro amor de Serena. É o rapaz alourado da loja de jogos eletrônicos, que inclusive tem o da Sailor Vênus. Serena o ama platonicamente e sonha que ele se declare, o que jamais acontece. Nos primeiros episódios Serena antipatiza com Mamoru e acalenta dois amores: Motoki e Tuxedo Kamen.
5) Amy: a Sailor Mercúrio tem mesmo esse nome no original, só que com a grafia Ami e é a estudante de maiores notas no Japão. É a geniazinha da equipe das marinheiras-guerreiras.
6) Umino: é o Kelvin ou Kevin, o nerd da turma de Serena e Naru, um garoto espalhafatoso e ridículo. No início ele é apaixonado por Serena, mas depóis transfere sua paixão para Naru, que termina por aceitá-lo.
7) a famosa gota dos desenhos japoneses significa o constrangimento – como se alguma coisa estivesse empurrando a sua cabeça para baixo.
8) Tuxedo Kamen – ou Tuxedo Mask, ou seja o Mascarado de Fraque. Trata-se do Príncipe Endymion do tempo do Milênio de Prata da Lua, que no século XX é o Mamoru, o Mamo-Chan de Serena (o "Chan” é uma forma carinhosa, algo assim como “querido Mamoru”), o Darien na versão norte-americana, que ficou assim também no Brasil. Pela roupa assemelha-se ao Mandrake, e sua técnica de luta é “sui-generis”, incluindo as rosas petrificadas que ele arremessa.
9) O seriado de tv de Sailor Moon (da Toei) divide-se em cinco fases. A primeira, conhecida simplesmente como fase Sailor Moon (as outras são Sailor Moon R, S, Super S e Stars), poderia ser a fase Negaverso. È o Reino Escuro, de onde vêm as malignas e os misteriosos generais (Jedyte, Neflite, Zyocite e Malachite). O grupo maligno é chefiado pela Rainha Beryl, que porém segue as instruções de uma entidade que pode também ser nomeada como Negaverso, ou o demônio do universo negativo. Esta primeira fase culmina de maneira apoteótica, quando uma Sailor Moon mais segura de si e com poderes ampliados trava um combate heróico e final com Beryl, pela salvação da Terra.
A história aqui contada insere-se entre os capítulos oito e dez, ou seja após o aparecimento de Sailor Mercúrio e antes que Sailor Marte apareça.
Uma nova série foi produzida na década atual.
(imagem do seriado)
OS OLHOS DE SAILOR MOON
Miguel Carqueija
(Estamos no início da primeira fase do seriado. A segunda guerreira já apareceu, mas não a terceira.)
—Você sabia – disse Naru (1) – que há um novo parque de diversões no bairro?
— Não, não sabia – respondeu Serena (2). – Onde fica?
— Logo depois do Boulevard das Flores, acho que eu vou até lá depois da aula!
— Eu também quero ir, Naru. Bem... eu gosto de parques, sabe? Mas espero que o Mamoru (3) não vá e que o Motoki (4) vá!
— Você é muito exigente, Serena. Que importa quem vá? Todos têm o direito de ir!
— É, eu sei, infelizmente...
Ami (5) tocou no braço de Serena e olhou em volta. Estavam no recreio, e Naru se afastara.
— Que há? – perguntou Serena.
— Você sabe... ando com medo de tudo o que é novo...
— Oh, pelo amor de Deus, Ami! Você não vai ficar paranóica, vai?
— Sei lá... já vi tanta coisa... você vai lá?
— Eu vou – Serena cruzou os dedos das mãos e seus olhos imensos e lindos assumiram uma expressão sonhadora. –Quem sabe encontro o meu par no Túnel do Amor...
— Não sei não, Serena... nessa vida que a gente está levando, o amor é um pouco difícil... como é que a gente vai conciliar...
— Ora, não seja estraga-prazeres! E cale a boca: vem gente aí!
— Aquele quatro-olhos...
Umino (6) se aproximou das garotas:
— Alô, garotas! Já estão sabendo desse novo parque de diversões?
— Não, é claro que não – respondeu Serena, sarcástica. – Eu acho que só contaram a você.
Ela não gostava daquele tom esganiçado de Umino e com frequência dava-lhe aquelas bandeiras.
Umino, porém, não tomara a sua dose diária de Simancol e insistiu no assunto:
— Pois é, Serena. Eu acho que eu vou lá depois da aula. Quer ir comigo? Quer? Quer? Quer?
(close para Serena cerrando o punho direito e trincando os dentes de raiva. Uma gota lhe escorre da testa.) (7)
— Então está combinado, Serena. Você também vai, não vai, Amy? Não vai? Não vai? Não vai?
-Bem, eu... eu acho...
-Que ótimo! Vejo vocês lá!
Umino se afastou e Amy espalmou as mãos naquele conhecido gesto de “Que se há de fazer?”
Serena, porém, já colocara o indicador diante da boca e sorrindo, os olhos muito abertos, procurava ver o lado bom:
-Lá deve ser muito interessante. Eu preciso fazer alguma coisa diferente! Minha vida anda tão monótona...
-Monótona? Até parece... – suspirou Amy.
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Os olhos de Serena, enormes e expressivos, fitaram o cartaz luminoso do parque. Amy, ao seu lado, olhava tudo atentamente, como a se certificar que não havia, não podia haver nada estranho ali só porque era uma coisa nova e ela estava pensando naquilo.
-Vamos! – disse Serena.
Havia muita gente por lá, inclusive muitos adultos. Serena notou de saída as barraquinhas com algodão-de-açúcar , confeitos de amendoim e outras gulodices de provocar cárie nos dentes. Amy observava com mais atenção as barracas de sanduíches. Aí Serena, não encontrando sorvetes, comprou um algodão doce e dispôs-se a comê-lo, dividindo um pouco com Amy.
-Hum... está pra lá de gostoso, não é, Amy?
-AAAH!!! VOCÊS ESTÃO AÍ!
-AAAAAI!!!
O algodão-de-açúcar escapou das mãos de Serena, com o pulo assustado que ela deu. Umino acabara de surgir com estardalhaço por detrás das duas meninas, ocasionando o desastre. Mais atrás vinha Naru.
-Oh, perdão, Serena, não queria te assustar...
Serena cerrou o punho direito e fuzilou com o olhar para Umino:
-Oh, seu... seu... você me paga!
Umino gritou de medo e fugiu correndo, perdendo-se entre as pessoas que circulavam no parque. Um tanto espantada com a reação do garoto, Serena observou:
-Porque será que o Umino tem tanto medo de mim?
-Talvez ele não tivesse tanto medo – opinou Naru – se você não batesse tanto nele...
Amy pegou Serena pelo braço:
-Venha, vamos no trem-fantasma...
-Eu vou buscar o Umino – disse Naru.- É melhor nos separarmos.
Serena sacudiu o braço:
-Não quero ir no trem-fantasma. Quero ir no túnel do amor! É tão romântico!
-E a quem você irá abraçar e beijar lá dentro? Você nem sequer tem namorado!
Serena fechou os punhos de entusiasmo, com os braços dobrados para cima, e seus olhos pareciam duas estrelas:
-Quem sabe o Tuxedo Kamen aparece lá dentro! (8)
-Serena, você é incorrigível!
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-Que coisa chata... – murmurou Amy. – Viajar no túnel do amor, sentada bem ao lado da Serena...
-Imagine que nós estamos com os nossos namorados – respondeu Serena, sussurrando.
Amy cruzou os braços, amuada. Uma menina morena e bonita, de aspecto muito sério, que contrastava com a loura e esfuziante Serena.
-Olha só aquele cupido... sussurrou Serena.
Amy olhou, desinteressada. Serena já viajava. O cupido lembrava-lhe do amor, dos apaixonados e isso mexia com o seu coração de 14 anos. Nessa hora os seus olhos adquiriam um ar romântico, sonhador, tipo estou-nas-nuvens.
“Que estranho”, pensou Amy. “Poderia jurar que o cupido piscou para nós.”
-Serena...
Amy tocou o braço da amiga e, não obtendo reação, sacudiu-o.
-Hein? O que foi?
-O que há com você?
-Nada, eu acho... porque estamos falando tão baixo?
-Porque sim.
-Porque sim não é uma boa resposta, Amy.
-Espere aí. E não olhe nos olhos dos cupidos.
Serena fitou Amy, espantada. A moreninha Amy colocou seus óculos especiais e pegou seu computador de bolso.
-Não pode haver nada errado aqui...
-É claro que pode – respondeu Amy. – Há uma energia maligna em ação nesse parque.
-A propósito... quando é que esse túnel termina?
-E as outras pessoas... os casais... ficaram tão silenciosos!
-É claro! – Serena sobressaltou-se. – Estão todos em transe!
-Vamos ter que fazer alguma coisa!
-E Umino e Naru? Devem estar no trem-fantasma!
-Deixa eu ver se acho quem manipula isso... de qualquer forma esse túnel já ultrapassou a nossa dimensão.
Os olhos de Serena se arregalaram:
-Meu Deus, o que está acontecendo? Como podemos estar em outra dimensão?
-É por isso que esse túnel pode prolongar-se indefinidamente, muito além do espaço físico do parque.
-Mas, Amy, se as pessoas que estão aqui desaparecem no nada... isso seria notado!
-É claro... as pessoas devem voltar... mas manipuladas...
-Então chega! Vamos nos transformar!
Amy e Serena invocaram os poderes aos quais estavam vinculadas. Um turbilhão de luz sobrenatural as envolveu, escondeu de olhos profanos a sua subita nudez e a transformação fabulosa se deu, revelando as marinheiras-guerreiras Mercúrio e Lua, com seus diademas do poder. Saltaram do vagão e correram por um túnel escuro que parecia já não ter fim.
-Veja, Sailor Moon! – disse Mercúrio. –Estamos numa dobra dimensional, ou seja em parte alguma, e a fonte disso tudo está à esquerda...
-Mas está tudo tão escuro! Aliás, isso não parece um lugar real... parece que estamos ao ar livre, mas não há sol e nem estradas... parece um lugar virtual...
-E talvez seja... espere! Quem vem lá?
Era uma figura encapuçada, parecendo até a Morte. Movia-se sinistra e silenciosamente em direção às sailor-scouts, em meio às cintilações e filigranas que agora povoavam aquele espaço misterioso.
-Pare! – gritou Sailor Moon. –Quem é você, afinal?
-Eu venho de um tempo esquecido - disse uma voz cavernosa – e me alimento dos medos e dos sonhos das pessoas. Passei por várias épocas com o meu parque e assim permaneci vivo enquanto os outros morriam. É uma pena que vocês tenham descoberto a minha armadilha, pois agora terão de morrer.
-Não tem nada a ver com as Malignas... –sussurrou Amy.
-Não me importa! – Sailor Moon estava indignada. – Não é justo que você se aproveite assim das pessoas, como um vampiro, sugando as suas fantasias e os seus sentimentos. Você vem de algum tempo em que havia magia na Terra, mas usou mal os seus dons... só para se aproveitar dos outros! E isso eu não aceito! Não admito!
-E quem é você, eu posso saber?
-Eu sou uma guerreira que luta pelo Amor e pela Justiça! Sou Sailor Moon! E punirei você... em nome da Lua!
-Não conheço o tipo de magia que vocês usam... mas não poderão com alguém que acumulou energia durante séculos!
-É isso... – a moreninha Mercury, preocupada, examinava a sua telinha. –Há muito eletromagnetismo no século XX, e a energia que esse camarada acumulou não tem mais por onde segurar... vai haver uma reversão catastrófica, essa energia tem que ser liberada...
A figura encapuçada fez aparecer um sabre flamejante e apontou-o para Sailor Mercúrio:
-O que está dizendo, sua pateta? Não vão conseguir me enrolar... vocês agora vão morrer!
Sailor Moon retirou o diadema da cabeça:
-Tiara lunar... ação!
O diadema tornou-se luminoso e procurou o mago. Este interpôs o sabre. Produziu-se uma explosão que jogou as “sailor-scouts” ao chão, entre gritos juvenis. Amy ajudou Serena a se erguer... a tempo de perceberem o turbilhão que envolveu o mago e que começou a sugar tudo em volta, como um redemoinho fantástico.
-Não podem fazer isso... se eu voltar no tempo, perderei toda a energia acumulada durante milênios...
-De onde será que ele veio? – indagou Serena.
-De algum lugar do passado mítico... Lemúria, Hiperbórea, Atlântida, quem sabe? Vamos embora daqui!
-Para onde?
-Siga-me, Sailor Moon! Vou seguir as indicações aqui da tela! Temos de voltar para o mundo real!
Correram, correram e correram... até pisar de novo um chão que podia ser visto.
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O parque parecia normal à luz do dia. O túnel do amor funcionava normalmente, bem como o trem-fantasma. Os funcionários pareciam normais. Serena e Amy já haviam, naturalmente, revertido às suas identidades comuns.
-Lá vêm Naru e Umino – disse Serena. –Será que aconteceu alguma coisa com eles?
-Não creio. O intruso que estava manipulando o parque não teve tempo de conectar o trem-fantasma em sua armadilha. Foi isso que o esquema da tela me mostrou.
O olhar de Serena revelou alívio:
-Então, graças a Deus, acabou... já bastam os demônios do Negaverso (9) para ocupar a gente!
1) Naru: na dublagem brasileira é conhecida por Molly. Trata-se da ruivinha da escola, apresentada no primeiro capítulo como a melhor amiga de Serena. Esse detalhe fica ultrapassado com o paulatino aparecimento das guerreiras, que vão formando um grupo inseparável, deixando Naru em segundo plano na amizade de Serena.
2) Serena: é a Sailor Moon, a grande heroína criada por Naoko Takeushi no mangá lançado em 1992, logo seguido pela série de tv. No original Serena é Usagi, Tsukino Usagi (a Coelha da Lua) mas é evidente que seu nome ocidental é mais apropriado.
3) Mamoru: conhecido nos Estados Unidos e no Brasil como Darien, vem a ser o namorado de Serena, ainda que no início da série eles troquem farpas, já que ele não sabe que ela é Sailor Moon e ela não sabe que ele é o Tuxedo Kamen, e que eles já se amavam no antigo Milênio de Prata da Lua.
4) Motoki: é o boa-pinta Andrew, primeiro amor de Serena. É o rapaz alourado da loja de jogos eletrônicos, que inclusive tem o da Sailor Vênus. Serena o ama platonicamente e sonha que ele se declare, o que jamais acontece. Nos primeiros episódios Serena antipatiza com Mamoru e acalenta dois amores: Motoki e Tuxedo Kamen.
5) Amy: a Sailor Mercúrio tem mesmo esse nome no original, só que com a grafia Ami e é a estudante de maiores notas no Japão. É a geniazinha da equipe das marinheiras-guerreiras.
6) Umino: é o Kelvin ou Kevin, o nerd da turma de Serena e Naru, um garoto espalhafatoso e ridículo. No início ele é apaixonado por Serena, mas depóis transfere sua paixão para Naru, que termina por aceitá-lo.
7) a famosa gota dos desenhos japoneses significa o constrangimento – como se alguma coisa estivesse empurrando a sua cabeça para baixo.
8) Tuxedo Kamen – ou Tuxedo Mask, ou seja o Mascarado de Fraque. Trata-se do Príncipe Endymion do tempo do Milênio de Prata da Lua, que no século XX é o Mamoru, o Mamo-Chan de Serena (o "Chan” é uma forma carinhosa, algo assim como “querido Mamoru”), o Darien na versão norte-americana, que ficou assim também no Brasil. Pela roupa assemelha-se ao Mandrake, e sua técnica de luta é “sui-generis”, incluindo as rosas petrificadas que ele arremessa.
9) O seriado de tv de Sailor Moon (da Toei) divide-se em cinco fases. A primeira, conhecida simplesmente como fase Sailor Moon (as outras são Sailor Moon R, S, Super S e Stars), poderia ser a fase Negaverso. È o Reino Escuro, de onde vêm as malignas e os misteriosos generais (Jedyte, Neflite, Zyocite e Malachite). O grupo maligno é chefiado pela Rainha Beryl, que porém segue as instruções de uma entidade que pode também ser nomeada como Negaverso, ou o demônio do universo negativo. Esta primeira fase culmina de maneira apoteótica, quando uma Sailor Moon mais segura de si e com poderes ampliados trava um combate heróico e final com Beryl, pela salvação da Terra.
A história aqui contada insere-se entre os capítulos oito e dez, ou seja após o aparecimento de Sailor Mercúrio e antes que Sailor Marte apareça.
Uma nova série foi produzida na década atual.
(imagem do seriado)