O Trono Tomado – Cap. 3
Sah recuou um largo passo quando Oruna lhe apontou o animal. Seus dedos das mãos enrijeceram e lhe subiu um arrepio das pernas que percorreu todo o corpo. Somado a tais efeitos também podia-se apontar seus olhos esbugalhados e seu semblante com varias rugas de repulsa. Tudo cooperava para evidenciar seu medo do bicho.
— Uma aranha?! — Ela mais exclamou que indagou, e quase fora num tom gritado.
O animal desceu do teto por uma teia rente a parede e pousou certeiramente no ombro direito de Oruna. Era completamente negra, igual a noite sem lua. E ao que parecia, seus olhos, muitos por sinal, estavam todos direcionados aos dois garotos a sua frente.
— Não é só uma aranha. É Orrariona, a aranha. — Oruna posicionou sua mão próximo as patas dianteiras do animal e este subiu em sua palma, era tão grande que preencheu toda a mão do velho. — Não é um belo aracnídeo? — Apontou-a a Sah e Élian.
— Claro que não! — Disse Sah, sem hesitar. Depois deu outro passo, agora puxando o irmão e o escondendo atrás de si.
O velho sorriu disfarçadamente e num gesto de afago acariciou a aranha. Depois de ouvir aquelas palavras o animal precisaria de uma mão amiga.
— Não fique assim não, Orrariona, ela não quis dizer o que disse...
Oruna encenou todo o drama como o melhor dos artistas, mesmo não conhecendo a arte da atuação, a arte que vivia principalmente nos centros dos castelos, e fora assistido em seu teatro por dois olhares distintos, vindos de semblantes resignados. No silencio que se estabelecera, através de seus olhos claros Sah demonstrava continuamente sua inflexibilidade quanto ao bicho. Porem Élian, surpreendentemente, trazia na face um que de admiração, o completo oposto de Sah. Entretanto estava bem seguro pela irmã e impedido de qualquer ação desajuizada.
Inevitavelmente passou pela cabeça de da garota que Oruna era um velho louco. Suas roupas em trapo, sua casa muito velha, e agora uma aranha que inexplicavelmente parecia responder ao seu chamado, só lhe fazia firmar ainda mais nessa ideia. Porem, todos esses fatos não fazia dele um louco inconsequente, era simplesmente um louco. Entretanto, agora havia surgido uma possibilidade agravante. E se a aranha fosse venenosa?
Sah ponderou o fato e então indagou o velho.
— O senhor não tem medo?
— De que?
— ...E se ela tiver veneno?
Oruna pousou a aranha sobre a mesa e deixou a pergunta de Sah pairar por alguns segundos no ar da cozinha. Élian de repente se soltou dos braços da irmã e se aproximou da mesa. Por fim o velho disse.
— Se quer mesmo saber, ela é muito venenosa... — Em um primeiro momento permitiu sua frase sair com tom de intimidação, e até viu o crispar mais saliente no rosto de Sah, porem logo em seguida quebrou, sem receio, o ar sério de suas palavras. — ...Mas não é tão perigosa como seu semblante acredita que seja.
Sah lhe entregou um olhar incrédulo.
— E como o senhor sabe?
— Ora, eu a conheço. Você atacaria um amigo?
— Ninguém é amigo de uma aranha, muito menos venenosa. O senhor deveria ter...
— Cuidado? Não tenho o que temer... — De repente lhe ocorreu a lembrança do fim de uma história que há muito não ouvia, e que caberia perfeitamente entre eles. Seu desejo por ouvi-la novamente aumentou e então decidiu que era hora de desperta-la. — Vocês gostam de histórias?
A mudança repentina de ideia deixou Sah um tanto confusa. Mas depois de se estabelecer novamente, assentiu com a cabeça.
— Então esperem um pouco...Só preciso encontrar... — Oruna vasculhou a cozinha e perambulou por toda a casa. Tornou a repetir a tarefa e nada; via-se que não era muito organizado. Até que, depois de uma luta ferrenha com suas velharias, voltou do quarto trazendo uma considerável soma de pequenos papeis unidos por uma capa de couro. — Aqui está! Sentem-se.