Os dez anjos

Cap. I - Éden negro

Num paraiso negro e iludico, aos cantos enxergo, caídos, anjos iluminados por fagulhas de tristezas. Asas quebradas, feridas expostas, e o vazio na face e no brilho.

Tantas vezes roguei socorro aos céus, e agora estou diante de tantos anjos clamando minha ajuda. Cada passo dado é de encontro a uma criatura em desespero e apavorada, se desfazendo em prantos. Sempre acreditei que os anjos eram protegidos pelo próprio Criador, mas parece que Deus anda atarefado com a sua criação mais problemática e dessa vez deixou os anjos a sua própria força.

Cada passo que dou, penso fortemente "acorda"... ainda não sei exatamente se é realidade ou fantasia essa minha passagem, e o motivo e a forma que cheguei nesse lugar. E que lugar é esse?

Me desperta a atenção uma espécie de macieira adoecida, coberta de fuligem negra e com redondas maçãs, tão suculentas que chega a aguar minha boca seca. Me sinto hipnotizado, a ponto de não me importar com a situação a minha volta. Uma fadiga sufocante toma conta do meu corpo. Um calor infernal me toma, suor frio escorre pela minha nuca oriçando todos os pêlos do meu corpo. Pela primeira vez sinto-me desesperado a saborear algo, chega ser delirante, tenho sede de devorar uma maçã.

Meu semblante muda drásticamente, estou em fúria. Corro em desespero até a macieira, piso em asas, pulo corpos e abraço a macieira adoecida.

Meu coraçao acelera, a ponto de não ouvir nada além das batidas do meu orgão. Estendo a mão até o galho que parece balançar para mim. Minha mão toca a vermelha fruta. O mais vivo vermelho que já vi na minha vida, o vermelho parecia desprender da fruta e tomar conta da minha mão, sentia a ardência consumir meus membros. Tenho certeza que meus olhos refletiam aquele vermelho vibrante, não conseguia resistir, já não tinha poder sobre meus movimentos e a fruta vinha em direção a minha boca. Prestes a primeira mordida, sinto o ar flajelar meus membros, não consegui identificar quem ou o quê retirou de minhas mãos a tão suculenta fruta. E sinto-me recordar a consciência em minutos anteriores sem qualquer noção de realidade. Agora vejo que aquilo que bruscamente retirou de minhas mãos o litio do desejo, esta pregado numa arvoré menos castigada a minha esquerda, e em forma de uma reluzente flecha dourada.

Olhei ao redor e percebi a figura magnifica me olhando e me repreendendo com um aceno negativo. Os olhos azuis, um azul turquesa que cegava mesmo de longe, me fitava firmemente. Cabelos castanho perolado caídos sobre as orelhas, a boca avermelhada contrastava com a límpida pele branca.

Aparentemente é a primeira figura consciente ao meu redor, e vindo em minha direção, e finalmente terei a oportunidade de fazer meus questionamentos. Mas ainda me sinto amedrontado, pois percebo o arco em punho. O suor corre em minha testa, e minhas narinas percebem o doce cheiro de framboesa exalando e superando o odor misturado de queimada e terra. Será dele?

- Adriel.... é assim que sou convocado no paraíso.

Respiro fundo...

Por mais estranho que pareça estou em calmaria ao ouvir da boca dele essas palavras. Respiro fundo!

- Você é um anjo?

- Assim os semelhantes nos chamam.

- Semelhantes?

Minha cabeça em nós, o quê seria exatamente "semelhantes"? Na verdade tenho tantas questões, dúvidas, e tudo mais que a cabeça humana não decifra num momento de desespero. Mas ainda me pergunto o motivo da minha calmaria quando ele cantarola. Observo agora que seus calcanhares têm marcas, e não entendo por quê ele se diz anjo sendo que não há asas em suas costas?

-Semelhantes ao Criador. Vocês se denominam humanos, eu sou um Guarda de Luz ou Mensageiro. Temos a dura tarefa de guardar a luz da vida de cada um dos Semelhantes que estão de passagem pelo Circulo de limpeza, ou como você conhece, a Terra.

Agora minha cabeça esta em total bagunça. Quero clarear minhas dúvidas, mas são tantas.

- Acho que estou enlouquecendo... estou sonhando? Que lugar é esse? Como e por quê estou aqui?

Respiro fundo, ele se vira fita meus olhos e sorri angelical para mim.

-Você está no Édem, conhece bem toda a história certamente com suas inúmeras variações. Aqui é um refúgio para todos os Guardas de Luz, a decadência que esta vendo a sua volta é resultado da guerra que travamos com os Rebelados, que depois de tantos milênios voltaram para recrutar novos descrentes.

Você está no estado de Ligação; quando seu corpo de circulo ainda está no processo de passagem ou como você conhece, vivo, e seu corpo de luz tem a oportunidade ... da recordação ou conhecimento absoluto, ou seja, a oportunidade de ascender aos outros mundos governados pelo Criador.