O Menino e As Roseiras
Foi amor a primeira vista. Jamais vira em sua jovem existência nada tão belo. Sentou-se na beira da estrada enlameada e ficou admirando as cores e formas das rosas. Suas lágrimas de encantamento uniam-se as da fina chuva que caia desde o início da noite passada, noite passada na rua como tantas e tantas noites na vida daquele menino. E ele sorria, sorria maravilhado com a beleza das flores que via pela primeira vez em sua vida, vida severina diria o poeta. E de fato severina era a vida do menino que jamais vira uma rosa. Sua severina vida só lhe apresentara espinhos, mas ele não sabia disso, pois era apenas um menino, não sabia que a vida das pessoas pode ser rosas ou espinhos. Nosso menino ainda guardava em si a beleza da inocência do ser menino. Da fome nunca reclamou, aos tombos cicatrizes e dores nunca se curvou. Já se descobriu na estrada sem saber de nada, de onde vinha ou para onde ia. Apenas ia. Caminhava sem saber em que estrada, andava pés descalços que nunca pisaram em asfaltos. Nosso menino era apenas um menino, apenas mais um menino andarilho sem partida e sem chegada. Apenas surgidos no tempo e espaço, vindos do nada. Ninguém se importa com o nada, e os meninos que são nada são invisíveis aos olhos dos que não se importam com o nada.
Nosso menino invisível, ali está ele sentado na lama embevecido pela beleza da flor desconhecida. Sente vontade de ficar mais perto delas, levanta-se, dá passos enlameados na direção da cerca viva que os separam mais para de repente. Fechou os olhos e aspirou fundo. O perfume das rosas foi lhe dar as boas vindas, e ele colheu para dentro de si cada partícula do delicioso aroma. Não sabia que o perfume saia das rosas, não sabia que o nome das flores era rosa. Ele sabia que as flores eram as mais belas que seus olhos viram, ele sabia que não existia em nenhuma outra estrada do mundo perfume mais doce. Passou pela cerca viva e confundiu-se com as rosas e seus perfumes. Saltava de alegria tanta que o chão temia. Acariciava as flores cuidadosamente, aproximava seu rosto sorvia mais perfume e sorria, e chorava alegria. Ali estava nosso menino entre as rosas, mais menino do que nunca. Ali estavam as roseiras com suas rosas mais rosas do que nunca.
Ali estava o espinho sempre espinho como sempre na vida do nosso menino. E o espinho era grande, e o espinho era o homem, e o espinho feriu a flor menino.
Só a chuva chora agora.