A Guilda dos Caçadores - Capítulo 7

O sol lançava seus primeiros raios quando o trio deixou a velha casa de Az, equipados com armas, ferramentas e suprimentos no geral (além de várias bugigangas que Azimute realmente achava necessárias). As entradas das misteriosas Cavernas Úr ficavam a noroeste de Fruehalf, a cerca de três dias e meio de viagem passando em meio da floresta bravia. Não era comum viajantes rumarem para as cavernas, portanto, não havia uma trilha certa a seguir. Guiavam-se pelas estrelas e pelos mapas e instrumentos que Azimute trazia. Toda a noite eles corrigiam sua rota e Az fazia anotações em seu “diário”. Powling questionara o motivo daquilo, ao que Az respondeu: “De que vale uma aventura quando não registramos nada dela?”. Chegaram às entradas das cavernas em quatro dias, pois haviam se desviado ao norte da rota original. O lugar era impressionante, totalmente selvagem por assim dizer. A floresta terminava abruptamente bem uns duzentos metros antes das cavernas, como se estivesse com medo de perturba-las, deixando limpo um amplo campo coberto de terra e pedra. As entradas estavam espalhadas de cima a baixo pela superfície de um paredão de rocha maciçairregular, algo parecido com um penhasco visto de baixo,indo desde pequenos a enormes buracos.

Chegaram com sol já baixo, então, decidiram acampar, mas fizeram isso longe das entradas. A sensação ali era pesada e nada convidativa, uma energia estranha vinda dos buracos negros do paredão cinza escuro permeava o local. Para fugirem disso, acamparam na floresta, que, apesar de seus perigos, parecia um lugar menos sinistro para passar a noite. Acordaram cedo ainda na escuridão, quebrando o jejum com pão e carne seca.

- Bom, agora nosso problema é descobrir qual entrada usar – Era clara a excitação na voz de Az.

- Isso vai dar trabalho. Lá deve ter mais de cem entradas. – Powling havia caçado duas codornas garantindo um bom almoço.

- Felizmente descobri algo no mapa enquanto viajávamos. Se vocês observarem os contornos do mapa irão perceber que há frases escritas em idioma antigo, que por sorte eu conheço – Powling e Lory estavam maravilhados com a habilidade necessária para fazer aquilo – Em miúdos, o que está escrito aqui é: Minha vida é feita de ciclosque me fizeram entrar em um mundo novo.

- Essa frase seria um enigma para a escolha da entrada? – Lory adorava enigmas.

- Pelo que percebi sim. Primeiro, a frase está bem onde nós achamos o mapa da caverna com as chamas verdes. E ela faz menção a ciclos, ou seja círculos, que para mim é algo alusivo a como a entrada da caverna deve ser, o que diminui as possibilidades. E a ideia de entrar em um mundo novo seria entrar na caverna certa.

- Certo, mas qual caverna é a certa? – Powling não tinha mente muito aguçada para enigmas.

- Esse é o problema, pelos desenhos não posso localiza-la – O tom de Az perdeu um pouco de sua excitação inicial.

- E se ciclos também querem dizer anos, ou seja, a idade de Nudge? Poderia nos dizerqual entrada devemos tomar – Lory propôs.

- Bom, segundo relatos,Nudge mandou fazer o mapa quando tinha 53 anos. Juntando tudo que temos, seria a caverna com entrada circular cinquenta e três –Az estava ponderando aonde isso os levaria.

- A partir de onde? – Powling queria ação, não resolver problemas.

- Bom, se olharmos para a frase, no mapa ela está escrita do sul para o norte, acho que essa é o sentido que devemos contar as entradas – Lory estava orgulhosa de estar ajudando.

- Me parece razoável, vamos tentar – Lory e Az concordaram com Powling e o trio dirigiu-se pera as obscuras cavernas.

Por sorte, ou propositalmente escolhido por Nudge, as entradas circulares estavam todas no nível do chão. Felizes por perceberem sua sorte, o trio dirigiu-se a ultima caverna ao sul com entrada circular e a partir dela andaram até chegaremem frente da referente a idade do famoso Nudge I.A entrada era baixa, cerca de um metro e meio, e assemelhava-se a um semicírculo irregular. Olhando em seu interior, perceberam que a caverna ficava mais ampla em sem interior, dobrando a direita ao fundo.

- Bom, acho que essa é a nossa entrada, o que acham? – Az lançou um olhar inquisitivo aos outros dois.

- É bem arriscado, mas escolhas é algo que não temos agora – Lory estava decidida que aquela era a entrada certa, e Powling e Az pareciam concordar com ela.

- Vamos nessa! – Powling se animou novamente.

- Vou marcar o caminho com pó de carvão, se nos perdermos acendemos a trilha e ele iluminará o caminho de volta, pelo menos em teoria – Az lançou um largo sorriso – Tenho o suficiente para uns novecentos metros, depois disso, teremos que confiar na memória espacial do Powling.

- Posso não ser bom em enigmas, mas sou bom em memorizar caminhos.

Voltaram ao acampamento e recolheram seus pertences, preparando-se para a jornada escura a seguir. Prepararam tochas e perto do meio dia, adentraram as Cavernas Úr. Az mantinha-se sempre atento ao mapa em sua mão, procurando identificar qualquer coisa que faria daquela caverna a errada. Felizmente, as curvas e cruzamentos que encontraram conforme adentravam mais afundo estavam de acordo com o mapa, o que aliviou a tensão do trio. Carregavam tochas robustas que afastavam de modo eficiente a escuridão, pelo menos no começo da exploração. Estranhamente, a luz que emanava das chamas clareava uma área cada vez menor, como se a escuridão estivesse ficando mais densa e pesada. A preocupação do trio era palpável e as poucas palavras que vinham trocando minguaram até restar só o silêncio sinistro da estranha caverna.

Avançavam lentamente, a claridade que produziam mal iluminava alguns passos a frente, quando uma voz cortante e rouca interrompeu o silêncio.

- Quem ousa invadir meus domínios? – O som da voz perpetuava-se de forma irregular pela caverna, sendo impossível localizar sua origem.

- Desculpe, não sabíamos que essas cavernas pertenciam a alguém – Az estava apreensivo.

- Isso não muda o fato de estarem invadindo – A voz parecia impassível.

- Só queremos chegar a Porcupine, não queremos causar problemas – Azimute fez sinal para continuarem seguindo em frente em passo lento.

- Entendo. Mas não dei permissão para continuarem seguindo! – Ao dizer isso as chamas das tochas dos três minguaram até quase só restarem brasas. O trio estacou, claramente a figura misteriosa possuía poderes mágicos.

- Nos perdoe. Apenas queremos chegar a Porcupine, nada mais – Az tentava reordenar seus pensamentos.

- Porcupine não é. Isso deve ter relação com os outros humanos que passaram por aqui a muitos anos – O trio entreolhou-se – Eles me avisaram que chegaria o dia que alguém passaria aqui novamente. Aliás, sou Maze, o guardião da entrada. Tenho mais anos do que posso contar, sou descendente dos elementais antigos – Um lampejo de compreensão passou pela mente de Azimute - Agora, vejamos: são dignos de continuar?

- Guardião Maze, se estou certo, para provarmos nossa dignidade você deve ler nossos espíritos.

- Certamente, mas para isso ser possível vocês devem me permitir fazer a leitura.

Os três trocaram olhares rápidos, parecia não haver outra escolha, como sempre. Os riscos de deixar alguém ler seu espírito ia da descoberta de algum segredo a perca de vitalidade.

- Maze; comece quando quiser – Todos os três imediatamente sentiram uma presença em suas mentes, ao que não repeliram, mas concederam entrada. Em poucos instantes a presença desapareceu de suas mente e as tochas voltaram a queimar e lançar sua claridade na caverna, que, para a surpresa de todos, estava totalmente diferente de antes das tochas quase se apagarem. Aparentemente haviam sido transportados sem perceberem.

- Está feito. Sigam em frente e logo chegaram a saída – A voz estava mais amena do que antes – Powling, seja mais paciente, a pressa pode arruinar muitas coisas.

O coração de Powling acelerou. O que Maze havia visto em seu espírito? De qualquer maneira, o conselho de um elemental é algo que não se descartava.

- Muito obrigado Guardião Maze. Foi uma honra encontrar com um elemental, espero encontrar mais de vocês.

- Provavelmente você irá. Nós não fomos totalmente extintos, como todos dizem. Agora, preciso ir. Boa sorte na sua jornada.

Seguiram em frente por alguns minutos até virarem à direita e enxergarem ao longe um pequeno ponto de luz, que foi aumentado conforme se dirigiam a ele. Em pouco tempo estavam do lado de fora da caverna aliviados por respirarem ar puro. O sol já estava baixo, haviam passado horas dentro da caverna, o que parecia não ter acontecido.

- Primeira parte concluída – Powling estava feliz por ter encontrado aquele elemental, sentia-se estranho, transformado de alguma maneira.

- E nem nos machucamos ainda – Lory falou aliviada, ao que Powling respondeu com um sorriso.

- O melhor de tudo é ganhar muito mais do que apenas ouro nessa busca – Azimute sempre valorizou os benefícios de uma boa aventura na formação de bons caçadores.

- Então, rumo a Porcupine! – Lory e Powling disseram em uníssono.

Gabriel Freitas
Enviado por Gabriel Freitas em 29/11/2013
Reeditado em 04/03/2014
Código do texto: T4592042
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