Filó
Filó sempre trazia consigo uma lembrança de sua avó, um rosário. Para ela, aquele rosário era a última ligação entre as duas. Foram muito felizes juntas.
Ela tinha medo de alma, mas a avó sempre a protegia, em noites de ventania, segundo falam populares, as almas estão soprando mais forte e nesses dias ela dormia com a avó.
Uma dessas noites faltou querosene, a ventania começou e a avó não estava em casa. Ela se desesperou, apavorada saiu correndo para fora de casa. Foi tragada por uma nuvem de poeira, fechou os olhos e sentiu que rolava por um chão gelado e muito liso. Um calafrio percorreu-lhe a espinha...
Lembrou-se do rosário!
Ainda de olhos fechados, apalpou o bolso, ele estava ali. Estava salva. Puxou o rosário, um forte clarão surgiu na tempestade e uma voz
de criança a chamava de mãe.
- Mãe, vem, tou te esperando.Tentou ver algo naquele clarão... surgiram uns caixinhos loiros e umas mãozinhas acenando. Ela tentou se equilibrar, mas rolou para o clarão. Ao aproximar-se, um calor forte a envolveu, ela sentiu-se em brasa. Depois sentiu uma onda refrescante a envolver.
Estendeu a mão, a criança correu e segurou forte. Ela conseguiu se erguer. A menina nada disse, apenas a puxou em direção de uma casa.
Uma porta rangeu, elas entraram. Sentada a mesa, estava sua avó, aquele senhor de bigodes que estava no quadro e muitas pessoas que ela não conhecia.
Sentiu uma paz profunda...
A criança a abraçou, pegou o rosário e o devolveu a avó. A avó a olhou e disse:
- Sente-se, estávamos esperando há muito tempo...
- Preciso voltar, meu pai precisa de mim, somos só nós.
- Seu pai também está vindo, finalmente vamos reunir a família mais uma vez...