A IMAGEM DA MORTE

A IMAGEM DA MORTE.

Uma informação para os meus leitores. Eu vi a morte. Não é a imagem escaveirada que se mostra em todas as gravuras que hei visto. Muito pelo contrário. É uma enormidade de corpo. Tão volumosa que espanta. De certo incorpora o mundão de gente que tem engolido desde que há gente e morte no mundo. O pescoço fininho, a cabeça miudinha que mal se percebe. O barrigão topando no chão quase não pode andar, arrasta-se lentamente. Imagino essa barriga quando o mundo se acabar. Não vai ter como comportar todas as pessoas. Nem que ela se desdobrasse em dez, em cem! Então, quando for o fim do mundo sobrará muita gente viva no espaço vago até que se crie outra terra para receber os expatriados. Ai apareça outra morte para engrolar as pessoas. Esta, de hoje, morre com o fim do mundo atual e todos os engolidos renascerão, suponho eu, para recomeçar a vida. Será outro mundo, mais suave, menos crespo que o atual

Falava da morte. Eu a vi de perto, bem pertinho.

- Chegou a tua hora, falou com um vozeirão de alma do outro mundo – chegou a tua hora repetiu e abriu uns braços daquele tamanhão para me pegar.

Apavorado eu gritei:

- São Pedro! Chega São Pedro!

Abriu-se um relâmpago que iluminou o ambiente de um azul de céu e soou uma voz:

- Com medo João? Ainda não é a tua vez. Quem virá te buscar sou eu. Acorda que está na hora da hidroginástica.

Acordei assustado, olhei o relógio, seis da manhã. Levantei-me fui para a bicicleta fixa pedalar como diariamente durante uma hora. A hidroginástica é à tarde. Em seguida à bicicleta a ducha, a refeição da manhã e este conto chocho como estou eu há acerca de seis, oito meses, nem me lembro exatamente quantos. Uma fratura na coluna que dificulta, quase impede a movimentação.

- Saio dessa, São Pedro, ou vou ficar da cadeira para a piscina e a bicicleta, para a mesa de refeições e a cama, com uma cinta segurando o lombo? Tu nunca me falhaste, Pedro amigo, pescador de almas! Põe-me de novo a caminhar na orla marítima como antes! Confio em ti, meu glorioso chaveiro de Cristo. De qualquer modo, quando chegar minha hora venha tu mesmo, feche-me os olhos de leve e eu acorde na Eternidade!

05-11- 2013